Em pré-vestibulares de Belo Horizonte, a possível sanção da lei que cria cota de 50% para alunos que vêm de escolas públicas já alimenta discussões nas salas de aula. Nos mais badalados cursinhos da capital, a mudança gera ansiedade entre vestibulandos, preocupados com uma provável piora no padrão de excelência dos cursos da UFMG. Já nos cursinhos mais populares, o clima é outro. A mudança é aguardada com enorme expectativa pelos alunos, a maioria deles provenientes da rede pública de ensino e sonhando com uma vaga na UFMG.
“Sem as cotas, não tenho nenhuma chance de passar em medicina. Para você ter uma ideia, nem sequer tive aula de física no 3º ano do ensino médio da minha escola”, afirma Cíntia Lima, de 18 anos, que sempre sonhou tornar-se médica, mas decidiu optar pela odontologia por falta de condições de passar no vestibular mais concorrido. “Agora, se os 50% forem aprovados a tempo, quem sabe eu tenho chance?”, pergunta-se ela, que trabalha meio período como operadora de telemarketing para ajudar a pagar as mensalidades do pré-vestibular. Já a amiga Gabriela Monteiro, de 17, que estudava na mesma escola de Cíntia, nem tentou o exame no ano passado para ciências biológicas: “Estava saindo de uma greve. As aulas acabaram no fim de janeiro e os professores não terminaram o livro”.
Em um dos pré-vestibulares mais puxados da capital, as opiniões dos vestibulandos são taxativas. “Essa lei é um tapa-buracos para o ensino público deficitário do governo”, protesta Paulo Resende, de 24, que está no quarto vestibular para medicina na UFMG, mesmo tendo estudado em colégios particulares. “É preciso melhorar o ensino a partir da base. Senão, daqui a pouco vamos criar testes como o exame da OAB em todos os cursos, para avaliar a qualidade de cada profissional que se forma. Permitir a entrada de pessoas sem ensino adequado vai refletir no mercado de trabalho e isso poderá prejudicar a sociedade como um todo.”
Já os estudantes Kelmer Brum, de 20, de Ipatinga, em seu terceiro vestibular para medicina, e Lorena Silva Duarte, de 19, na segunda tentativa para o mesmo curso, acreditam que a lei poderá gerar distorções. “Tenho um amigo cuja irmã estuda em faculdade paga, mas o pai o matriculou em escola pública no ensino médio, para que ele tivesse chance de entrar com as notas no sistema de cotas”, afirma Kelmer. Para Lorena, os alunos provenientes de escolas públicas que conseguem o mesmo suporte de dois anos de cursinho, equivalentes aos que ela teve, poderiam competir em pé de igualdade. “O problema é que eu tenho de fazer 95% da prova e eles têm de fazer só 75% para passar em medicina. Perco a minha vaga por alguns décimos”, compara.