A Gig Economy, ou economia de trabalhadores livres, como freelancers, donos de micronegócios, consultores independentes e empreendedores que aproveitam as novas tecnologias, é uma aposta para as grandes empresas. É um sistema de trabalho no qual a liberdade e a flexibilidade predominam tanto para o funcionário quanto para o empregador. Assim, a contratação é personalizada e depende de um acordo entre as necessidades e os objetivos de ambas as partes.
Guillermo Bracciaforte, cofundador da Workana, marketplace que conecta freelancers a empresas com atuação em toda a América Latina, afirma que as vantagens de ser um freelancer estão mais relacionadas com as motivações pessoais. Um profissional escolhe ser freelancer para trabalhar em casa e passar mais tempo com os filhos ou para trabalhar enquanto viaja pelo mundo, ou mesmo para poder ter mais liberdade e flexibilidade no trabalho, podendo até mesmo escolher com quais clientes deseja trabalhar. Para ele, é natural que os governos vejam as tendências das novas modalidades de trabalho que estão surgindo graças à internet e tentem se adaptar a isso para ajudar também a esses novos trabalhadores, “mas ainda assim as grandes vantagens que motivam essa mudança não estão relacionadas a iniciativas do governo.”
Conforme estudo feito pela Kelly Services, empresa especializada em consultoria externa, quase um terço da força de trabalho no mundo (31%) prefere a autonomia e liberdade do trabalho independente, e 73% das empresas consideram que a flexibilidade e a fluidez da força de trabalho será uma das estratégias mais importantes para enfrentar o clima dinâmico do mercado.
Mas é preciso se cercar de cuidados e se preparar para atuar dessa forma, já que terá de lidar com os riscos de ser um profissional autônomo: “Esses riscos são muito parecidos com os riscos de ser um empregado tradicional de uma empresa: perder um cliente com o qual fazia projetos há vários meses (e que representava boa parte de seus ingressos no final do mês), ter uma renda que varia a cada mês, dependendo de quantos projetos consiga realizar, entre outros. No entanto, esses e outros possíveis riscos podem ser contornados com um planejamento financeiro, já que o profissional independente precisa administrar bem suas finanças nos meses bons e também nos meses não tão bons, de maneira que consiga viver com qualidade”, alerta Guillermo Bracciaforte.
Na outra ponta, a do patrão, Guillermo Bracciaforte destaca que os ganhos são muitos: “Agilidade e flexibilidade nas contratações, acesso a profissionais talentosos que estão espalhados por várias partes do país ou até em outros países, além de criatividade e inovação de profissionais experientes, que já trabalhavam em vários tipos de projeto e estão acostumados a se adaptar a várias situações”. E as desvantagens também não são tão diferentes de contratar um profissional tradicional, “como ter uma expectativa a respeito do desempenho do profissional e obter um resultado diferente do esperado. A diferença é que, no caso de freelancers, é possível solucionar esse problema rapidamente, contratando outro profissional talentoso em apenas algumas horas, independentemente de onde ele vive, já que o trabalho é remoto”.
Avaliação e seleção do autônomo
De acordo com relatório do BCG Henderson Institute, o uso de plataformas de trabalho autônomo cresceu mais de 30% nas economias emergentes. Apenas 20% dos freelancers preferem emprego de tempo integral, e 40% das empresas esperam que os trabalhadores temporários se tornem uma parte crescente de sua força de trabalho. Já conforme o relatório do trabalho independente e empreendimento da Workana, o trabalho autônomo cresceu 80% na América Latina no último ano.
Assim, com mercado cada vez mais amplo, a avaliação desse profissional também fica criteriosa e exigente: “Ela é feita com foco em sua metodologia de trabalho, experiência em projetos anteriores, em sua apresentação e também na comunicação que apresenta desde o contato inicial com o cliente. Esse é um ponto muito diferente da avaliação dos profissionais tradicionais nas empresas, já que as entrevistas de emprego costumam focar em diferentes aspectos da vida do profissional, tanto pessoais quanto profissionais, enquanto as entrevistas freelance focam no resultado que o profissional entregará e no valor que ele oferecerá ao projeto”, explica Guillermo Bracciaforte.
A competitividade é alta, mas Guillermo Bracciaforte garante que qualquer profissional pode se adequar a essa modalidade de trabalho, mas é importante entender que, para ser independente, é preciso dedicar-se ao desenvolvimento pessoal e profissional. É preciso aprender a trabalhar com mais autonomia, ter disciplina e foco, administrar os próprios horários, ser proativo e organizar muito bem o trabalho, buscando ter uma metodologia que seja clara e eficaz para os clientes com quem trabalha.
A gestão do tempo e a diversidade de experiências na construção do caminho do profissional passam a ser de grande valor. Guillermo Bracciaforte afirma que a possibilidade de escolher projetos permite um melhor controle e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. “Além disso, permite ao profissional ampliar sua gama de experiências em diferentes áreas e mercados verticais. Assim, a renda e o posicionamento no mercado dependem de suas escolhas. O cuidado com a busca e a manutenção de oportunidades devem ser aperfeiçoados a cada dia.”
O empresário enfatiza que os profissionais da Gig Economy priorizam projetos com os quais tenham afinidade e isso é considerado pelas empresas como um importante benefício. “É que a decisão de escolha está ligada à satisfação e realização profissional. Afinal, quem não quer poder selecionar os próprios projetos? Para as empresas, um profissional entusiasta com seu trabalho gera melhores resultados. Por outro lado, o sistema de contratação flexível também permite que as organizações fortaleçam suas equipes. Com o trabalho remoto, surgem outras opções estruturais, de despesas e novos espaços, como os coworkings.”
Os processos seletivos, lembra Guillermo Bracciaforte, também são cruzados por esses modelos. A economia de tempo nos processos de seleção e a possibilidade de conhecer o trabalho do profissional antes da contratação confere grande valor às redes sociais e plataformas digitais, onde os profissionais mantêm atualizados seu treinamento e experiência. “Em plataformas que conectam trabalhadores independentes a líderes de projetos, os profissionais têm perfis nos quais podem acessar comentários e avaliações de outros clientes, pontos fortes, habilidades, informações acadêmicas e experiência de trabalho. Até mesmo alguns perfis expõem seu portfólio de trabalho. Todas essas informações oferecidas sobre os candidatos permitem ao contratado encontrar o perfil mais adequado para a tarefa a ser executada.”
O trabalhador será o que quiser
Em relação ao treinamento, 45% dos profissionais independentes considerados no relatório Workana têm estudo universitário, 34% curso técnico ou terciário, 10% pós-graduação e 73% estão estudando atualmente. No futuro, muitos analistas dizem que o retrato do mercado de trabalho será cada um por si, ou seja, todos terão de assumir o papel de empreendedores, serem seus próprios chefes. Guillermo Bracciaforte acredita que o futuro do trabalho será um mercado em que os profissionais sejam mais valorizados e tenham mais poder e liberdade dentro e fora das empresas.
Guillermo Bracciaforte diz que o profissional poderá escolher ser independente, ser um freelancer que escolhe onde quer trabalhar e quais clientes deseja atender; mas também poderá escolher ser empregado de uma empresa que tenha uma cultura e missão em que ele acredita, e onde os benefícios oferecidos sejam o que ele busca, como possibilidade de home office, férias flexíveis, oportunidade de crescimento e apoio em educação, oportunidade de mudar de área de trabalho ou de poder fazer um intercâmbio no escritório da empresa em outro país, entre outros possíveis benefícios. “Ou seja, o profissional será cada vez mais importante e poderá escolher que tipo de carreira deseja seguir. E, caso queira, também poderá optar por um caminho diferente quando quiser uma mudança em sua vida profissional.”
Quatro exemplos de mudança de vida
Há alguns anos, para um profissional se tornar seu próprio chefe sem um grande investimento era algo impensável, assim como ser financeiramente independente sem uma carteira assinada e começar uma carreira nova depois dos 40 anos. Felizmente, com a chegada da tecnologia, foi possível uma nova realidade no mercado.
Em 2018, o número de microempreendedores individuais (MEIs) cresceu mais de 50%, de acordo com dados do Portal do Empreendedor, e com isso, a atividade freelance também aumentou. No último ano, áreas como design e suporte administrativo vêm sendo bem procuradas na plataforma, sendo a última, a área de atuação de Carla Larrossa e Janeh Ribeiro, dois exemplos de como a atividade freelance pode proporcionar tanto um estilo de vida diferente, como oportunidades que não são tão comuns em trabalhos convencionais.
Janeh é freelancer na Workana e trabalha com tradução, conteúdos e suporte administrativo. Nos últimos anos, mudou significativamente a sua vida e passou a viajar pelas Américas sem deixar de trabalhar: “Há dois anos e meio decidimos quebrar paradigmas e mudar radicalmente nossa vida. Deixamos empregos, vendemos casa, carro, móveis, compramos um motor home e saímos para um projeto, de um ano, rodando pelas Américas. Fomos do Brasil aos Estados Unidos e voltamos, diz Janeh.
Já Carla Larrossa é redatora freelancer e também trabalha na área de suporte administrativo. Ela ficou desempregada quando seus empregadores descobriram que estava grávida, por isso precisou buscar uma alternativa: “O trabalho como freelancer proporciona tudo o que sempre desejei: possibilidade de passar mais tempo com minha filha e independência financeira”, conta Carla.
Dentro da plataforma, uma das áreas que mais geram demandas é de TI e programação, onde atua Raul Galvão, que de freelancer passou a ser empreendedor em pouco tempo. Ele largou o emprego e começou a trabalhar como freelancer. Já no primeiro mês, conseguiu ganhar o dobro do que ganhava como funcionário. “Em seis meses abri a empresa, formalizei e contratei meu primeiro funcionário. Hoje, já conto com cinco colaboradores internos mais equipe de parceiros freelancers.”
O trabalho remoto apresentou um novo rumo para Marília de Mello, que tendo mais de 20 anos de experiência como assistente de diretoria, não conseguia mais recolocação no mercado por causa da idade. Ela conheceu a Workana por meio da sua filha e encontrou no trabalho a distância uma solução para sua infelicidade, que resultou em um infarto. “Ninguém perguntou quantos anos tinha, só viam o tamanho de minha experiência”, conta Marília. E em apenas quatro meses, já está vivendo da nova profissão. Ela agora é suporte administrativo, presta serviços a empresas de São Paulo e região em home office.