Jornal Estado de Minas

História do Brasil

Há meio século morria o Almirante Negro que quase bombardeou o Rio de Janeiro

Há 50 anos atrás, morria, aos 89 anos, um dos líderes da Revolta da Chibata, o marinheiro João Cândido Felisberto no Rio de Janeiro. Ele foi responsável pelo levante que denunciou o uso da violência dentro da Marinha do Brasil contra marinheiros de baixa patente, normalmente formada por negros e pobres. Entre as reivindicações dos rebelados estavam o fim dos castigos físicos contra os marinheiros, melhor alimentação e a adoção da lei de ajustes de horários, já aprovada pelo Congresso.


Foto rara durante a Revolta da Chibata com João Cândido no centro. A crueldade contra os marinheiros de baixa patente amotinou os navios de guerra mais poderosos da armada brasileira. (foto: O Malho)

Punição física contra os marinheiros negros e pobres

O início do movimento foi a punição de 25 chibatadas imposta ao cabo Marcelino Rodrigues Menezes. Até hoje, quase 110 anos depois, não se sabe ao certo o que levou o comandante do encouraçado Minas Gerais, João Batista das Neves, a ordenar o castigo: a suspeita de ter embarcado, às escondidas, com duas garrafas de cachaça; a acusação de ter agredido outro cabo com uma navalha; ou um pouco dos dois.
Placa em homenagem a João Cândido no Rio de Janeiro. Sua anistia só foi concedido em 2008 pelo então presidente Luis Inácio Lula e, apesar disso, a Marinha do Brasil não o reconhece e se recusa a reincorporá-lo após a morte. (foto: Andrevruas )

O fato é que, no dia 21 de novembro de 1910, a sentença imposta a Marcelino, amarrado a um mastro do convés e nu da cintura para cima, revoltou um grupo de marinheiros negros que, cansado de sofrer castigos físicos de seus oficiais brancos, resolveu organizar um motim.

O motim que quase bombardeou o Rio de Janeiro

No dia 22 de novembro de 1910, o grupo de 2.379 marinheiros liderado pelo cabo João Cândido tomou o controle do navio, matou o comandante e mais três resistentes ao movimento. Aos gritos de "Viva a liberdade!" e "Abaixo a chibata!", a marujada içou bandeiras vermelhas de insurreição, rapidamente, outros navios aderiram ao movimento: o Bahia, o São Paulo e o Deodoro - causando pânico geral na cidade do Rio de Janeiro. Os marinheiros viraram os canhões dos navios em direção à cidade e ameaçando bombardeá-la caso o presidente Hermes da Fonseca não negociasse com os rebeldes. A revolta terminou no dia 26 de novembro, com o anúncio de uma trégua: foi prometido o fim dos castigos físicos e também a anistia dos rebeldes.


A traição e o fim dos amotinados 

Porém, depois que os marinheiros entregaram as armas, eles foram traídos pelo governante, que expulsou os revoltosos das Forças Armadas. A traição resultou em outro levante, em dezembro, na Ilha das Cobras. Contudo, esta última não teve grande apoio, e os revoltosos foram massacrados. Dois anos depois, os marinheiros presos que sobreviveram às torturas foram absolvidos. Após as rebeliões, finalmente, o governo deu fim às punições físicas em alto mar e aprovou melhorias na condição de trabalho dos marinheiros. João Cândido, o líder da Revolta da Chibata, conseguiu anistia. Apesar de seu feito contra a opressão, morreu anônimo e pobre, como carregador de peixes no Rio, em 1969. A conhecida música “O Mestre-sala dos mares”, de João Bosco e Aldir Blanc, foi composta em homenagem a João Cândido, conhecido também como o Almirante Negro.
 
Artigo de História do Brasil do Percurso Pré-Vestibular e Enem