A mãe de Eliza Samudio, Sônia de Fátima Moura, voltou a criticar a decisão que colocou em liberdade o goleiro Bruno Fernandes das Dores, mandante do sequestro e assassinato de sua filha. “Justiça? Seis anos e sete meses preso paga uma vida humana?” Na entrevista, ao programa Fantástico, que foi ao ar ontem à noite, Sônia, que mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, falou de sua expectativa com relação ao cumprimento da pena. “Sou leiga, mas gostaria que a Justiça fosse mais ampla. Que ele cumprisse os 22 anos, o que foi dado a ele”.
Questionada sobre o que diria a Bruno, revelou inconformismo. “A primeira coisa que gostaria de peguntar a ele é o porquê de tanto ódio. Por que ele acabou com a vida de minha filha de forma tão cruel e covarde?” Emocionada, emendou: “Se você sofre 1% do que eu sofro hoje, você saberia o porquê de tanta revolta”.
Bruno Fernandes foi solto por ordem judicial na noite da sexta-feira, depois de seis anos e sete meses atrás das grades. Ele foi condenado a 22 anos e três meses, em março de 2013, acusado de ser o mandante da trama de sequestro e morte de Eliza Samudio, sua amante, que o pressionava para o reconhecimento da paternidade de seu filho, Bruninho, na época com quatro meses. O crime foi em junho de 2010 e, entre os envolvidos, também condenados, estão o ex-funcionário do goleiro Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que teria estrangulado a vítima.
A liminar determinando a soltura do ex-goleiro foi concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira à noite. Na decisão, ele argumentou que o habeas corpus impetrado pela defesa, recorrendo da condenação de 22 anos e três meses de pena, já estava há três anos sem apreciação e, portanto, deu a Bruno o direito de continuar esperando a análise em liberdade. A decisão está sujeita à análise da turma do STF, que ainda vai julgar o habeas corpus. Além disso, a Procuradoria-Geral da República pode recorrer e tentar cassar a liminar de soltura.
A advogada de Sônia, Maria Lúcia Borges Gomes, informou que vai aguardar o parecer da Procuradoria-geral da República para definir os próximos passos. Ela acredita que a manifestação vai ocorrer logo depois do carnaval. “Posso entrar com o recurso direto com a turma (do ministro Marco Aurélio), mas vou esperar e, na sequência, ver com a Sônia o que vamos fazer”, diz. Apesar da condenação, a polícia nunca encontrou os restos mortais de Eliza Samudio. Em busca mais recente, deliberada após denúncias do irmão do goleiro, Rodrigo Fernandes das Dores de Souza, preso no Piauí por estupro, a Polícia Civil não localizou qualquer resquício. Desde 2010, foram feitas 11 operações.