A defesa do presidente Jair Bolsonaro de não politizar a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe grande expectativa em relação ao tema. Democratização do acesso ao cinema no Brasil é um tema social e a reflexão deve passar por uma avaliação crítica. Os professores ouvidos pelo Estado de Minas lembram que os candidatos devem fazer redação dissertativa, o que faz com que os argumentos passem necessariamento pela reflexão sobre à falta de acesso no país. "Todo tema do Enem é político, mas esse não deve levantar polêmica", afirma Janiny Nominato professora de redação da rede Chromos.
Janiny lembra que os alunos podem argumentar que a Constituição Federal de 1988 garante acesso pleno à cultura, inclusive ao cinema. Um caminho sugerido para problematizar é apontar que o acesso ao cinema ocorre de forma desigual entre as regiões do país.
"O argumento pode partir de um viés geográfico. No nosso país, o Norte e Nordeste têm menos locais de acesso do que o Sul e o Sudeste", afirma. Ela lembra que o candidato precisa expressar opinião, sem ferir os direitos humanos.
Para ter uma boa pontuação o aluno deve apresentar uma proposta de intervenção. "O candidato pode apresentar alternativa para minimizar os impasses, os problemas relacionados ao tema. Ele pode sugerir a criação de um vale cinema ou pode solicitar ao governo criação de disciplina nas escolas para falar sobre cinema", diz Janiny. Ela não se surpreendeu com o tema, que inclusive foi trabalhado em sala com os alunos da Rede Chromos.
Para Anna Carolina Araújo, supervisora de redação da rede Coleguium, o assunto surpreende, mas traz menos dificuldades que o do ano passado, quando o Inep colocou a “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados da internet” em pauta.
Segundo Anna, uma estratégia que pode trazer sucesso aos estudantes é construir a argumentação a partir dos filmes nacionais de projeção mundial. “Faria uma introdução por flash, dando exemplos de filmes nacionais que alcançaram projeção internacional, mas que retratam realidades nacionais”, explica a especialista, citando títulos como “Cidade de Deus (2002)”, “O Auto da Compadecida (2000)” e “Central do Brasil (1998)”.
Quanto a possíveis “pegadinhas”, Anna contou que uma dificuldade pode ser uma eventual referência ao Ministério da Cultura como agente fomentador do cinema. Isso porque a pasta deixou de existir no governo Jair Bolsonaro (PSL).
Por isso, o ideal é que o aluno se refira à Agencia Nacional do Cinema (Ancine). “Definir o agente é uma dificuldade, porque nem todo mundo conhece a Ancine, apesar dela ter vindo à tona recentemente, há dois meses, com polêmicas sobre filmes LBTBQ e censura. Quem falar da Ancine, com certeza, se deu muito bem”, ressalta Anna Carolina Araújo.
Outro possível erro, segundo Anna Carolina, é que o estudante se concentre na arte como um todo, de maneira ampla, e desvie do assunto principal, que é o cinema como transformador social.
A professora ainda pontua a necessidade do pautar políticas públicas para facilitar o acesso da população em vulnerabilidade social ao cinema.
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