Realidades opostas e um único objetivo: o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O fim de semana é decisivo para Daniel Júnior Silva Rampe e Catharina Wagner Giannini, ambos de 18 anos, com histórias de vida completamente distintas, mas que têm em comum o sonho de conquistar uma vaga na universidade. De pé desde às 4h30 de ontem para se dedicar a uma dura jornada de trabalho, o aluno de escola pública e morador do Bairro Dom Bosco, na Região Noroeste de Belo Horizonte, driblou o cansaço para enfrentar o primeiro dia da maratona de provas. Do outro lado da cidade, no Bairro Luxemburgo, na Região Centro-Sul, Catharina teve a seu favor uma rotina mais leve, com direito a relaxamento e refeições balanceadas, mas não menos estressante diante da expectativa de fazer bonito no teste. Como eles, 4 milhões de candidatos deixaram ontem as peculiaridades de seu dia a dia e se igualaram ao encarar o teste em todo o país, em um clima que, pelo menos no primeiro dia, desarmou o temor da repetição da lista de problemas das últimas edições.
Os maiores problemas nas 150 mil salas de aula dos 1,6 mil municípios brasileiros onde o Enem está sendo aplicado se limitaram a estudantes que não puderam fazer provas devido a atrasos, falta de documentos, uso de equipamentos eletrônicos ou até postagens em redes sociais em sala. Segundo o Ministério da Educação, a abstenção chegou a 25,29% no país, índice alto, mas menor que o do ano passado, que ficou em 27%. Minas seguiu a média nacional, com 25,37% de candidatos ausentes. Em BH, a chuva e o trânsito carregado foram os principais desafios para os 103,3 mil inscritos. Hoje será a vez de testar os conhecimentos nas provas de redação, matemática e linguagens e códigos, a partir das 13h, com maior tempo de avaliação – cinco horas e meia.
Nos dois principais locais de prova da capital mineira, o câmpus Pampulha da UFMG e a PUC Minas Coração Eucarístico, o exame começou com cinco minutos de atraso, às 13h05. Apesar de todas as recomendações para que os alunos chegassem com pelo menos uma hora de antecedência, ainda houve quem perdesse a hora e um ano inteiro de dedicação. Foi o caso de Gregório Ribeiro Abjaudi, de 23 anos. Técnico em enfermagem, ele trabalhou até o meio-dia na Savassi e nem mesmo escolhendo o meio de transporte mais rápido conseguiu chegar a tempo na UFMG. “Estava de moto e caí no Complexo da Lagoinha. Mesmo assim segui em frente, mas tive a chuva e o trânsito para me atrapalhar. Queria muito tentar uma vaga em medicina.”
Contrariando a trajetória de erros e falhas trilhada nas duas últimas edições, o Enem escapou ontem das críticas e reclamações dos candidatos. “A prova estava tranquila e não encontrei qualquer problema. Parece que, desta vez, o processo está mais organizado”, disse Alessandra Queiroga de Morais, de 22, que fez o teste na Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de BH. As queixas ficaram por conta de velhas conhecidas: questões longas e uma avaliação cansativa.
Confusão
Mas o Enem virou caso de polícia para pelo menos 20 pessoas inscritas na Newton Paiva – Unidade Juscelino Kubitschek e na Escola Estadual Professor Francisco Brant, ambos no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH. Segundo os estudantes, nesses dois lugares os portões foram fechados antes das 13h. Pais e candidatos registraram boletim de ocorrência. Na Newton, segundo testemunhas, pelo menos 100 pessoas foram impedidas de entrar. Houve tumulto e foi preciso intervenção da Polícia Militar. A estudante Ísis Jacovine Portela, de 23, contou que houve truculência na ação. “Às 12h52, fecharam a porta de forma arbitrária. Não estavam preparados e não houve respeito. Quem estava na fila para entrar ficou de fora”, disse. Também houve tumulto na UNA, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul da capital. Segundo a PM, um grupo de 20 candidatos chegou atrasado e forçou a entrada, danificando o portão. Ninguém foi preso. O MEC informou que, nos dois casos, os portões foram fechados às 13h, de acordo com o controle de horário dos fiscais.
Tensão e alívio
Nos ombros de Catharina Wagner Giannini, de 18 anos, pesam o trauma de uma experiência malsucedida em 2010 e a expectativa de quem se dedicou de segunda a segunda à preparação para o Enem. Amparada pela família e com a bagagem adquirida na escola campeã das últimas edições do exame nacional, o Colégio Bernoulli, a adolescente aposta, este fim de semana, todas as fichas para o seu futuro. “Estou um pouco ansiosa, mas me sinto mais preparada por já ter feito a prova antes”, disse. Ontem, a garota acordou às 7h40, tomou um café reforçado cuidadosamente preparado pela avó, organizou o lanche e os materiais para a hora H. Na pasta, lugar especial para remédios contra dor de cabeça. No ano passado, o estresse foi redobrado depois que a confusão tomou conta do local de prova, onde faltou energia. Na saída, um motorista particular aguardava para levá-la ao Instituto Metodista Izabela Hendrix, no Bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH, onde faz o exame, de olho numa vaga em medicina. “Fui muito bem no primeiro dia, deu tudo certo. Isso me deu mais confiança para encarar o domingo.”
Cansaço e esperança
O Enem foi a última das obrigações de Daniel Júnior Rampe no sábado. Às 4h30, um estridente despertador o tirou da cama para o início de uma jornada de cinco horas de trabalho como cobrador e vendedor na Ceasa Minas. Depois da correria contra o tempo para deixar em dia o serviço que normalmente renderia até o início da tarde, ele finalmente tomou o ônibus para casa, no Bairro Dom Bosco, às 10h30 – hora de tentar repor as energias num rápido cochilo. No apartamento, passou a roupa que usaria na prova e aproveitou os cinco minutos restantes para engolir dois pães com mortadela. “Vai ser meu almoço. Não tenho mais nem um minuto a perder”, disse Daniel, já rumo ao ponto de ônibus. A chuva atrasou o percurso, mas ao meio-dia ele já estava no câmpus Coração Eucarístico da PUC Minas. Ansioso, depositava ali todas as esperanças de conquistar uma vaga em direito e ser o primeiro da família de três irmãos e dezenas de primos a ter um curso superior. “O primeiro dia foi cansativo e difícil, mas deu para encarar. Tenho que guardar forças, porque ainda falta o mais importante, a redação.”
Para a prova de redação
A redação deve ser um texto dissertativo-argumentativo de no máximo 30 linhas, desenvolvido a partir de uma situação problema e de subsídios oferecidos para uma reflexão escrita sobre um tema político, social ou cultural
O que leva a zerar a redação
Não atender a proposta solicitada ou desenvolver outra estrutura textual que não seja a do tipo dissertativo-argumentativo, o que configurará “fuga ao tema/não atendimento ao tipo textual”
Entregar a folha de redação sem texto escrito, o que é considerado “Em branco”
Escrever até sete linhas, qualquer que seja o conteúdo, o que configura “texto insuficiente”
Linhas com cópia dos textos motivadores apresentados no caderno de questões são desconsideradas para efeito de correção e de contagem do mínimo de linhas
Apresentar impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação
Para a prova de língua estrangeira
A prova de linguagens e códigos terá cinco questões de língua estrangeira, conforme a opção escolhida na inscrição: inglês ou espanhol
Não é permitido trocar a opção no momento da prova. Se tiver dúvidas, confira o seu cartão de confirmação da inscrição. Lá está registrada a sua escolha
SERVIÇO
Os portões de acesso aos locais de prova serão abertos ao meio-dia e fechados às 13h. Recomenda-se que todos os participantes compareçam até as 12h (horário oficial de Brasília)
Use apenas caneta esferográfica de tinta preta fabricada em material transparente. Lápis, borracha e lapiseira não podem ser usados
Hoje, as provas serão de linguagens e códigos e matemática, com 45 questões cada, e da redação. O tempo total de testes é de cinco horas e meia
Antes de iniciar o teste, verifique se o caderno de provas contém a quantidade de questões indicadas no cartão de respostas
Fique atento! O participante deve marcar nos cartões resposta a opção correspondente à cor da capa do caderno de questões e transcrever, nos cartões resposta, a frase apresentada na capa de seu caderno de questões. Rascunhos e marcações assinaladas nos cadernos de questões não serão considerados
Leve documento de identificação original com foto. São aceitos: cédula de identidade ou RG, emitida por secretarias de segurança pública, Forças Armadas, Polícia Militar ou Polícia Federal; identidade expedida pelo Ministério das Relações Exteriores para estrangeiros; identificação fornecida por ordens ou conselhos de classe, que por lei tenham validade como documento de identificação; Carteira de Trabalho e Previdência Social; certificado de reservista; passaporte; Carteira Nacional de Habilitação com foto
Os gabaritos das provas serão divulgados na terça-feira (dia 25), no portal do Inep
Os resultados individuais do Enem 2011, serão divulgados a partir de 4 de janeiro de 2012, mediante inserção do número de inscrição e senha ou CPF e senha
Motivos que podem levar à eliminação do candidato
Qualquer espécie de consulta ou comunicação com outro participante
Uso de lápis, lapiseira, borracha, livros, manuais, impressos, anotações, óculos escuros e quaisquer dispositivos eletrônicos
Deixar a sala de provas antes de duas horas após o início do exame