Arinos – O aposentado Adão Machado, de 78 anos, ex-gerente da Fazenda Menino, afirma que durante a ditadura passaram pelo local pessoas procuradas pelo regime militar, entre elas Carlos Marighella (1911-1969), líder da Ação Libertadora Nacional (ALN) e ex-deputado federal pelo antigo PCB, partido financiado pelo empresário e idealizador de Cidade Marina, Max Hermann.
Adão Machado diz que, entre 1967 e 1968, Marighella visitou a antiga propriedade no Vale do Urucuia, no Noroeste de Minas, sob o codinome Doutor Duarte. “Ele chegou dizendo que era madeireiro, mas não conhecia nenhum nome de madeira. Ele acordava cedo e saía pelos matos. Me admirava como ele caminhava muito rápido. Tinha algum mistério com aquele homem”, relata Adão.
“Depois, quando vieram os federais – na verdade, integrantes do Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) e do Exército) –, mostraram uma foto e perguntaram se eu tinha visto aquela pessoa. Reconheci ele. Era o Marighella”.
Para Clara Charf, de 92 anos, viúva de Marighella, o testemunho de Adão também é verossímil. Em entrevista ao EM, ela chama a atenção para um detalhe lembrado pelo ex-gerente, como o fato de seu marido ter o hábito de andar sempre apressado. “Ele usava vários codinomes e, quando voltava da clandestinidade, evitava falar nomes de pessoas e por onde andou”, relatou Clara.
LAMARCA
Segundo Adão Machado, em 1968, teria passado pela fazenda um homem com o codinome de Rone, o qual ele suspeitou na época ser o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca (1937-1971). O professor e escritor Emiliano José, um dos autores de Lamarca, o capitão da guerrilha (Livraria Cultura), afirmou ao EM que não existe indícios de que o guerrilheiro tenha passado por Minas.