*Conteúdo produzido por Flávio de Castro
Produzida pela poderosa 02 Filmes, a série foi criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, roteirizada por Fernando Garrido e Erez Milgrom e dirigida por Fábio Mendonça (de “Vale dos Esquecidos”) e Aly Muritiba (de “O Caso Evandro”). A esse time de peso está somado um elenco brilhante. O ator Allan de Souza faz o papel do protagonista Ubaldo, um ex-bancário e militar reformado que parte de São Paulo para a fictícia cidade de Cratará, no sertão cearense, onde tenta receber uma herança esquecida. Lá ele acaba se reconectando desastrosamente com suas irmãs Dinalva e Dinorah (interpretadas magistralmente por Thainá Duarte e Alice Carvalho) e termina por se associar a uma violenta quadrilha de assaltantes de bancos que atua nas cidades do interior do estado.
A série, um fenômeno de audiência em cerca de 40 países, leva em consideração dois fenômenos da violência e do banditismo no Brasil:
1. o Cangaço propriamente dito, que assolou o nordeste do país com seus bandos organizados de cangaceiros, que promoviam assaltos, invasões, sequestros, homicídios e agressões diversas. O bando cangaceiro mais conhecido de todos foi aquele liderado por Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, morto no Sergipe em 1938. O termo cangaço deriva de “canga”, acessório utilizado na cabeça do gado que serve para o transporte de carga. Como os cangaceiros eram praticamente nômades, eles levavam seus objetos de uso pessoal pendurados ou amarrados ao corpo.
2. o Novo Cangaço, fenômeno que se iniciou na década de 90 no nordeste do Brasil e se espalhou por outras regiões do país. São quadrilhas fortemente armadas e motorizadas, que sitiam cidades do interior com um objetivo definido: assaltar agências bancárias e caixas eletrônicos. O assaltante potiguar Valdetário Carneiro, um ex-mecânico que teria sido responsável por cerca de 100 assaltos a banco, é considerado o precursor desse movimento. O bandido foi morto pela polícia em 2003.
Em comum, os dois fenômenos do banditismo possuem: a organização em bandos de dez a vinte indivíduos, o uso de extrema violência (com requintes de crueldade) e a ação exclusiva em cidades do interior do país. É possível pensar o fenômeno do cangaço a partir das condições sociais que o Nordeste enfrentou após abolição da escravidão: desigualdade social, concentração de terras, coronelismo e grilagem. Esse contexto, de um modo geral, pode ser cobrado nas provas do ENEM e dos principais vestibulares do Brasil, como já aconteceu, por exemplo, numa questão da prova de 2017 que especulava sobre o papel das mulheres no cangaço.
O fenômeno do banditismo social foi estudado e referenciado por Eric Hobsbawm, em seu livro “Bandidos”, de 1969. Segundo o historiador britânico, a organização dos ditos bandidos sociais ocorre em função da progressiva tomada da consciência de classe por indivíduos que decidiram usar da violência e da delinquência como formas de protesto social, que almejavam transformações econômicas e políticas em seus contextos de origem. No entanto, é equivocado “romantizar” movimentos como o cangaço e associá-lo ao arquétipo inocente do Robin Wood benfeitor dos pobres do sertão. Como foi dito, os bandos eram – e ainda são – muito violentos e cruéis. Ainda que subtraiam recursos de grandes proprietários e corporações financeiras, os bandos não hesitam em barbarizar e agredir cidadãos inocentes, trabalhadores e homens do povo. Como se vê, é um assunto complexo que merece estudo e reflexão. Assistir à série Cangaço Novo pode ser uma forma divertida e empolgante de adentrar nesse universo tenso, contraditória e fascinante – e ainda por cima ajuda a estudar para o vestibular.
Questão do Enem para você treinar
06. (ENEM 2017) Elaborada em 1969, a releitura contida na Figura 2 revela aspectos de uma trajetória e obra dedicadas à:
A.Valorização de uma representação tradicional da mulher.
B.Descaracterização de referências do folclore nordestino.
C.Fusão de elementos brasileiros à moda da Europa.
D.Massificação do consumo de uma arte local.
E.Criação de uma estética de resistência.
Resposta: Letra E
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