Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Como inteligência emocional e educação mudam a vida de crianças e jovens

 

 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), criada em 1996, é um documento que define os assuntos essenciais para a aprendizagem dos alunos, ao longo de toda a educação básica. Desde 2020, no que se refere ao Novo Ensino Médio, incluiu conceitos de inteligência emocional visando proteger a saúde mental dos alunos contra o bullying. 





 

No entanto, mesmo com a determinação da BNCC, em vigência desde 2020, no começo deste ano já foram registrados casos de instabilidade emocional em crianças e adolescentes. No dia 23 de março, um aluno de 13 anos do colégio Santa Dorotéia, no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, levou uma granada para a escola. 

 

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, é na infância que as pessoas constroem boa parte das relações sociais. As competências socioemocionais - autoconsciência, autogestão, consciência social, tomada de decisão responsável e habilidades de relacionamento - devem ser trabalhadas em todas as disciplinas. A educação socioemocional pode auxiliar no processo de entendimento e manejo das emoções, com empatia e pela tomada de decisão responsável. 


O episódio envolvendo o adolescente com a granada evidencia a importância da comunicação entre aluno, escola e pais, com um acompanhamento próximo, não somente das competências de estudo, mas também de relacionamento. Eles destacam ainda que o isolamento da pandemia pode ter criado um distanciamento nas relações entre os alunos. 





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Relações interpessoais 

 

 


Andréia de Assis Ferreira, pós-doutoranda em educação e professora do Centro Pedagógico da UFMG, argumenta que certamente um jovem com oportunidade de desenvolver sua inteligência emocional terá mais facilidade de se expressar, gerenciar suas emoções e ter empatia nas relações interpessoais. 

 


Para ela, a educação emocional deve ser uma competência multidisciplinar. “Deve ser trabalhada não como um ‘conteúdo a mais’, mas sim, relacionada transversalmente aos demais conteúdos da grade curricular.”


Sobre o jovem de 13 anos que levou uma bomba para a escola, a educadora explica que "a escola e a família são espaços privilegiados para mediações no campo da violência. É importante promover ações educativas que tratem de temáticas como segurança, violências sofridas e praticadas na escola. Há uma relação intrínseca entre a rede de violência social e o cotidiano das crianças e jovens, inclusive no espaço escolar." 

Escola e família

A escola de método natural "Arvense", de Brasília, incorporou ao seu sistema educacional e de comunicação o programa sócio emocional A+ Humano, oferecido pela Plataforma A +, hub de soluções, que reúne ferramentas de gestão, de aprendizagem, de comunicação e de conteúdo — da Educação Básica ao Ensino Superior. 





Criado em parceria com a Educa 21, por Rossandro Klinjey, o A Humano reúne uma série de recursos para aplicação em sala de aula, que auxiliam na construção da educação socioemocional das crianças. Além disso, o programa  conta com conteúdo para pais e professores por meio de uma escola de educação parental e para educadores, além de uma trilha de material de apoio complementar.


O CEO da Plataforma A +, Alexandre Sayão, argumenta que, depois da família, a escola é um dos ambientes mais influentes para as crianças, pois é lá que elas constroem boa parte das relações sociais. “Por isso, contar com uma equipe escolar bem preparada é primordial para que as crianças consigam construir habilidades socioemocionais que as ajudem a desenvolver autocontrole, autonomia, resiliência, solidariedade e empatia.”


Melhor desempenho no trabalho

Patricia Lisboa, head de  treinamento e desenvolvimento na Tailor Made For People, especialista em RH e gestão de pessoas, mentora e psicanalista, define que podemos entender a inteligência emocional por meio do comportamento de cada pessoa, como as ações e reações a determinadas situações.





 

“A grande questão da inteligência emocional não é não ser afetado pelas emoções, é justamente sobre ser afetado e saber lidar com esses sentimentos. Pessoas que são muito reativas, explosivas, que ficam muito abaladas com qualquer situação são indicadores de que não tiveram inteligência emocional trabalhada na escola”, pontua.  


A head pondera ainda que, em situações de conflito, pessoas com inteligência emocional bem desenvolvida têm mais chances de resolver conflitos facilmente. “Pessoas que conseguem lidar com atribulações, que passam pelos desafios de uma forma mais ponderada e equilibrada, têm um sinal muito forte de que ela consegue trabalhar bem sua inteligência emocional.” 


O mercado de trabalho deseja profissionais que tenham inteligência emocional, porém, para Patricia, a empresa também deve ter um papel ativo nessa formação. “As empresas precisam entender que os seres humanos são compostos de emoções, vulnerabilidade e individualidade. A pandemia escancarou essa questão de uma forma muito absoluta. O primeiro passo para as empresas seria estabelecer segurança psicológica dentro do ambiente de trabalho. Acolher o colaborador integralmente, se interessando pela atividade profissional e pelo ser humano. Além disso, proporcionar um ambiente em que o colaborador sabe que pode ser ele mesmo, e que pode falhar, que será acolhido.”

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.