“Nossos resultados revelaram um melhor entendimento de como as pessoas estão afetando a Amazônia e seu ecossistema”. O professor Cássio Alencar Nunes, da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Lancaster University no Reino Unido, em parceria com outros acadêmicos, acaba de publicar um artigo na 'Proceedings of the National Academy of Sciences' sobre o desmatamento e a transformação de parte da Floresta Amazônica em áreas de pastagens (leia o artigo, em inglês). O estudo foi concentrado em dados coletados nas regiões de Santarém e Paragominas, no Pará.
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Indígenas ganham oportunidade de curso gratuito oferecido pela Embaixada dos EUAProfessor de Engenharia Mecânica dá dicas de como economizar combustívelMais novo aprovado em vestibular de medicina tem 13 anos“Enquanto o maior foco tem sido no desmatamento, sabemos que as paisagens de florestas tropicais estão sendo alteradas por uma gama muito maior de atividades humanas. As modificações incluem desmatamento e degradação de florestas primárias, por exemplo através de corte seletivo e fogo”, explica o professor.
No levantamento, a equipe constatou que entre 2006 e 2019, 24 mil quilômetros quadrados de florestas se transformaram em pastagens e em terras de agricultura mecanizada. Com isso, a biodiversidade diminuiu radicalmente, com espécies nativas se tornando praticamente extintas. Além disso, a diversidade de formigas e pássaros reduziu em 30% e 59% respectivamente, no período.
“O desmatamento de florestas primárias para criação de pastagens é a mudança de uso do solo mais prejudicial na Amazônia Brasileira. Isso ressalta a importância crítica e urgente do combate ao desmatamento, que vem aumentando nos últimos anos”, destaca.
Cássio explicou que desde 2012, quando os níveis de desmatamento da Amazônia foram os menores da história, há um crescimento no total de florestas desmatadas. “Pudemos observar uma tendência de aumento na conversão de florestas para pastagens na última década. Essa tendência está seguindo o padrão do desmatamento em geral, que atingiu o menor valor em 2012 e vem aumentando desde então”, diz o pesquisador.
Importância das florestas secundárias
No estudo que o professor da UFLA, Cássio Alencar Nunes, participou também foram analisados os dados de florestas secundárias, que são áreas que foram desmatadas e que, após um período, passaram por um novo plantio.
No trabalho, os pesquisadores descobriram que após 20 anos do plantio, dobrou o número de árvores grandes e se observou um crescimento de 55% nas árvores pequenas. Segundo a pesquisa, isso traz ganhos de biodiversidade e maior armazenamento de carbono.
“Estas são descobertas importantes, pois mostram que há uma infinidade de ações que podem ser tomadas para proteger e melhorar a ecologia da Amazônia. Ao reduzir a quantidade de terra que é convertida para agricultura mecanizada e permitir que as florestas secundárias voltem a crescer, podemos obter ganhos significativos de restauração ecológica na Amazônia”, afirma.
Na entrevista, o professor negou que falte políticas para a proteção da floresta. Na avaliação de Cássio, o que falta é interesse em proteger a Amazônia.
“Nós temos políticas, ferramentas e tecnologias que nos auxiliam a monitorar o desmatamento. No entanto, atualmente há uma fraca governança ambiental associada a uma falta de investimentos para fortalecer a fiscalização e combate do desmatamento em campo. Também faltam investimentos para favorecer a regeneração das florestas secundárias e políticas que as protejam e permitam que elas amadureçam”, aponta Cássio.
Mesma visão que tem o professor da Lancaster University, Jos Barlow, co-autor da pesquisa. “Nossos resultados enfatizam mais uma vez a importância de combater o desmatamento, bem como os benefícios adicionais de evitar a degradação e aumentar a permanência das florestas secundárias. No entanto, alcançar isso exigirá transformar a maneira como a Amazônia está sendo gerenciada atualmente, incluindo uma integração muito maior entre ciência, política e práticas locais”, afirmou o pesquisador inglês.
Por fim, Cássio destacou que o objetivo do grupo é aumentar a pesquisa, coletando dados de outras regiões da Amazônia. "A ideia é tentar entender as ameaças que a Amazônia como um todo está sofrendo e para isso nosso grupo de pesquisa atua em diferentes partes da Amazônia Brasileira. Nosso grupo de pesquisa está sempre empenhado em gerar conhecimento sobre as ameaças e oportunidades para tornar a Amazônia mais sustentável”, destacou o professor, que faz parte da Rede Amazônia Sustentável, grupo que reúne mais de 30 pesquisadores sobre a floresta.