Jornal Estado de Minas

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Candombe: ritual sagrado marca a expressão mais antiga do congado mineiro

 “Tá caindo fulô, tá caindo fulô, lá do céu, cá na terra, olê lê, tá caindo fulô"

 

 

 

Candombe, no dialeto africano quimbundo, significa sala de reuniões. O ritual sagrado surgiu nos últimos anos da escravidão, quando os escravos já haviam assimilado vários aspectos da cultura colonial e incorporado elementos da religião católica. Se antes foi reprimido pelos senhores, hoje o candombe é motivo de orgulho para as famílias e uma manifestação de fé e esperança. As orações, tantas vezes repetidas, são formas de agradecer a Nossa Senhora do Rosário, mãe do candombe, por todas as bênçãos concedidas à comunidade. E os batuques dos tambus, por sua vez, transmitem a fé e a alegria do povo. No candombe não faltam canções com versos em português e muita cachaça, para descontração de quem vai prestigiar a festa. 

 

- Foto: Leandro Couri/EM

 

 

 

O senhor me dá licença, de eu cantar nesta baixada...” Ao som ritmado dos tambus, instrumentos seculares, homens e mulheres de todas as idades seguem a bandeira de Nossa Senhora do Rosário pelo caminho enfeitado com flores de papel, iluminado por velas, e participam do candombe, considerado pelos especialistas a expressão mais antiga do congado mineiro. O cortejo e o ritual sagrado, na comunidade do Açude, em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ganha um significado maior: a comemoração do centenário do local incrustado na Serra do Cipó, onde as tradições se fortalecem com o tempo e se mantêm com o respeito das novas gerações. 

 

- Foto: Leandro Couri/EM

 

 

 

Celebrado anualmente sempre no segundo sábado de setembro, o candombe atrai, a cada ano, mais de 300 pessoas, entre moradores e visitantes da comunidade localizada a 94 quilômetros da capital. Remanescente de uma comunidade quilombola, Açude, com 22 famílias, que acordam cedo no sábado para preparar a festa, com direite a  roda da capoeira reunindo vários mestres de todo o país.

“É preciso alimentar os candombeiros que chegam. Então, tem que fazer bolos e biscoitos no velho forno de cupim, cortar lenha para a fogueira e enfeitar a rua”, conta Danilo. 

 

 

 

 

 

- Foto: Leandro Couri/EM

 

Os três tambus da comunidade, guardados como tesouros sonoros, também mereceram destaque, diz o músico e cinegrafista Danilo Santos, “filho” do Açude e entusiasta das tradições. “Eles completaram 201 anos em 2014. Foram feitos pelos escravos do tronco do saboeiro, sendo a madeira escavada de um lado e coberta de couro de boi”, explica o músico, lembrando que a afinação se faz na fogueira, que arde das 22h do sábado até as 7h do domingo, quando tudo termina.  

 

  - Foto: Leandro Couri/EM

 

As emoções ganham mais força enquanto a noite avança e é impossível não entrar no clima que mescla cultura e religiosidade. “Eu sou carreiro, eu vim pra carrear. A minha boiada é nova, sobe o morro devagar”, é um dos versos cantados na festa, que tem ainda o boi da manta, que vai abrindo caminho e retirando as energias negativas para a passagem da bandeira de Nossa Senhora do Rosário. “A música remete aos antigos carros de boi”, diz Danilo.

Durante a noite, os festeiros servem aos visitantes broa de fubá, biscoitos, caldo de mandioca, café coado na hora, quentão, cachaça e batidas. 

 

- Foto: Leandro Couri/EM

 

 

 

 

 

 

Pedido de ajuda

- Foto: Leandro Couri/EM

 

Comunidade está arrecando recursos para documentar e difundir a história do candombe até chegar na sua raiz ancestral: Povo Mende, em Serra Leoa, na África. O projeto é idelizado pelo músico Danilo Candombe

 

A ideia é que seja uma obra documental (webserie com 3 episódios) com resgate firmado na oralidade através de depoimentos no decorrer do caminho reverso da escravatura. Saindo de quilombo, a Comunidade do Açude Serra do Cipó – MG, passando por Portugal e finalizando em Serra Leoa.

 

Além da realização da webserie documental com reconstituição de algumas passagens interpretadas pelos próprios moradores do quilombo, Danilo vai promover oficinas e bate-papos sobre vivência quilombola, contando e dançando as histórias e difundindo a raízes através do intercâmbio cultural. Para ajudar acesse aqui

 

 

 

 

 

 

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