“Tá caindo fulô, tá caindo fulô, lá do céu, cá na terra, olê lê, tá caindo fulô"
Candombe, no dialeto africano quimbundo, significa sala de reuniões. O ritual sagrado surgiu nos últimos anos da escravidão, quando os escravos já haviam assimilado vários aspectos da cultura colonial e incorporado elementos da religião católica. Se antes foi reprimido pelos senhores, hoje o candombe é motivo de orgulho para as famílias e uma manifestação de fé e esperança. As orações, tantas vezes repetidas, são formas de agradecer a Nossa Senhora do Rosário, mãe do candombe, por todas as bênçãos concedidas à comunidade. E os batuques dos tambus, por sua vez, transmitem a fé e a alegria do povo. No candombe não faltam canções com versos em português e muita cachaça, para descontração de quem vai prestigiar a festa.
“O senhor me dá licença, de eu cantar nesta baixada...” Ao som ritmado dos tambus, instrumentos seculares, homens e mulheres de todas as idades seguem a bandeira de Nossa Senhora do Rosário pelo caminho enfeitado com flores de papel, iluminado por velas, e participam do candombe, considerado pelos especialistas a expressão mais antiga do congado mineiro. O cortejo e o ritual sagrado, na comunidade do Açude, em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ganha um significado maior: a comemoração do centenário do local incrustado na Serra do Cipó, onde as tradições se fortalecem com o tempo e se mantêm com o respeito das novas gerações.
Celebrado anualmente sempre no segundo sábado de setembro, o candombe atrai, a cada ano, mais de 300 pessoas, entre moradores e visitantes da comunidade localizada a 94 quilômetros da capital. Remanescente de uma comunidade quilombola, Açude, com 22 famílias, que acordam cedo no sábado para preparar a festa, com direite a roda da capoeira reunindo vários mestres de todo o país.
Os três tambus da comunidade, guardados como tesouros sonoros, também mereceram destaque, diz o músico e cinegrafista Danilo Santos, “filho” do Açude e entusiasta das tradições. “Eles completaram 201 anos em 2014. Foram feitos pelos escravos do tronco do saboeiro, sendo a madeira escavada de um lado e coberta de couro de boi”, explica o músico, lembrando que a afinação se faz na fogueira, que arde das 22h do sábado até as 7h do domingo, quando tudo termina.
As emoções ganham mais força enquanto a noite avança e é impossível não entrar no clima que mescla cultura e religiosidade. “Eu sou carreiro, eu vim pra carrear. A minha boiada é nova, sobe o morro devagar”, é um dos versos cantados na festa, que tem ainda o boi da manta, que vai abrindo caminho e retirando as energias negativas para a passagem da bandeira de Nossa Senhora do Rosário. “A música remete aos antigos carros de boi”, diz Danilo.
Pedido de ajuda
Comunidade está arrecando recursos para documentar e difundir a história do candombe até chegar na sua raiz ancestral: Povo Mende, em Serra Leoa, na África. O projeto é idelizado pelo músico Danilo Candombe
A ideia é que seja uma obra documental (webserie com 3 episódios) com resgate firmado na oralidade através de depoimentos no decorrer do caminho reverso da escravatura. Saindo de quilombo, a Comunidade do Açude Serra do Cipó – MG, passando por Portugal e finalizando em Serra Leoa.
Além da realização da webserie documental com reconstituição de algumas passagens interpretadas pelos próprios moradores do quilombo, Danilo vai promover oficinas e bate-papos sobre vivência quilombola, contando e dançando as histórias e difundindo a raízes através do intercâmbio cultural. Para ajudar acesse aqui
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