O fantasma do 11 de Setembro de 2001 não foi exorcizado com o fim de Osama bin Laden, executado em 2 de maio por um comando de elite norte-americano. Ao contrário. Embora acuse o golpe representado pela morte de seu líder, a rede Al-Qaeda continua determinada a semear o horror entre aqueles a quem considera "inimigos do islã".
"O sangue de Bin Laden permanecerá, com a permissão de Deus, o Misericordioso, como uma maldição que persegue os americanos e seus agentes, e que vai persegui-los dentro e fora de seus países. "A felicidade deles se transformará em tristeza, e o sangue deles se misturará com suas lágrimas", afirma um comunicado divulgado pela Al-Qaeda quatro dias depois da morte do líder. O temor de uma vingança tem fundamento. Segundo o francês Jean-Charles Brisard, especialista em terrorismo internacional e advogado de familiares das vítimas do 11 de Setembro, a rede mantém sua força operacional nos inúmeros afiliados e na capacidade descentralizadora.
Os grupos Organização da Al-Qaeda do Magreb Islâmico, no Norte da África; Al-Qaeda na Península Arábica, no Iêmen e no Chifre da África; e facções ultrarradicais na Indonésia, no Paquistão e na Europa se adaptam para prosseguir com sua "guerra santa"nas novas condições. "O dano infligido à rede, com a morte de Bin Laden, aumentará a autonomia dos associados e inspirará militantes", observa Brisard. "Se a perspectiva de um complô em larga escala se enfraqueceu, a probabilidade de grupos locais e militantes solitários lançarem ataques letais ainda é muito alta."
John Arquilla, estrategista militar norte-americano e ex-conselheiro do Pentágono, definiu a Al-Qaeda como uma estrutura "integrada, policêntrica e segmentada". A cadeia hierárquica da rede parece ter saído incólume. O médico egípcio Ayman Al-Zawahiri comanda as ações da rede, respaldado pelo Majlis Al-Shura, o Conselho de Comando. Juntos, Al-Zawahiri e os cerca de 30 integrantes do organismo controlam seis comitês com tarefas bem delineadas: o político, o religioso, o militar, o administrativo, o financeiro e o de inteligência. "A Al-Qaeda continua a funcionar do mesmo modo que antes", garante Gunaratna, chefe do Centro Internacional para Pesquisa sobre Terrorismo e Violência Política, em Cingapura.
Defensiva Os especialistas avaliam, porém, que a rede criada por Bin Laden se retraiu e adotou medidas de extrema cautela. Magnus Ranstorp, diretor de pesquisa do Centro para Estudos de Ameaça Assimétrica do Colégio de Defesa Nacional Sueca, disse à reportagem que as informações de inteligência apreendidas em Abbottabad (Paquistão), dentro da casa onde Bin Laden foi eliminado pelos Seals - a força de elite da Marinha americana -, causaram um impacto devastador na rede."Mais problemático ainda talvez tenha sido o efeito dos ataques com drones, aviões espiões não tripulados dos EUA, temidos nas fileiras da rede", assegura Ranstorp.
A cooperação de inteligência entre Washington e Islamabad também foi responsável pela mudança de postura da rede."A Casa Branca apresentou ao Paquistão os nomes de terroristas que os EUA desejavam eliminar. Na lista estão Al-Zawahiri e mais dois dirigentes da Al-Qaeda, Ilyas Kashmiri e Atiya Abdel Rahman, além de Sirajuddin Haqqani, líder do grupo terrorista paquistanês Rede Haqqani. Kashmiri e Rahman foram mortos por drones.