A principal incógnita do vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está com os dias contados. A instituição decretou o fim da polêmica fórmula matemática usada para converter as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na convocação para a segunda etapa do processo seletivo. A nova ferramenta será anunciada no mês que vem, depois de reunião do Conselho Universitário, quando serão definidas as regras do concurso. Usada nos dois últimos vestibulares, a fórmula, batizada de equipercentile ou polinômio de grau 12, era criticada por alunos e professores, que apontaram distorções na conversão das notas.
A principal justificativa da UFMG para usar o cálculo matemático na convocação dos alunos é a política de bônus do vestibular, que garante acréscimo de até 15% na nota de estudantes vindos da rede pública de ensino. Segundo a universidade, com a substituição da primeira etapa do processo seletivo pelo Enem, a conversão das notas do exame, que variam de zero a mil, para a escala da UFMG (de zero a 64 pontos) não poderia ser feita de maneira direta, por exemplo, por regra de três, pois haveria risco de injustiça com os candidatos sem direito ao benefício.
Para o próximo vestibular, a base para a mudança na fórmula matemática será a reavaliação da política de bônus que, conforme o Estado de Minas mostrou nas edições de domingo e de ontem, será alterada este ano pela universidade. “O polinômio foi criado para não superestimar nem anular o efeito do bônus na conversão das notas. Como o benefício será rediscutido em maio, teremos mais liberdade para pensar numa alternativa que não seja tão complexa quanto o polinômio. A tendência é de que o processo seja simplificado com novas ferramentas para facilitar os cálculos”, disse a pró-reitora de graduação da UFMG, Antônia Vitória Aranha.
Aplicado nos vestibulares 2011 e 2012, a fórmula foi alvo de pesadas críticas em dezembro, na divulgação dos resultados do Enem. Conforme o EM denunciou, um candidato que tivesse acertado todas as questões do exame não tinha garantia de nota máxima na convocação para a segunda etapa. Por causa da fórmula, a maior pontuação atingida seria 61,3 pontos, numa escala de zero a 64. O limite máximo só poderia ser alcançado por estudantes com direito ao bônus.
Mesmo depois de reconhecer a complexidade da fórmula e admitir a necessidade de mudanças, a universidade nega a possibilidade de erros e distorções nos cálculos do polinômio. “A fórmula foi criada apenas para traduzir a nota do Enem, mas, infelizmente, era muita complexa. Ela era necessária para calibrar o bônus e foi muito eficiente, evitando que a UFMG cometesse injustiças como a registrada na Universidade Federal Fluminense (UFF)”, explicou o doutor em estatística e autor da fórmula, José Francisco Soares. Na instituição do Rio de Janeiro, apenas três de 1.748 candidatos conseguiram ser aprovados sem bônus no vestibular por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
REPERCUSSÃO
Nos cursinhos pré-vestibulares, o anúncio do fim da fórmula foi bem-recebido, mas há receio. “Uma ferramenta mais simples dará mais transparência ao processo seletivo. As dificuldades matemáticas de acertar o polinômio levarão a UFMG a simplificar a política de bônus. Mas as modificações foram tantas e tão grandes nos últimos anos que aconselho aos alunos não sofrerem por antecedência. Vamos aguardar as definições pensando que a universidade tomará decisões coerentes, embasadas e maduras”, afirmou o diretor de ensino do Colégio e Pré-Vestibular Bernoulli, Rommel Fernandes Domingos.
Nas salas de aula do Polo Vestibulares, em BH, alunos ficaram aliviados. “Até professor de matemática tem dificuldade de entender essa fórmula. As regras do vestibular precisam ser mais claras”, disse o estudante Igor Morais, candidato a uma vaga em medicina. Os colegas Gabriel Paulino e Karoline Loschi concordam. “É cedo para falar do impacto da mudança no vestibular, pois não sabemos quais critérios a UFMG adotará, mas uma nova opção mais simples e fácil de entender certamente será positiva”, disse Karoline.
O POVO FALA: O QUE VOCÊ ACHA DO FIM DA FÓRMULA?
Bárbara Porto, de 19 anos, candidata ao curso de medicina
“O polinômio criado pela UFMG é muito complicado. Uma ferramenta mais simples na conversão das notas do Enem daria mais confiança aos candidatos e mais transparência ao vestibular”
Marco Aurélio Cotta, de 25 ANOS, candidato ao curso de medicina
“A fórmula é complexa, mas não sei se deveria ser aposentada. Penso que mais uma mudança no vestibular vai gerar insegurança nos alunos. Nos últimos anos, foram muitas as novidades. A gente se prepara com um foco, mas todo ano eles alteram o edital do vestibular”