*Conteúdo produzido por Flávio de Castro
As férias estão chegando. Na grande maioria das escolas, colégios e cursos pré-vestibular é tempo de recesso, ou seja, uma pausa de aproximadamente quinze dias entre julho e agosto. Para muitos estudantes é um momento muito esperado, pois é chegada a hora do merecido descanso; para outros é uma época de apreensão, pois a ausência de aulas e atividades programadas pode indicar uma interrupção nos estudos.
Será que não existe um meio-termo? Ou é tudo oito ou oitenta? Há uma famosa frase atribuída ao médico e filósofo renascentista Paracelso que diz “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.” E o que será que isso quer dizer? Vejamos.
Comecemos pela opção de estudar nas férias. Fazer revisões, aulas particulares, listas infindáveis de exercícios, leituras de resumos, assistir vídeo-aulas etc. Pode ser bastante proveitoso, mas será que é o ideal? Será que abrir mão dos momentos de lazer, do convívio com os amigos e familiares, da mudança saudável de rotina, das atividades ao ar livre? Creio que assim como ocorre no esporte, pode acontecer aquilo que se chama de “overtraining”, isto é, uma consequência negativa do excesso de atividades intelectuais. Imagine só, passar quinze dias estudando em período integral e chegar no segundo semestre sem ter descansado, sem ter relaxado ou espairecido. Pois é justamente no segundo semestre que as aulas voltam com tudo, com conteúdos importantíssimos em quase todas as matérias. Será que dá pra acompanhar? Será que sobra energia se não houve repouso? É para se pensar.
Às vezes estudar sozinho pode gerar alguma angústia, pois não há com quem tirar dúvidas ou mesmo alguém para compartilhar nossos erros e acertos (lembre-se que os colegas e professores também estarão de férias e não é lá muito elegante incomodá-los durante esse período, não é mesmo?). Enfim, o percurso solitário pode ser estressante, confuso e cansativo. Afinal, se fôssemos capazes de estudar sozinhos, não haveria necessidade de aulas, plantões, monitorias etc.
Por outro lado, temos a tentadora possibilidade de chutar o balde e passar longe dos livros, cadernos e apostilas. E dá-lhe Netflix, Spotify, videogame, balada, esporte, namoro, passeio, anime, rpg, academia, violão, piscina, buteco, pizza, bike, baile, fazenda, patins, churrasco, museu, sorvete, mangá, cachoeira e tantas outras delícias da vida ociosa! Ainda mais se considerarmos que o primeiro semestre foi muito cansativo e que todo descanso e lazer são mais que merecidos. O filósofo grego Epicuro refletiu muito sobre o sentido do prazer na existência, considerando que alguns tipos de práticas fazem da vida uma experiência mais saudável e significativa. Todavia o pensador alertava para a necessidade de parcimônia e autocontrole, pois uma vez que o prazer se transforma em excesso, ele perde seu sentido e pode até se transformar em aflição.
Voltemos, então, à premissa inicial: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.” Talvez o melhor mesmo seja alternar os momentos de merecido descanso com alguns instantes de estudo para não perder o ritmo. Quem sabe estudar no sistema dia sim, dia não? Ou dia sim, dois dias não? Alternar prazeres e tarefas. Por exemplo: a cada temporada de série assistida, escreva uma redação. Ou então negocie consigo mesmo generosas recompensas: “se eu revisar revolução industrial e leis de Newton, me permito ficar dois dias em completo ócio contemplativo!”. Ou ainda “se eu fizer dez exercícios de botânica, cinco de funções da linguagem e mais cinco de trigonometria eu ganho um salvo conduto pra cair dois dias na gandaia”.
A vida é uma só. Não podemos deixar a felicidade de lado e nem nos privar da companhia de quem tanto amamos. Este é um ano atípico, de muito estudo e dedicação, mas convém cuidar também do corpo e do coração. Então pegue seu violão e suas apostilas; pegue sua bicicleta e seu livros, pegue seu videogame e suas listas de exercícios; pegue seus animes e seus resumos e se prepare para ter quinze dias de paz consigo mesmo. Boas férias!
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