Racismo é o preconceito e discriminação direcionados a quem possui uma raça ou etnia diferente, define o dicionário. No Brasil, essa palavra ganhou forma e cor com a chegada de cerca de 5 milhões de africanos, traficados pelos portugueses entre os séculos 16 e 19. Para entender a atual configuração social brasileira, e principalmente, o racismo, sociólogos e historiadores recorrem ao nosso passado.
Um período muito importante nesse processo de desenvolvimento, segundo o professor de história da África da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Alexandre Almeida Marcussi, de 34 anos, foram as três décadas que sucederam a abolição da escravidão. “Esse período é possível observar o que ocorreu com a população ex-escrava da área urbana e rural. A falta de ações públicas para integrar esses trabalhadores à sociedade foram determinantes na história de marginalização que se segue”, conta.
O historiador defende a tese de que o povo negro foi intencionalmente excluído da sociedade dominada por brancos. “O incentivo às imigrações europeias, os projetos de ‘branqueamento’ da população, a promoção do racismo como ideologia, a exclusão das populações negras do acesso à terra e o baixo nível de investimento em educação para essas pessoas agiram como fatores que continuaram produzindo e reproduzindo a marginalidade das populações negras no Brasil”, argumenta.
Diferenças históricas
A abolição só trouxe a liberdade jurídica, socialmente, os ex-escravos e seus descendentes permaneceram inferiorizados, segundo Marcussi. “Por mais que tenha havido a conquista da liberdade jurídica e relativa mobilidade social ascendente para alguns africanos e seus descendentes, é inegável que eles, como um todo, sempre ocuparam os lugares mais baixos da hierarquia social brasileira, em relação aos portugueses e seus descendentes radicados no Brasil”, afirma o historiador.
Passados 130 anos da abolição, a população preta continua ocupando a base da pirâmide social no Brasil. O número de negros entre a parcela mais pobre do país é de 76%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A discriminação no mercado de trabalho também é escancarada. Enquanto a média de rendimento mensal do profissional branco é de R$ 2.697, a do trabalhador preto é de mensal R$ 1.526, aponta a PNAD.