Não se enganem. Por mais mudanças, anseios e dúvidas sobre a educação e a escolha da formação profissional, a graduação ainda é diferencial no mercado de trabalho. A experiência prática, autodidata, cursos técnicos e profissionalizantes são importantes, mas na hora da contratação e recolocação ainda não têm o mesmo peso e o diferencial diante do diploma de nível superior. A formação acadêmica clássica é mais competitiva e melhor remunerada. E os jovens sabem disso. A confirmação está em pesquisa feita pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Minas Gerais (Senac-MG), em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), que avaliou a percepção das pessoas sobre relação entre ter uma graduação e a perspectiva de crescimento profissional e o impacto dessa formação ao procurar uma colocação profissional.
A pesquisa, coletada entre 13 de novembro e 3 de dezembro de 2017 por formulário on-line, foi dividida em três grupos: participantes com ensino médio completo, graduados e com graduação em curso. “Percebemos que a busca do conhecimento está em primeiro lugar em todos os públicos. É o principal motivo para escolher a graduação”, destaca Maria Isabel França, gerente universitária do Senac em Minas.
Vale enfatizar que essa visão engloba o público jovem, diferente daquele que está no mercado, sendo que 50% têm entre 18 e 34 anos. Portanto, acreditar que a nova geração só pensa em empreender, fundar sua startup ou mesmo fazer só curso técnico de dois anos, não é bem assim. Para Maria Isabel França, “há uma grande onda de generalização de pesquisa sobre os jovens. Saibam que o número de ingressos na graduação é maior nessa faixa etária. Sim, eles são mais antenados, investem em menos rotina, mas contrapõem a ideia de que graduação não é importante. O desafio é como deixar a sala de aula mais atraente para esse público, como ter a atenção dele.
Maria Isabel França ressalta a discussão por inovação e da metodologia ativa: “Acredito que o fundamental é ter o aluno no centro do seu processo de aprendizado. As organizações mudam, então o que discutir em sala? A problemática tem de estar em sala para ser discutida à luz das teorias”, enfatiza a gerente universitária do Senac Minas, alertando que “não há como ensinar a prática porque ela muda, mas sim o contexto com as situações do cotidiano em várias áreas do conhecimento para propor soluções fundamentadas na teoria.” Além do peso do diploma, ela alerta que “um diploma de graduação não o torna um bom profissional, já que conhecimento é questão de aprofundamento”.
MARCA Outra questão a discutir é saber que caminho seguir, já que ainda não sabemos quais serão os profissionais do futuro, quais carreiras desaparecerão e em quais se deveria investir (muitas ainda vão surgir). O fundamental, conforme Maria Isabel, e os jovens também sabem disso, é pensar no seguinte cenário: “Qual a função da educação superior? É só técnica ou oferece uma formação abrangente?. A graduação possibilita uma visão mais crítica e sistêmica diante dos vários cenários que já lidamos e que vão surgir. Neste novo mundo, será pior para quem não tiver essa formação, porque terá menos poder de reação diante deste novo mercado. O curso de graduação é um diferencial. É fato.
Maria Isabel França destaca que na pesquisa foi apontado o valor que o jovem dá à marca da instituição: “Para ele, é importante que a marca referende sua escolha e o aporte com a melhoria na vida profissional. Ele pensa na trajetória de formação e quer o reconhecimento no currículo diante do futuro recrutador, embasado pelo posicionamento da instituição de ensino que escolheu.” Independentemente do rumo profissional, Maria Isabel França enfatiza que não há mais uma carreira linear. Ou seja, formei-me em A e vou me aposentar atuando só em A, num único curso de graduação: “Não existe mais pela fluidez do mundo atual. Um médico pode atuar, em conjunto ou não, com a gastronomia. Agora, quanto a ser técnico ou tecnólogo vai depender da visão de carreira de cada um.”
Diferencial para a carreira
Isabella nunca pensou diferente: “A graduação sempre foi minha meta e acredito que é fundamental. Vou me formar no fim do ano e já penso na pós-graduação, que pretendo fazer em psicopedagogia. Graduação é diferencial no currículo. No início até fiquei insegura quanto à escolha do curso, mas ao longo da faculdade fui me realizando e, mais do que nunca, estou certa do meu caminho. E o suporte que recebi da Central de Carreiras foi ponto-chave para adquirir segurança.”
A estudante conta que, além da graduação, pesou na sua decisão a escolha da instituição. “O UniBH carrega a credibilidade da marca e oferece ao aluno possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
Hoje, Ricardo Rodrigues é coordenador de qualidade no Oculare – Hospital de Oftalmologia, depois de começar como assistente e chegar a analista. Vale destacar que no meio da graduação ele foi promovido a coordenador, um reconhecimento da empresa no investimento em sua formação e no interesse dele em se especializar na área.
OPORTUNIDADE Ricardo Rodrigues conta que sempre quis fazer faculdade e, como a oportunidade só surgiu mais tarde, ao menos “contei com a maturidade para pesquisar a melhor instituição, com a grade curricular que atenderia às minhas necessidades e que me oferecesse a melhor qualificação diante dos desafios que encarava no meu emprego. A Faculdade Senac foi tudo de que eu precisava, onde não só solidifiquei meus conhecimentos em gestão de qualidade na área de saúde como também adquiri noções em direito e contabilidade. Com a visão que tenho hoje, me ajudou a escolher ainda a pós-graduação para me aperfeiçoar na área ainda mais”.
Para Ricardo, ao adquirir conhecimento, as responsabilidades e os valores são integrados automaticamente. “A graduação requer intensidade e dedicação e mudou totalmente o meu mundo”, diz. Ele, que atua na área de saúde, dá uma dica preciosa: “Há demanda, mas não há oferta de profissionais na área de gestão de qualidade para hospitais.”
Análise de mercado
Uma das decisões mais difíceis e sérias da vida é definir sua carreira, o destino profissional. E fazer essa escolha bem jovem não é nada confortável para quem tem dúvidas. Nem todos sabem qual rumo seguir, e se é o certo. Muitas vezes, mesmo já cursando surgem incertezas. O Centro Universitário Una oferece aos alunos o projeto de extensão Oriente, coordenado por Elaine Santos, no qual especialistas prestam serviço de orientação de carreira utilizando ferramentas de coach. “A ansiedade da maioria é: depois de formado, qual mercado de trabalho vou encontrar?. Questiona se, inserido, terá a valorização que busca alcançar.”
Elaine Santos acredita que, cada vez mais, aumenta a proximidade entre o mundo acadêmico e o mercado. E lembra aos futuros profissionais que está em jogo “não só a formação, mas todo um conjunto de habilidades e fatores necessários para ter sucesso na carreira, como propor soluções, ser mais independente, ativo e autônomo, demonstrar vontade e, em paralelo, ter objetivo para direcionar seus esforços. O mercado busca por profissionais com conhecimento em comunicação e tecnologia, que procuram se consolidar dentro da empresa e buscam formação na área para ter reconhecimento”.
Do lado dos futuros profissionais, pela experiência e contato diário de Elaine Santos, o desejo de quem está chegando ao mercado “é ter oportunidade clara para aplicar seus conhecimentos. Em seguida, o que o atrai e é um diferencial relevante, ter o reconhecimento. Esse jovem está ansioso para aplicar o que aprendeu na universidade e quer espaço para vivenciar sua formação. Ele quer ser ouvido, sugerir ideias, e que elas possam ser aceitas, propor produtos e melhorias, enfim, essa força de trabalho deseja realizar projetos.”
CHOQUE Aspecto importante no posicionamento desse novo profissional é que, conforme Elaine Santos, “ele quer espaço para se realizar na sua individualidade. Ele não acredita que precisa se vestir de maneira formal para mostrar que é um advogado. Ele tem, sim, de acreditar e ver sentido e coerência na empresa em que vai trabalhar. É complicado para ele ser cobrado, por exemplo, por um chefe que tem formação inferior à dele. Ele tem pós-graduação e o líder não. Fato é que esse jovem chega ao mercado mais informado, com mais habilidade em tecnologia e, muitas vezes, há um choque com a hierarquia que não se atualizou. No entanto, é preciso tempo para adequação, e dos dois lados, principalmente quanto a questões emocionais. Acima de tudo, é preciso respeito para que a inserção seja sedimentada e segura”.
Quanto à visão desses jovens do mercado, Elaine diz que eles se perguntam: “Eu me formei e, agora, me especializo ou busco outra formação?. Sempre digo que depende do perfil e da trajetória que cada um quer para a carreira. Muitos buscam uma escolha assertiva, querem garantia e referência”. A coordenadora ressalta que um grande feito dessa nova geração é que “ela mostrou o valor e a importância do trabalhador conseguir o equilíbrio entre vida e trabalho. Ela nos trouxe essa liberdade e, agora, cabe aos dois mundos conviverem bem mesmo diante de vários desafios”.
Saiba mais
Salários maiores para mestres e doutores
De acordo com o estudo Mestre e Doutores, feito pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC), o brasileiro que tem mestrado ganha, em média, quatro vezes mais que os demais trabalhadores do país. Já para os profissionais com doutorado, o valor pode aumentar até seis vezes. Um profissional com título de mestre ganha em média R$ 9.719, enquanto a média nacional dos demais trabalhadores é de R$ 2.449. Os doutores ganham em média, por mês, R$ 13.861. O estudo também apontou que, apesar do aumento de cerca de 210% nos programas de pós-graduação, os números de mestres e doutores no Brasil ainda estão abaixo da média internacional. Um dos motivos para essa distorção entre o Brasil e os países economicamente mais desenvolvidos é a ideia de que muitos cursos de mestrado e doutorado são voltados apenas para atuação em universidades. “Em países desenvolvidos, a grande maioria de mestres e doutores é absorvida pelo setor produtivo, e a minoria permanece na academia”, destaca o coordenador do mestrado em engenharia mecânica da FEI, prof. dr. Rodrigo Magnabosco. Acompanhando a tendência mundial, nos últimos 20 anos, o mestrado alinhando teoria e prática cresceu no Brasil e é uma ótima alternativa para aqueles que desejam ampliar o conhecimento teórico a partir da pesquisa, e aprender a utilizá-lo no trabalho.
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