O que um conflito civil na Síria, uma crise política e econômica na Venezuela e a ocupação do regime talibã no Afeganistão têm em comum? Infelizmente, uma das maiores crises humanitárias do século XXI: a crise dos refugiados.
Dados da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) expõem que o número de refugiados nos últimos 10 anos cresceu em cerca de 50% (2019), e a recente chegada do regime Talibã no Afeganistão pode alavancar ainda mais essa porcentagem. Segundo a ONU, o mundo experiencia a pior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. Mas, antes de adentrarmos sobre os fatores e as consequências dessa crise, vamos nos atentar para a definição do termo refugiado ok?
Conforme a ACNUR, o conceito de refugiado é designado para um grupo de pessoas que estão fora de seu país de origem em decorrência de temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à greve e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados.
No segundo decênio do século XXI, os casos mais noticiados acerca dos refugiados foram os ocorridos em 2010 com o terremoto no Haiti, em 2012 com o desdobramento da primavera árabe no Oriente médio, em 2016 com a crise política e econômica na Venezuela, e, mais recentemente, em 2021 com a chegada do regime Talibã sobre o Afeganistão. Nota-se, diante dos exemplos supracitados, os diferentes motivos causadores dessas situações, o que torna o tema complexo e abrangente sendo, portanto, passível de discussão internacional devido à relevância das circunstâncias.
Segundo a CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), entre o ano de 2011 e 2020, foram reconhecidas cerca de 58.000 pessoas refugiadas no Brasil, e os pedidos da condição de refúgio aumentaram nos últimos três anos, sendo que o maior número de refugiados vem da Venezuela e da Síria, e a faixa predominante de idade encontra-se entre 25 e 39 anos. Dos países que mais recebem refugiados venezuelanos há de se destacar a Colômbia com cerca de 1,80 milhões de refugiados e o Peru com cerca de 830 mil venezuelanos. O Brasil encontra-se na quinta posição com cerca de 48 mil refugiados. Já no caso dos refugiados sírios, o país que mais os recebeu foi a Turquia, com mais de 3,5 milhões.
É grande a quantidade de refugiados nos países limítrofes, mas as rotas migratórias não se restringem a essas regiões. No ano de 2016 ocorreu o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, e grande parte da população que votou a favor do Brexit sustentava como um dos argumentos a necessidade de se criar um controle migratório próprio, diferente do que era adotado pelos países pertencentes a U.E – isso se deu após a chegada de imigrantes vindos do oriente médio no país. No Brasil, em 2018, o então presidente Michel Temer (filho de imigrantes libaneses) assinou um decreto autorizando as forças armadas a reforçar a segurança no estado de Roraima após venezuelanos serem agredidos e terem suas barracas
queimadas na cidade de Pacaraima. Em setembro do mesmo ano, ele também discursou na ONU sobre o combate a intolerância aos refugiados.
Como visto, além da barreira migratória imposta por alguns países após a crise dos refugiados, tornou-se evidente também o crescimento da xenofobia, e em muitos países ocorreu a ascensão de movimentos neonazistas (há de se lembrar da passeata em Charlottesville, no estado da Virgínia em 2017). Assim, a crise é algo que dificilmente terá um fim e que, diante da pandemia, se agrava ainda mais já que os refugiados, antes expostos por situação de guerra em seus países, agora encontram-se expostos pelo vírus da COVID.
Artigo escrito pelo Prof. Jhonathan Magalhães (Percurso Educacional)