Os cartolas não revelaram a receita e a despesa mensal do Boa, mas argumentam que o rompimento com os patrocinadores não vai comprometer a saúde financeira do clube, que este ano disputará a Segunda Divisão do Brasileiro, um campeonato considerado caro para equipes do interior. O Boa também disputa o Módulo 2 do Mineiro, ocupando a terceira posição de seu grupo.
“Conseguimos nos manter sem patrocínio. Quem banca o Boa é a cota de TV e as vendas de jogadores. Somos um clube diferente. E as contas estão em dia”, disse o dirigente Rildo Moraes. A segunda-feira dele não foi fácil. E começou com péssima notícia: o rompimento oficial do patrocinador master, Góis & Silva, especializado em comprar firmas falidas e recuperá-las.
Diretores do grupo foram ontem a Varginha para oficializar a decisão aos irmãos. Após a reunião, a holding tornou o anúncio público: “Diante da decisão de manter a contratação do goleiro Bruno por parte da diretoria do Boa Esporte Clube, o até então patrocinador master, Góis & Silva, reitera sua posição e anuncia oficialmente que não é mais patrocinador”.
A diretoria do Boa lamentou a notícia, pois sustenta que o ex-parceiro foi consultado e havia concordado com a chegada do arqueiro. Rafael Góis, CEO da holding, anunciou apoio à contratação, no sábado, por meio de nota em que defendeu “uma segunda chance” a Bruno. Porém, no domingo, diante da enxurrada de críticas nas redes sociais da holding, o executivo recuou e pressionou o Boa a rever a contratação. Os irmãos não confirmam e o grupo Góis não comentou, mas especula-se que o fim do patrocínio renderá uma boa multa recisória em favor do clube
Além do patrocinador master e da fornecedora de material esportivo, o time perdeu outros três apoiadores. São empresas que não repassam quantia vultosa ao Boa, sendo importantes, contudo, na prestação de serviços ou fornecimento de materiais. No sábado, a Nutrends, do ramo de alimentos, já havia anunciado o fim da parceria, pela qual estampava sua marca em um dos ombros da camisa. A CardioCenter, clínica cardiológica que acompanha a saúde dos atletas, trilhou o mesmo caminho. Depois foi a vez da Magsul, clínica de ressonância magnética.
Depois de perder todos os parceiros entre o sábado e a tarde ontem, o time terá de se apoiar em outras fontes de receita. A principal delas vem da TV, que pagará R$ 4,1 milhões pelos direitos de transmissão das partidas do Boa na Série B do Brasileiro. Com base na Lei 5.669 de 2013, a Prefeitura de Varginha pode investir até R$ 32 mil no clube neste ano, embora o convênio esteja sob análise. Vendas de ingressos e uniformes, assim como eventuais negociações de atletas, podem ajudar a equilibrar o caixa.
O empresário do jogador, Lúcio Mauro, tentou minimizar a debandada de patrocinadores: “O Bruno fica triste, mas tenho certeza de que virá um master melhor do que o que saiu”. Lúcio chegou no início da tarde a Varginha. Aguardou Bruno e a esposa dele, a dentista Ingrid Calheiros, no hotel que o Boa mantém para os próprios atletas.
ADIAMENTOS A polêmica afetou a própria recepção ao arqueiro em Varginha, que estava prevista para às 15h. Bruno faria exames médicos e concederia entrevista à imprensa às 16h30. A conversa com jornalistas foi adiada, assim como a apresentação oficial. “Será apresentado amanhã (hoje) com toda certeza”, limitou-se a informar Nedo Xavier, coordenador de Futebol do Boa.
Até o fechamento desta edição, Bruno nem mesmo havia aparecido no hotel. Houve quem acreditasse, contudo, que ele tivesse chegado à cidade à tarde, e que só não apareceu em público por decisão do Boa. À noite, o empresário do jogador informou que o goleiro teve problemas na viagem do Rio para Varginha e pernoitou em uma cidade próxima.
O único torcedor que compareceu à porta do hotel, o vendedor Hélder Martins Moura, de 40, ficou decepcionado. Ele vestia uma camisa do Flamengo presenteada pelo próprio Bruno, que também jogou no Galo. “Vim tentar uma foto. Sou fã número 1 dele. Torço para o Boa e o Bruno nos dará alegria. Será convocado para a Seleção do Brasil. Esta camisa ele me deu no Maracanã, depois de usá-la num jogo contra o Vasco”, comentou, acrescentando que todo mundo merece uma segunda chance na vida. (Com João Henrique do Vale e João Vítor Marques)
TJMG deve reavaliar decisão
A 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) vai reapreciar processo relacionado ao goleiro Bruno, que poderá responder por corrupção de menores no caso da morte de Eliza Samudio. Ação julgada em setembro de 2011 pelo TJ manteve entendimento da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, de Contagem, que absolvia Bruno pelo crime. Na ocasião, o Ministério Público apelou da decisão, com recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Para o STJ, “a configuração do crime de corrupção de menores não exige a prova da efetiva corrupção do menor”, conforme foi considerado na apreciação do caso. Assim, a questão precisaria ser reanalisada pela Justiça mineira.
Camisa 1 em xeque
Varginha – Luan Polli, de 23 anos, treinou duro ontem. Fez exercícios físicos na academia e trabalho no gramado, onde defendeu bolas chutadas pelo treinador de goleiros, Aranha. O jovem, natural de Meleiro (SC), a 20 quilômetros de Florianópolis, era, pelo menos até ontem, o titular da camisa 1 do Boa Esporte, clube que trabalha com a perspectiva de anunciar a contratação do arqueiro Bruno.
O clube não permitiu que o atleta, de 1,87m de altura e pesa 86 quilos, desse entrevista ao Estado de Minas. Mas o perfil do goleiro mostra que, apesar da pouca idade, ele é experiente. Foi reserva na campanha da série C do ano passado, quando o Boa foi campeão sobre o Guarani. Assumiu a posição este ano com a saída de Daniel, que retornou de empréstimo ao São Bernardo (SP).
Curiosamente, Luan também teve breve passagem pelo Flamengo, time em que Bruno foi campeão brasileiro, e pelo Figueirense. Atualmente, mora no hotel do próprio clube, com outos companheiros. Ontem, o catarinense de cabelos e pele claros, que chegou ao clube em 2016, acordou cedo e foi para o centro de treinamentos usado pelo clube – o antigo estádio usado pelo Flamengo de Varginha, já extinto.
Lá mesmo fez os exercícios físicos. Em seguida, revezando-se com o reserva Kewin, foi para a baliza. Sob as traves, se atirou nas bolas chutadas pelo preparador, suando a camisa e ciente de que terá de batalhar pela titularidade. Mas o páreo, tudo indica, não será fácil.