A juíza do Tribunal do Júri de Contagem, Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, acredita que a morte de Sérgio Rosa Sales não vá trazer prejuízos ao processo sobre a morte da modelo Eliza Samudio. Segundo ela, que vai levar sete acusados a júri popular, “Sérgio era um arquivo vivo e sabia coisa demais”. A magistrada chegou a negar pedido de liberdade para o primo do goleiro, temendo inclusive pela sua segurança. Ela afirma, porém, que os depoimentos dados pela testemunha bastam para o julgamento.
“Sempre fui contra a liberdade do Sérgio e um dos motivos era a segurança dele. Soube pelo noticiário, mas seria leviano fazer qualquer ligação. Ele era uma das pessoas mais importantes do processo, mas os depoimentos e as alterações significativas que fez em juízo não causam prejuízos. Estou esperando o processo retornar do tribunal para marcar o julgamento”, disse a juíza.
Conhecido como Camelo, o primo de Bruno não estava incluído em nenhum programa de proteção de testemunhas. Apesar de ser apontado como testemunha-chave no processo sobre o sequestro e execução de Eliza, a Justiça, o Ministério Público e a polícia não ofereceram o benefício do Estado. A defesa de Sérgio, que também respondia por homicídio qualificado, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver, não solicitou a proteção.
Em segurança
O rapaz confirmou ter visto Eliza ferida no sítio do goleiro Bruno, mantida em cativeiro. Disse que também viu quando ela foi levada com o bebê e sua mala vermelha por Macarrão e outro primo, adolescente, então com 17 anos. E garantiu ter visto Bruno, Macarrão e o menor. terem queimado a bagagem de Eliza. Sérgio contou que questionou o atleta, perguntando se não era melhor ter resolvido na Justiça e que a resposta do goleiro foi: “Já era. Acabou o tormento”. Em juízo, contudo, ele mudou a versão e disse ter incluído o primo famoso na trama porque foi pressionado e agredido pelos delegados. Segundo Sérgio, tudo o que ele relatou à polícia, ele ouviu do menor.
Solto havia mais de um ano, Sérgio deveria ter sido monitorado pelo Estado, segundo o delegado Edson Moreira, que comandou as investigações à frente do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP). “Houve alguma falha. A investigação se desdobrou principalmente a partir do depoimento dele e por isso alguma coisa deveria ter sido feita para garantir a segurança da testemunha”, afirma Moreira. Questionado se não deveria ter requisitado a inclusão do réu no Programa de Proteção à Testemunha, ele explicou que Sérgio estava preso à época. “Depois que a Justiça decidiu pela soltura, alguém deveria ter tomado uma providência que garantisse sua integridade.”
Menor não teme ser assassinado
O advogado do adolescente, hoje com 19 anos, não acredita que Sérgio tenha sido assassinado como queima de arquivo. Segundo Eliezer de Almeida, os relatos do menor, que cumpre medida socioeducativa há dois anos, foram fantasiosos. “Como nada do que ele e Sérgio disseram aconteceu, não acredito que tenha sido por isso”, disse ele, depois de visitar o cliente. “O adolescente não está sendo ameaçado. Ficou triste com a notícia, mas não tem receio nenhum. Pelo contrário, está ansioso para ser reintegrado à sociedade.”
O menor é primo de Bruno e Sérgio e chegou a morar na casa do goleiro, na Barra da Tijuca, no Rio, porque estava sendo ameaçado por traficantes do município vizinho de São Gonçalo, onde residia com a mãe. “O adolescente só participou do traslado de Eliza até Minas e a atingiu com uma coronhada, usando uma arma sem munição, porque eles se agrediram e ela tentou saltar do carro. Ele também viu que ela frequentava a piscina do sítio em Esmeraldas de short jeans, no fim de semana. Depois, voltou para o Rio com o time de futebol. No depoimento à Justiça, ele foi coeso e firme. O resto foi invencionice (sic); praticamente colocaram aquilo na boca dele”, afirmou Almeida.
De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), há programas que recebem testemunhas ou vítimas ameaçadas de morte, mas para que isso ocorra, o órgão precisa ser acionado pelas autoridades. Atualmente, há em Minas 82 pessoas atendidas pelo Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte (Provita).