Meu nome é Gabriella e gostaria de compartilhar com vocês um pouco da minha história com a medicina, que fala muito sobre dificuldades e angústias, mas, também, sobre resiliência e sucesso.
Tudo começou no ensino médio, período em que percebi que queria ser médica. Não fui aprovada logo de cara e, assim, fiz dois anos de cursinho em um preparatório tradicional em BH. Apesar de toda a bagagem teórica e preparação que consegui ali, fui aos poucos perdendo minha saúde mental. Só quem já passou por um ambiente de pré-vestibular sabe o quão desgastante e pesado pode ser essa trajetória, que além de exigir muito do intelecto e do físico, exige também saúde mental para lidar com toda a pressão e cobrança. Apesar do meu ótimo desempenho nos vestibulares e de aprovações em faculdades particulares, optei por continuar estudando para realizar meu sonho de ser aprovada em uma universidade federal. No ano seguinte, decidi tentar outra proposta e fui para o cursinho Determinante. Além da excelente qualidade de ensino, ali fui recebida com um ambiente completamente acolhedor e estive cercada de pessoas incríveis que acreditavam incansavelmente no meu potencial e me abraçaram como família. Entretanto, o ano de 2018 trouxe vários desafios em minha vida pessoal: muitos problemas familiares e uma depressão, as quais atrapalhavam meu ânimo e minha força em continuar buscando minha aprovação e, infelizmente, esse ainda não foi meu ano.
Em 2019 resolvi insistir pela última vez. Minhas notas nos simulados eram ótimas e eu acreditava que aquele seria meu ano. Porém, no dia da prova fiquei tão nervosa que deixei minha redação e o meu gabarito em branco. Me lembro de ter tido o choro mais doído de todos e o sentimento angustiante do fracasso. Sem forças para insistir, me matriculei na PUC Minas no curso de medicina com financiamento. Já na faculdade, com mil disciplinas e com toda a cobrança, resolvi me inscrever para o Enem. Lembro de ter pensado “vamos ver o que acontece”. No dia da prova, mesmo sem estudar nada para o vestibular há um ano, fiz minha prova tranquilamente e sem pressão. Resultado: 960 na redação e minha melhor média em todos os anos de vestibular. Apesar de já estar há 2 anos na PUC Minas, 4 períodos finalizados e dos laços de amizade construídos, senti que precisava dar uma chance àquela Gabriella da época do cursinho. Resultado: fui aprovada na Universidade Federal de Ouro Preto e, de lá, sigo meu caminho com a medicina.
Essa minha história diz muito sobre vários “não” recebidos, sobre vários momentos de desafios e dificuldades, mas, principalmente, sobre resiliência. Diversas vezes precisei de pessoas em minha vida que acreditassem em mim para que eu pudesse continuar. Precisei de colo, precisei chorar e precisei levantar a cabeça, e sou imensamente grata a todos aqueles que cruzaram meu caminho e me ajudaram a me tornar quem sou hoje. Ainda existe um longo caminho a ser percorrido, de uma história que é única e que estou ansiosa para viver cada momento.
Àqueles que estão lendo esse texto e têm um sonho guardadinho na gaveta, eu compartilho um trecho de Guimarães Rosa que em diversos momentos me acalentou:
“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”
Artigo escrito pela futura Dra Gabriella estudante de Medicina da UFOP