Jornal Estado de Minas

Det na Estrada

Passei em Engenharia na UFMG

Não dá para falar aonde estou sem falar de onde vim. Sou filha de agrônomos e, por isso, nasci e morei até meus 7 anos na fazenda, subindo em árvore, andando a cavalo e muito feliz. Depois me mudei pra Janaúba, uma cidade pequena no norte de minas, famosa pelo calor e pelo pequi (leia-se piquí- aqui não há discussão). Estudei sempre na mesma escola, conhecia todos os professores e todos os funcionários. Boa parte dos amigos que tenho hoje, conheci ali. Apesar de não ser a melhor aluna da sala, eu fazia os deveres, amava matemática, charadas e sudoku.




 
Quando fiz 15 anos, meus pais deram a mim e a minha irmã a oportunidade de mudar pra BH para continuar o ensino médio no Colégio Santo Antônio. À primeira vista, para quem ouve essa história, parece que é um sonho. Morar sem os pais, em uma cidade grande (enorme para os meus parâmetros de interior), no auge da adolescência. Mas já adianto que foi bem diferente. Apesar do CSA ser famoso por ser um colégio exigente, eu não sabia aonde eu estava me metendo (e que bom!).
Turma da estudante no Colégio Santo Antônio em Belo Horizonte. (foto: Arquivo Pessoal)

O início foi um caos: nota baixa, desespero, vontade de desistir e voltar para casa. Até em matemática, que eu me julgava boa, eu derrapava. Eu, que nunca tinha sido muito estudiosa, fiquei desesperada. Não sabia nem por onde começar a estudar. Comecei a ir às monitorias do colégio para tirar minhas dúvidas (que muitas vezes eram de assuntos que que meus colegas tinham aprendido anos antes). E numa dessas monitorias, conheci Sara. Sara além de me apresentar seus amigos (que viraram meus também), me apresentou o Renato, a Maria Raquel e o Determinante.
 
Renato, além da didática e da capacidade de fazer até logaritmo parecer fácil, foi um dos professores mais dedicados que já tive. Genuinamente preocupado com seus alunos e disposto a ensinar e repetir -quantas vezes fossem necessárias- as resoluções dos exercícios. Isso sem falar do bom humor e das brincadeiras, que deixavam nossos domingos mais leves. Acho que ele acreditava em mim mais do que eu mesma. Obrigada, Renato!
 
No Determinante, também fui aluna de redação da Maria Raquel. Quantas manhãs de sábado passamos juntas. Não sei como, mas essa mulher conseguiu me ensinar a escrever (e o melhor: a gostar de escrever). Maria Raquel ensinava com destreza sobre as “regrinhas” da redação do ENEM. Mas muito além disso, Maria Raquel ensinava sobre humanidade, sobre geografia, economia e política. Nos abria a cabeça para sermos melhores e mais preparados para a vida.




 
Foram meses de muito estudo, horas a fio tirando dúvidas no Determinante, infinitas listas de exercício, estresse e crises de riso, vários simulados, até que o dia do ENEM chegou. Misto de alegria, alívio e incerteza. Mais alguns meses de ansiedade e tcharam: aprovada em Engenharia de Produção na UFMG.

E começaram então os cinco melhores anos da minha vida até aqui. Tudo era novidade: desde o campus enorme, com prédios coloridos e arquitetura um tanto quanto particular, até a grade do curso que só tinha sigla – era um tal de GAAL, PO, PCP, CEQ, FundMec, MecFund, etc. Mas logo, eu também já estava conversando em códigos e conhecia boa parte do campus, apta a escrever um guia gastronômico da UFMG (macarrão da letras, sanduiche da FACE, e lista é longa...)

Nos primeiros anos da faculdade fiz parte da CTIT (hoje Inderios), grupo de alunos multidisciplinar que presta consultoria em gestão para pequenos negócios, e fui voluntária na Engenharia Solidária. Além disso, organizei a 2ª edição do Impacte, um evento incrível de empreendedorismo social, e participei de um programa de mentoria para negócios do Aglomerado da Serra, por meio da ONG FA.VELA. Ainda no mundo dos projetos sociais, tive a oportunidade de morar 2 meses em Hanói, capital do Vietnam, participando de um projeto voluntário para crianças e jovens, junto com mais 7 estudantes de diversos países.




Viagem de Maria a Hanói (Vietnam) em projeto social. (foto: Arquivo Pessoal)

Fora da faculdade, fiz três estágios. O primeiro foi um estágio de férias na KraftHeinz, famosa pelo melhor ketchup do mundo (clubista), onde eu era responsável por desenvolver um projeto para redução de custo de usinagem da fábrica de Nerópolis-GO. Logo depois desse estágio, em 2018, tive a oportunidade de fazer um ano da minha faculdade em Dresden, no leste da Alemanha, por meio de um programa de intercâmbio da UFMG. Fiz amigos de todas as partes do mundo, viajei muito, visitei empresas alemãs e aprendi a valorizar ainda mais o nosso país. 

Voltei do intercambio direto para o meu último ano de faculdade, quando  comecei um estágio na área de preço e inteligência de mercado na Ambev, apoiando a área de vendas da regional de Minas Gerais. Foi uma experiencia intensa, conheci pessoas espetaculares e fiz bons amigos, mas resolvi me aventurar em uma carreira um pouco diferente. Na reta final da faculdade, entrei na Falconi, empresa de consultoria que surgiu dentro da UFMG há mais de 30 anos e hoje é referência em gestão no Brasil. Sigo aqui, me desenvolvendo e trabalhando para gerar um impacto positivo no mundo. 

Não sei colocar em palavras o quão grata eu sou por todos que passaram (e muitos permanecem) na minha vida durante esses desafios! Sempre digo que a UFMG é uma escola para vida, principalmente quando não estamos na sala de aula. A oportunidade de conviver com pessoas de fora da sua bolha, de aprender a se virar, de participar de discussões importantes e de se envolver em projetos extracurriculares relevantes não tem preço. 
 
Sigo com a convicção de que o caminho se faz ao caminhar, e nesse caminho nunca me faltou pessoas que acreditaram em mim: minha família, meus amigos e meus professores. Que grande é ter vocês comigo!
 
Artigo da engenheira Maria Ribeiro.




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