A educação se tornou o centro das atenções e de discussões acaloradas nos últimos 10 dias em Itabira, na Região Central de Minas. E nada ligado a desempenho de estudantes ou a projetos escolares. A nomeação da nova secretária municipal de educação fez reagir a cidade de Carlos Drummond de Andrade, situada a 100 quilômetros de Belo Horizonte. O motivo: sua orientação sexual. O prefeito foi para as redes sociais pôr um basta na história e dizer que não voltará atrás em sua decisão nem aceitará qualquer tipo de discriminação.
A professora Laura de Souza é docente da rede municipal de ensino desde 2009. Ela é também servidora concursada da Câmara Municipal, onde é diretora da Escola do Legislativo. No currículo, a secretária, que tomará posse no próximo dia 15, tem ainda o curso de letras, formação em gestão pública e é atualmente presidente do Conselho Municipal de Educação. Desde sua nomeação, no dia 24 do mês passado, ela vem sendo alvo de ataques em função de sua homossexualidade. Tudo começou com um vídeo postado por um político da cidade. “Ele assumiu a autoria e quer chamar atenção da direita radical”, afirma o prefeito Marco Antônio Lage (PSB).
Mas, a nomeação causou divergências também dentro do próprio gabinete. O vice-prefeito, Marco Antônio Gomes (PL), médico e pastor, se manifestou contra a escolha perante seus colegas líderes de igrejas evangélicas por meio de um áudio que vazou. Os opositores aproveitaram ainda para criticar o projeto de lei enviado há alguns meses pelo Executivo à Câmara criando em Itabira o Conselho Municipal LGBTQIA+. “Misturaram duas situações independentes e criaram junto ao povo evangélico a ideia de que tudo estava concluído para adotarmos nas escolas a ideologia de gênero, o que não é verdade”, declara o prefeito.
Segundo ele, a história avançou a tal ponto que foi necessário reação. A polícia chegou a ser acionada para investigar o caso. “Confirmei a nomeação, exigiram que eu voltasse atrás, não o fiz. E nesse meio tempo começaram reações do outro lado, criando clima favorável à indicação da secretária”, conta Lage. “Laura tem experiência em sala de aula, na educação pública e como gestora, além de participação ativa como presidente do conselho (de educação). É absolutamente credenciada para enfrentar os desafios que temos diante de nós, sendo o principal deles a retomada depois de dois anos longe das salas de aula por causa da pandemia.”
A rede municipal de Itabira conta com pelo menos 10 mil crianças. A retomada se dará, de acordo com o prefeito, com base em três pilares e o tempo integral. No contraturno, os alunos terão reforço escolar para compensar as deficiências de aprendizado ou melhorar o desempenho, arte e esporte. O investimento passará ainda pela reforma as 28 escolas da rede. Foram retomadas também as obras de quatro Centros Municipais de Educação Infantil (Cmei), paradas há cerca de cinco anos. O objetivo é vencer o déficit de 1,6 mil crianças de 0 a 3 anos fora da creche na cidade.