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Estado de Minas ENEM 2022

Professores comentam questões do primeiro dia de provas do Enem

Os professores avaliam que as provas tiveram nível de dificuldade esperado e temas muito debatidos em sala durante o ano


13/11/2022 22:08 - atualizado 13/11/2022 22:27

Candidatos chegam para o primeiro dia de prova na PUC do Coração Eucarístico
Estudantes na entrada da PUC do Coração Eucarístico (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi marcado por questões de linguagens, ciências humanas e pela redação. Professores ouvidos pelo Estado de Minas avaliam que as provas tiveram questões com nível de dificuldade dentro do esperado e temas muito debatidos em sala durante o ano.

 

A professora de português e redação do Colégio Bernoulli, Isabela Azevedo, avalia que as questões cobradas estavam dentro do esperado.  

“A prova de linguagens teve um mesmo nível de dificuldade das edições passadas. A de redação veio com um tema que costuma trazer bastante dificuldade para os alunos: dos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Mas, muito provavelmente o aluno que se preparou quanto ao repertório sociocultural, não teve maiores dificuldades.”

Isabela destaca ainda que foram cobradas pautas sociais e não houve nenhuma surpresa ou novidade na prova de linguagens. “Foi uma prova que cobrou conteúdos teóricos aprendidos ao longo do ano pelos alunos. Sobre as questões que puderam trazer algum tipo de dificuldade ou polêmica, houve apenas uma questão: a de número 33 da prova amarela que teve um comando um pouco dúbio.”
 

Ela ressalta ainda algumas questões que trariam certa dificuldade para o aluno, mas nenhuma com perspectiva de anulação. “Por último, chamaram atenção questões que cobraram manifestações artísticas, que falaram um pouco sobre as manifestações na época atual, contemporâneas que cobraram do aluno um conhecimento mais abrangente sobre manifestação artística, arte de maneira geral e interpretação artística.”

Outra prova com conteúdo dentro do esperado foi a de Geografia. O professor do Colégio Bernoulli, Juninho Lopes destaca que a prova demandou bastante conhecimento tanto de geografia política quanto humana. “Tivemos duas questões basicamente sobre geografia política e várias de geografia humana e física. Uma prova bastante equilibrada. O aluno precisava dominar alguns conceitos da geografia física, assim como conhecimento sobre a geografia humana no aspecto social, com destaque de alguns processos urbanos, como o caso da macrocefalia urbana, além de processos relacionados aos fluxos migratórios com deslocamento pendular.”

Lopes ressalta ainda que a prova teve muito uso de mapas e foi equilibrada. “Esses mapas demandavam também uma boa leitura sobre o espaço geográfico, seja em âmbito mundial ou âmbito nacional. A prova não teve surpresas, mas se destaca uma valorização da prova de geografia. De fato, nós temos cobranças sobre o conhecimento geográfico.”

Inglês e literatura

O professor de inglês do Colégio Bernoulli, Sergio d'Assumpção, avalia que a prova desse ano estava um pouco mais difícil que a do ano passado, com questões bem divididas pelo nível de dificuldade. “Tivemos duas questões tranquilas e fáceis: uma de imigrantes cubanos e outra da noiva vivendo no castelo. Mas, por outro lado, tivemos de novo, três questões que se alinham como questões médias ou médias difíceis. A questão da comparação da forma dos relacionamentos há 200 anos e de hoje e a questão do impacto das mídias sociais nas vidas das pessoas, principalmente o aspecto da frustração gerada pela vida perfeita das redes sociais.”

Houve ainda uma questão que ele classificou como difícil. “Era um poema no qual o ‘eu lírico’ expressa toda a sua frustração com os novos meios de comunicação, chegando ao ponto de achar que tudo aquilo que ele digita, tudo aquilo que ele pressiona, sequer um dia será lido.” 

A prova de literatura também teve conteúdo previsível, segundo o professor do Colégio Bernoulli, Aloisio Andrade Oliveira. “A cobrança de autores canônicos, como Machado de Assis e o tema da ironia machadiana.” Ele observa que uma surpresa foi não haver a cobrança de textos poemáticos. “Na verdade, caiu um poema em prosa e também texto poético na parte de língua estrangeira. Mas, de uma maneira geral, a prova estava bastante coerente com o conteúdo que vimos e estudamos em sala de aula, com diversidade de autores, de estilo de época.” 

“Em relação à historiografia da literatura, tinham questões tanto da literatura marginal com Carolina Maria de Jesus, quanto a literatura modernista, que é algo também recorrente. O romance de 30, a estética do romantismo e do naturalismo.”

O professor acredita que foi uma prova coerente. “Podemos dizer que foi das melhores provas em relação às questões de literatura e artes nos últimos tempos. Além disso, caiu também o conteúdo vanguardista do dadaísmo, algo esperado e visto bastante em sala de aula. De uma maneira geral, foi uma prova muito boa em relação aos textos escolhidos e aos temas que dialogaram com os textos escolhidos.”

História, Filosofia e Sociologia 

O professor de História do Colégio Bernoulli, Edriano Abreu, avaliou que a prova deste ano foi multidisciplinar. “Ela buscou integrar áreas do conhecimento: história, filosofia, sociologia e geografia. Tivemos uma certa dificuldade em distribuir as questões para as bancas de cada área, por serem mesmo questões que integravam mais de uma área do conhecimento.”

Outro aspecto curioso destacado por ele foi a exigência de uma boa leitura dos textos e do enunciado. “Às vezes a questão não exige tanto essa leitura do texto, mas este ano sim, exigiu bastante. Muita atenção para a leitura do texto e muita atenção para o enunciado. Para poder ir eliminando as alternativas, caso elas não se mostrassem muito coerentes.”

Abreu ressaltou ainda temas muito comuns abordados em anos anteriores e que apareceram novamente este ano: Idade Média, Brasil Império, Primeira República e a Era Vargas. “Chama a atenção mais de uma questão envolvendo o direito da mulher na participação política do Brasil Império, no século XIX. Seguindo o padrão dos últimos anos, não tivemos questões tratando do período militar. No mais, a prova mostrou ser bem desafiadora e contemplou o aluno que se dedicou o ano inteiro para a interpretação de texto e o estudo da nossa área.”

O professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Bernoulli, Giorgio Lacarda, avaliou que comparada ao Enem 2021, a prova de Sociologia foi mais coerente com as temáticas e com os eixos que são mais cobrados normalmente. “Ela contemplou muitas questões relacionadas à cultura, como patrimônio cultural. Questões também relacionadas à diversidade cultural, ligadas a questões raciais e de gênero. Uma ênfase muito interessante nesses temas que estava um pouquinho sumida.”

Outra questão importante era de política, um tema, segundo ele esperado, principalmente por ser um ano eleitoral no Brasil. “Questões sobre sociologia política que envolvem estado, democracia, cidadania foram bem contempladas na prova.”

Ele ressalta que a prova não estava difícil. “O candidato com boa leitura, boa noção dos conceitos conseguiria, sem dúvida nenhuma, ter um bom desempenho.”

Já a prova de Filosofia fugiu um pouco do padrão dos últimos anos, de acordo com ele. “Os autores mais clássicos não foram cobrados, além de algumas questões com difícil compreensão de comando em relação com os textos.” O professor acredita que os alunos possam ter tido um pouco mais de dificuldade na prova de Filosofia.

Redação 

O professor Flávio de Castro, do Soma Pré Vestibular, avalia que o tema da redação deste ano foi bastante pertinente. “É muito importante lembrar que comunidades e povos tradicionais não significam apenas povos indígenas.” Segundo ele, devem ser consideradas também as comunidades quilombolas. “O Brasil tem 522 anos, era uma colônia e que há uma história de resistência.”

Castro considera que o tema é propício para o momento vivido no país. “Ele vem a calhar em um Brasil que vive uma história de agressão às comunidades e povos tradicionais. Isso se explica facilmente por meio dos dados que se vê do desmatamento e desrespeito às pessoas na vida cotidiana brasileira.” 

O professor afirma que as possibilidades de repertório sociocultural eram imensas. “Era possível falar de Carolina Maria de Jesus, de Aílton Krenak e até de Pero Vaz de Caminha em sua visão colonialista.” Ele ainda cita o cantor Mano Brown dos Racionais e o autor do livro Torto Arado, Itamar Vieira.   

“O jovem que está almejando entrar na universidade pública deve perceber que o Brasil é um país heterogêneo e múltiplo. É um belíssimo tema e uma chamada à reflexão.”
Castro lembra que o final da redação deve ter uma proposta de intervenção que aciona órgãos e instituições que possam fazer o desafio proposto no tema ser realizado. “É importante pela educação, por um ministério da Cidadania, de Direitos Humanos, da Mulher. A possibilidade da criação do ministério dos povos originários, que está previsto na transição de governo do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva.”  

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