O passaporte, vencido em 5 de fevereiro, e o certificado de vacinação internacional do goleiro Bruno Fernandes foram recolhidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e anexados ao processo que julga pedido de habeas corpus para libertar o atleta. No início de abril, o advogado Rui Caldas Pimenta entregou os documentos ao ministro Ayres Brito, relator do processo na época, como forma de convencê-lo de que seu cliente pode ficar em liberdade até o julgamento e que não vai fugir se for solto. “Também consegui do presídio o atestado de bom comportamento do Bruno, dizendo que ele trabalha e não causa nenhum problema. O Supremo tem agora mais uma garantia, mesmo sendo o meu cliente primário e de bons antecedentes”, disse o advogado.
Na terça-feira, o ministro Ayres Britto, que anteontem assumiu a presidência do STF, atendeu o pedido de Pimenta e determinou o acautelamento dos documentos. Como o presidente não participa da turmas julgadoras, o processo será redistribuído para outro relator, que vai julgar o habeas corpus. Segundo o STF, não há previsão de julgamento, mas há prioridade para réus presos. Bruno está na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, acusado do desaparecimento e morte da ex-amante, Elisa Samudio, em junho de 2010.
Segundo Pimenta, o goleiro deixou o serviço de limpeza do pavilhão onde está recolhido para trabalhar agora numa fábrica de bolas dentro do presídio. “Ele é muito habilidoso e tem algumas prerrogativas. Para cada três dias trabalhados, ganha um dia a menos na pena. Se for condenado, esses dias serão descontados em sua sentença. Ele também recebe auxílio penitenciário e repassa o dinheiro para a família”, disse o advogado.
Ele adianta que pretende adiar o julgamento do atleta para depois da Copa do Mundo de 2014. “Bruno em liberdade vai ter chance de retornar ao futebol e ser convocado para a Seleção Brasileira, disputando os jogos do Mundial. Quero que a Justiça o julgue como campeão do mundo”, afirmou Rui Pimenta. Ele disse ter recebido autorização do goleiro para fazer em cartório escritura declaratória, com cópias para a ex-mulher Dayanne Rodrigues, mãe de suas duas filhas, e para Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza e que cuida do neto que seria filho do goleiro. “Bruno se compromete a depositar 10% de tudo que ganhar no futuro para os três filhos”, explicou.
Pronúncia
A defesa de Bruno também recorreu da sentença de pronúncia da juíza de Contagem, Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, em que manda o goleiro a julgamento, mas o Tribunal de Justiça de Minas não acatou o recurso. “Entramos, então, com um recurso extraordinário no próprio TJMG e um recurso especial será avaliado pelo Superior Tribunal de Justiça. Isso tudo para tentar tirar Bruno da sentença de pronúncia e ele não ir a julgamento, por falta de provas”, disse Rui Pimenta.
Dos oito acusados pela morte de Eliza, apenas Bruno, o amigo dele Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, ainda estão presos. Os demais respondem ao inquérito em liberdade. “Bruno foi traído pelo Macarrão. Meu cliente nunca quis ou desejou a morte de Eliza”, disse o advogado.
Na próxima semana, o TJMG julga recurso do Ministério Público pedindo que quatro réus, Dayane Rodrigues, Elenilson Vitor da Silva, Wemerson Marques de Souza e Fernanda Gomes de Castro, também sejam julgados por homicídio qualificado. Eles foram pronunciados por sequestro e cárcere privado e o procurador de Justiça José Alberto Sartorio de Souza e o promotor Márcio Henrique Mendes da Silva querem uma pena maior, de 12 a 30 anos. Esse pedido já foi negado antes pelo TJMG e o MP entrou com novo embargo declaratório.
Um crime sem corpo
De acordo com o Ministério Público, “Elisa foi morta porque suplicava a Bruno, que reconhecesse a paternidade de seu bebê e pagasse os alimentos devidos. Bruno, insatisfeito com isso, resolveu engendrar o plano diabólico”. Ainda segundo a denúncia, Bruno se uniu aos outros acusados para planejar o homicídio. “Todos sabiam que Eliza seria morta e que seria dado um sumiço em seu corpo”, diz o promotor Gustavo Fantini de Castro, lembrando que Elisa foi mantida por seis dias em cativeiro, até ser morta em Vespasiano. “Marcos Aparecido Bola, contando com a ajuda de Macarrão, asfixiou Elisa até a morte. Pelas costas de Elisa, Bola passou seu braço pelo pescoço da vítima, em um golpe conhecido como gravata, e constrangiu-lhe o pescoço, esganando-a. Macarrão, para auxiliar no covarde extermínio de Eliza, ainda desferiu chutes nas pernas da vítima indefesa. Posteriormente, Bola esconde o corpo em local desconhecido até a presente data”, diz a denúncia do Ministério
Público estadual.