A Polícia Civil já ouviu 20 versões para a execução de Sérgio Rosa Sales, de 24 anos, primo do goleiro Bruno Fernandes, mas o delegado responsável pelo inquérito, Frederico Abelha, disse ontem que vai seguir apenas três linhas de investigação: queima de arquivo devido ao processo do desaparecimento e morte da ex-amante do goleiro Eliza Samudio, a que Sérgio respondia na Justiça com outros sete acusados; envolvimento com o tráfico de drogas; e vingança devido a uma suposta briga durante uma partida de futebol. “A cada hora surge uma história diferente e estamos checando o que há de verdade. Não temos nenhum suspeito. A equipe está orientada a convocar para depoimento qualquer pessoa que tenha algo relevante para falar”, disse Abelha.
Policiais civis descaracterizados se infiltram ontem no velório e sepultamento de Sérgio, no Cemitério da Saudade, na Região Leste de Belo Horizonte, numa tentativa de obter informações com a família e amigos para esclarecer o crime. Sérgio foi assassinado com seis tiros na manhã de quarta-feira, no Bairro Minaslândia, Região Norte da capital, quando saía de casa para trabalhar. Ele era considerado uma testemunha-chave no caso Bruno e havia conseguido liberdade condicional há um ano. Bruno permanece preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH.
Segundo informações de policiais civis, a família de Sérgio não está colaborando com as investigações por medo de vingança e receio de prejudicar o goleiro. “Quem matou Sérgio foi um ex-policial civil e a família sabe disso. Ele ameaçou matar a família inteira do Bruno, a começar pelas filhas, se o nome dele fosse divulgado”, disse uma pessoa ligada à família de Sérgio, que pediu para não ser identificada. O ex-policial seria José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, acusado por advogados de intermediar a contratação do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para quem teria ligado 23 vezes no dia da morte de Eliza. “Até eu, que não tenho nada a ver com essa história, estou morrendo de medo”, acrescentou.
Estaca zero
Para a Polícia Civil, Sérgio acabou prejudicando o goleiro Bruno quando prestou seu primeiro depoimento. “Ele disse que viu Eliza sendo agredida no sítio do Bruno e depois ainda ajudou os policiais quando eles foram ao local. Ele mostrou onde os pertences de Eliza foram queimados, para apagar vestígios da passagem dela pelo sítio, e também mostrou o quarto onde ela foi mantida em cárcere privado. Para a cabeça de muitos, aquilo foi uma delação”, afirmou um policial que trabalhou no caso e que pediu para não ser identificado.
Para a polícia, quem matou Sérgio é um profissional que não deixa pistas. “Foi uma execução. A pessoa fez o serviço muito bem feito e usou um revólver calibre 38, que não deixa capsulas para trás. Se fosse uma pistola, por exemplo, poderia facilitar a identificação da arma depois”, disse o policial. Imagens de uma câmara de segurança, instalada na rua onde Sérgio foi morto, foram analisadas, mas pouco ajudaram, segundo o policial. “O autor usava capacete e não deu para ver a placa da moto. Apesar de ser 7h, quando muita gente está a caminho do trabalho ou da escola, a rua estava deserta no momento e não temos testemunhas”, acrescentou.
O chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil, delegado Wagner Pinto de Souza, afirmou que a investigação está na estaca zero. “Estamos trabalhando, mas não temos novidades”, disse. Ontem à tarde, ele enviou uma equipe ao Bairro Minaslândia para apurar informação de que Sérgio havia se envolvido numa briga durante uma partida de futebol, o que poderia justificar uma possível vingança. Outra notícia é que Sérgio estaria se relacionando com uma mulher casada. “Vamos apurar tudo”, disse Wagner Pinto. O delegado Frederico Abelha começa hoje a ouvir parentes de Sérgio e outras pessoas que possam ter informações relevantes para a elucidação do caso.
Bruno chora
O advogado Francisco Simim visitou ontem o goleiro Bruno na prisão e disse que seu cliente está abalado com a morte do primo. “Ele chorava muito e dizia que Sérgio era mais do que primo para ele, que era um irmão. Afirmou que os dois cresceram juntos e que levou Sérgio para morar com ele no Rio. Para Bruno, a morte de Sérgio é um caso isolado e não tem nada a ver com o processo”, acrescentou Simim. Segundo o defensor, o goleiro chegou a pensar em ir ao enterro, mas desistiu por causa da burocracia para conseguir permissão e também pensou na sua própria segurança.