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Estado de Minas

Jogada arriscada movimenta Caso Bruno às vésperas do julgamento

Reaparecimento de Jorge Luiz Lisboa, primo do goleiro, é visto por especialistas como estratégia da defesa para criar agenda positiva para o atleta, mas com resultado duvidoso


postado em 26/02/2013 06:00 / atualizado em 26/02/2013 10:50

Bruno e Macarrão no banco dos réus: desmembramento do processo do goleiro levou ao isolamento do amigo, que acabou o acusando de mandar matar Eliza(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS 20/11/12)
Bruno e Macarrão no banco dos réus: desmembramento do processo do goleiro levou ao isolamento do amigo, que acabou o acusando de mandar matar Eliza (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS 20/11/12)


 

Testemunha-chave no processo sobre a morte de Eliza Samudio, Jorge Luiz Lisboa Rosa, primo do goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza, ressurge às vésperas do julgamento do atleta, marcado para segunda-feira, como parte da agenda positiva criada pela defesa, que aposta no interesse do Boa Esporte para reforçar o pedido de habeas corpus que será julgado amanhã no Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Na avaliação do criminalista Marco Meirelles, o reaparecimento de Jorge, que deu entrevista à Rede Globo no domingo, foi uma estratégia da defesa para tentar proteger o goleiro, deixando a acusação de assassinato de Eliza na conta de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, condenado em novembro a 12 anos em regime fechado pelo crime. Ontem, o Ministério Público pediu à juíza Marixa Rodrigues que a entrevista de Jorge seja exibida durante o julgamento. A magistrada vai analisar o pedido.

Bruno é acusado pela promotoria de ser o mandante do assassinato, versão confirmada em juízo pelo seu fiel escudeiro, Macarrão. Ao longo das investigações e do processo, Jorge, menor à época do crime, deu três versões conflituosas e chegou a pedir para participar do programa de proteção a testemunhas, depois de cumprir medida socioeducatica por envolvimento no caso. Meirelles acredita que a estratégia dos advogados de Bruno não deu certo, mas pode provocar o adiamento do júri.

Para o professor de direito penal da PUC Minas e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Leonardo Bandeira, pode haver desdobramento em outro aspecto processual: um pedido de relaxamento da prisão de Bruno. “Imagino que o Ministério Público, que o arrolou como testemunha, esteja correndo atrás dele porque, se Jorge não mora em Contagem, é a promotoria quem tem que apresentá-lo. Mas se ele não for encontrado, as partes podem argumentar que é indispensável a participação dele e o juízo pode, sim, entender que há cerceamento do direito de produzir provas, adiando o julgamento. Se o pedido for do MP, é ele quem de certa forma está atrasando o processo. Com isso, a defesa pode requerer o relaxamento da prisão”, explicou o advogado.

Marco Meirelles reforça a tese de estratégia da defesa ao avaliar que Jorge passa a ser nova testemunha no julgamento. Ontem, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais confirmou que ele foi convocado pela defesa e pela acusação. Ainda não se sabe, porém, se ele chegou a ser intimado. “Não foi coincidência. Ele estava até bem pouco tempo no programa de proteção a testemunhas e, com isso, não há tempo hábil para encontrá-lo, porque o paradeiro dele é desconhecido”, diz Meirelles.

O especialista acha arriscado também que a promotoria insista no depoimento do primo do goleiro. Ele destaca que Bruno permanece preso, sob o argumento de que poderia influenciar as testemunhas e que a última frase dita por Jorge – de que não tinha como o goleiro não saber que Macarrão planejava a morte de Eliza – é um exemplo de que esta nova testemunha também poderia ser influenciada.

“O que Jorge disse por último é o que faz Bruno ter todos os motivos para estar preso. O primo é uma nova testemunha e já foi influenciada pela defesa técnica, mas, mesmo assim, se atrapalhou e acabou prejudicando o goleiro”, diz o advogado.

“A lei diz que o preso provisório só pode ficar detido 92 dias e Bruno está há mais de dois anos. Se a defesa pedir para ouvir o primo dele, acredito que a juíza Marixa Rodrigues vá acatar, porque ela tem respeitado o amplo direito à defesa. O maior perigo é se o promotor embarcar nessa. Ele cria uma brecha e a defesa pode argumentar excesso de prazo. Se recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Bruno sai da cadeia”, pontua o criminalista.

Habeas corpus

Antes disso, porém, a defesa espera o julgamento do habeas corpus. Segundo o advogado Lúcio Adolfo, um pré-contrato foi protocolado ontem e pode ajudar na decisão sobre a possibilidade de o atleta aguardar o fim do processo em prisão domiciliar. Para ele, a volta de Jorge à mídia não é uma estratégia da defesa. “Não é manobra, mas o que é podre vem à tona. O primo diz que Bruno não mandou nada, mas a acusação diz que sim e terá de provar. Só a avaliação sobre Bruno não ter como não perceber as artimanhas de Macarrão é muito subjetiva, e será que Jorge tinha essa capacidade? Quem acredita nesse menor? A verdade é que quem tinha mais vontade de matar Eliza era Macarrão, que não admitia ninguém entre ele e Bruno”, afirma o advogado do goleiro.

Advogado deixa defesa

O advogado que acompanhava Jorge desde 15 de julho de 2010, Eliezer de Almeida, disse que o rapaz não deu satisfações sobre a entrevista nem pediu orientação. Por isso, ontem ele anunciou que não trabalha mais para o primo do goleiro. “Estou surpreso e 95% do que ele disse é verdade. Só que ele nunca me falou sobre a proposta de Macarrão para ele matar a Ingrid (Calheiros, atual mulher de Bruno), nem que Bruno não tinha como não saber que Eliza seria morta. Até onde eu sabia por ele, Bruno não mandou, não sabia e não pediu nada.”

Na entrevista, Jorge afirmou que não conhece o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, embora tenha apontado sua casa à polícia. Na fase do inquérito, ele chegou a descrever o homem que executou Eliza, fato questionado pelo seu ex-representante Eliezer de Almeida. “Ele foi convidado por Macarrão para dar um susto na Eliza, já que ela prejudicava a imagem do Bruno, mas jamais podia saber onde isso ia chegar. Ele não saiu do sítio para levá-la e foi a polícia que apresentou Bola para ele, colhendo um depoimento sem que nenhum representante legal o acompanhasse, mesmo ele sendo menor.”

Já o advogado de Bola, Fernando Magalhães, afirma que o novo depoimento comprova o que a defesa já alegava. “E o que Marcos vem bradando desde sempre: ele não participou de nada disso e foi escolhido”. O acusado será julgado em abril.


Jurados são convocados

A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues já convocou os 25 jurados, entre os quais serão sorteados sete para o julgamento de Bruno e da ex-mulher Dayanne Rodrigues, marcado para segunda-feira. Entre eles há 17 mulheres, mas o advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, criticou a seleção do conselho de sentença, feita em 25 de janeiro, argumentando que a juíza só poderia ter feito isso cerca de 15 dias antes do júri. O Tribunal de Justiça informou que a seleção foi antecipada por causa do carnaval e que a lista inicial tem 75 pessoas (25 jurados e 50 suplentes), servindo para os julgamentos de março. Os advogados de defesa dos réus – inclusive de Bruno – e o promotor acompanharam a seleção do conselho de sentença, feito por sorteio. As testemunhas também já estão selecionadas; serão cinco para Bruno, quatro para Dayanne e quatro para a acuusação.

Contradições de um crime

Conheça as versões apresentadas pelo primo de Bruno, Jorge Lisboa, e as do goleiro e de Macarrão

» 1º depoimento: ainda menor de idade, Jorge disse à polícia do Rio de Janeiro que agrediu Eliza dentro do carro e que, já no sítio de Bruno, ela passou o tempo todo vigiada dentro de um quarto, onde fazia refeições. Sobre a morte, disse que Eliza foi levada até a casa de Bola, onde foi agredida e estrangulada. Afirmou ainda que parte do corpo dela foi dado a cães rottweiler e que os pertences dela foram queimados no sítio.
» 2º depoimento: no depoimento em Minas, Jorge manteve a versão de que agrediu Eliza no carro e que a viu ser morta por Bola. Foi ele quem indicou a casa do ex-policial à polícia. O primo de Bruno disse que Macarrão chutou Eliza já caída no chão e chegou a descrever a agonia dela. O depoimento foi analisado por um perito criminal, que confirmou que os detalhes citados por Jorge são condizentes com as expressões de uma vítima de esganadura.
» 3º depoimento: no segundo depoimento à polícia mineira, já acompanhado de advogado, Jorge desmentiu as primeiras versões. Alegou que estava sob efeito de drogas nos depoimentos anteriores e que só esteve com Eliza no Rio e no sítio. Afirmou ainda que sofreu pressão de agentes para dar aquelas informações e negou que tivesse acompanhado Macarrão no dia em que ela foi morta.
» 4º depoimento: Jorge afirmou à juiza Marixa Rodrigues que não acompanhou Macarrão quando Eliza deixou o sítio. Ele confirmou que agrediu Eliza dentro do carro, ainda no Rio, e que ela circulava livremente de short jeans no sítio.

» Nova versão: em entrevista à Rede Globo, no domingo, Jorge manteve a versão de que Bruno imaginava que Macarrão deixaria Eliza em um hotel, para que ela recebesse o dinheiro que havia pedido e que fosse embora depois. Afirmou que a moça não foi mantida em cárcere privado no sítio, mas disse que Macarrão vigiava Eliza. Ele ainda acusou o amigo de Bruno de oferecer dinheiro para que Jorge matasse Ingrid, atual mulher de Bruno. No fim da entrevista, Jorge pediu que algumas perguntas fossem refeitas e afirmou que Bruno não tinha como não desconfiar de que Macarrão tramava a morte de Eliza. O primo de Bruno disse que não conhece Bola e que jamais falou o nome dele.

Versão de Macarrão
» Luiz Henrique Romão, o Macarrão, a quem o goleiro tinha pedido numa carta que colocasse em prática o plano B, assumindo o crime, afirmou em juízo que Bruno mandou matar Eliza. À juíza Marixa Rodrigues, aos prantos, Macarrão disse que tentou fazer o goleiro mudar de ideia, mas que Bruno o chamou de “bundão”. Segundo ele, a ordem era para que deixasse Eliza na Pampulha, onde um carro escuro já esperava por ela. Macarrão não citou a presença de Bola.

Versão de Bruno
» O goleiro admitiu em juízo que Eliza ficou no sítio, mas negou que tenha ficado em cárcere privado e que tenha mandado matá-la. Disse que deu R$ 30 mil a Eliza, que foi embora em um táxi, e que não teve mais notícias dela.

 

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