Em tempos digitais, segundo o mais recente estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 60 milhões de brasileiros ainda não têm conta em bancos e, consequentemente, cartões de crédito ou débito. Atrás desse mercado potencial de negócios, cresce a atuação das chamadas fintechs, as startups da área de serviços financeiros. Elas já ultrapassam a marca de 400 empreendimentos, segundo estimativa da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), que está trabalhando com a consultoria PricewatherhouseCoopers (PwC) no primeiro censo do setor no país.
A ABFintechs tem 350 associados, que estimam representarem 85% das empresas em atuação no Brasil, com crescimento superior a 40% em relação ao ano passado. Duas dessas empresas intensivas em tecnologia, uma mineira e outra do exterior, estão investindo na proposta de promover a inclusão desses ‘desbancarizados’. A estratégia é atender, além do consumidor, microempreendedores com dificuldade de acesso aos serviços bancários convencionais. Gente simples, que vive da sua arte, depende de associações locais para comercializar seus produtos, já que parte desses artistas populares não tinham conta em banco, e, em muitas cidades, sequer existia uma agência bancária no raio de 100 quilômetros de onde moram. Essa realidade começou a mudar em 2013, com o surgimento das fintechs.
Nos últimos quatro anos, foi feita a regulamentação de arranjos de pagamento pelo Banco Central, que facilitou o uso do celular e serviços como cartões pré-pago, tudo sem a intermediação de instituições financeiras. A fintech é tipicamente aquela empresa que usa tecnologia de forma intensiva e inovação para oferecer produtos na área de serviços financeiros.
FACILIDADE
Fundada pelo empresário e advogado Ricardo Capucio, a startup mineira conta.MOBI oferece solução digital destinada a microempreendedores e pessoas físicas que necessitavam de uma conta fácil e descomplicada para movimentar seu dinheiro. Como muitos negócios da população desbancarizada são informais e a maioria das pessoas das classes B e C não consegue comprovar renda, esse público costumar ser esquecido pela rede bancária tradicional.
A plataforma fintech visa também a oferecer assistência rápida e suporte contábil para os usuários. Em expansão, a conta.MOBI criou parceria com os Correios e a operadora de cartões Visa para que seus usuários de contas digitais pudessem realizar transações de depósito e saque na rede de atendimento pública federal. “Em 2014, fui convidado por investidores para criar uma plataforma para atender os microempresários que sequer tinham conta bancária. Um contingente de 35 milhões de pequenos empreendedores (artesãos, cozinheiros, agricultores, etc) que movimentavam, anualmente, R$ 700 bilhões em negócios no Brasil. Era um mercado promissor”, lembra Ricardo Capucio, CEO da startup.
Ainda de acordo com ele, no ano seguinte foi possível criar a conta digital e hoje o serviço está disponível em todo o país. “O serviço oferece total facilidade para movimentação de dinheiro, sem necessidade de uma conta bancária”, diz o fundador da fintech.
Comércio eletrônico
Desde o ano passado, já atua também no Brasil a PinCash, primeira rede de pagamentos em dinheiro para o comércio eletrônico e vendas diretas do país, que permite aos consumidores efetuar compras usando pins eletrônicos – códigos personalizados – recebidos por mensagem no celular (SMS) e que podem ser pagos em mais de 330 mil estabelecimentos físicos credenciados. A novidade beneficiará, principalmente, pessoas que não têm acesso a conta bancária, cartão de débito e crédito, ao permitir que esse público, atualmente excluído do chamado e-commerce, tenha condição de usufruir desse serviço por meio de pagamentos em dinheiro.
“Esse público desbancarizado representa hoje 30% da população brasileira, aproximadamente 60 milhões de pessoas, que movimentam anualmente o equivalente ao PIB de Portugal (R$ 665 bilhões). A PinCash tem como missão oferecer acesso às lojas de comércio eletrônico ou por vendas diretas a uma parcela importante destes brasileiros”, diz Greg Descamps, CEO e co-fundador da PinCash.