As universidades federais igualam amanhã a marca da maior greve da história das instituições, ao completar 112 dias de paralisação, a exemplo do que ocorreu em 2005. Nos bastidores, a semana de recordes está sendo considerada decisiva. Amanhã e quinta-feira, os câmpus serão tomados por assembleias em todo o país e há grande expectativa por um indicativo de retorno às salas de aula na segunda. Enquanto isso, os professores se agarram às negociações com o Congresso Nacional, estudantes contabilizam os prejuízos e reitores e pró-reitores admitem que o calendário só voltará ao normal em 2015.
Em Minas, a situação só será diferente em três das 11 instituições, pois as federais de Minas Gerais (UFMG), de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata, e de Itajubá (Unifei), na unidade de Itabira (Região Central do estado), aderiram depois. Na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em greve desde o início do movimento, em meados de maio, o descompasso que já alterou o atual ano letivo trará reflexos nos próximos dois anos. “O calendário será discutido com os conselhos (universitários), mas as aulas do primeiro semestre, que normalmente começam no fim de fevereiro, pressuponho, só começarão em abril”, diz o reitor da universidade do Sul de Minas, Paulo Márcio de Faria e Silva.
Projeções
Em outra universidade do Sul do estado, a Federal de Lavras (Ufla), foram feitas várias simulações de calendário, com diferentes dias de retorno às aulas, de hoje até 1º de outubro. Com os trabalhos recomeçando até o dia 24 e um intervalo de duas semanas entre um semestre e outro, os primeiros seis meses letivos de 2013 só começariam em maio. “Vida normal, apenas em 2015, mas, se a greve se estender até outubro, terminaremos o segundo semestre de 2014 no ano seguinte”, comenta a pró-reitora de Graduação, Soraia Alvarenga Botelho.
Em comunicado especial, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) orientou os comandos locais a fazer assembleias nos próximos dois dias para apresentar uma provável data de fim do movimento ou reiterar a continuidade dele. A saída do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), que representa os professores dos institutos federais, é considerada outro sinal de que a greve está perto do fim. A categoria retoma os trabalhos na segunda-feira. O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), no entanto, mantém a paralisação.
Mesmo com possibilidade de volta, os comandos locais de greve são enfáticos. “O retorno não significará que aceitamos. Haverá manifestações e continuaremos a lutar por nosso plano de carreira”, afirma o presidente do comando de greve da Ufla, Eric Fernandes de Mello Araújo. O professor Gilberto de Araújo Pereira, do comando da Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), reitera: “Talvez este seja um momento histórico no país. Não podemos ficar em greve para o resto da vida, mas se governo tem ideia de que vamos parar, está errado. Mesmo voltando, o movimento continuará com as reivindicações e a mobilização”.
Congresso é a nova esperança
O Senado agora representa a grande esperança de um plano de carreira para os grevistas, principalmente depois da reunião na semana passada com a Comissão de Educação da Casa. Os parlamentares assinaram carta para ser encaminhada aos ministérios do Planejamento e da Educação e à presidente Dilma Rousseff, pedindo a reabertura de negociação. “Foi aberta uma pauta direta com os senadores para buscar soluções, considerando que isso está afetando todo o país”, afirma a integrante do comando de greve da UFMG Dirlene Marques.
Em Minas, duas instituições votaram indicativo pelo fim da greve. Os professores da Unifal sugeriram o encerramento da paralisação na segunda-feira e os da Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), no dia 17. Eles aguardam agora as decisões das outras universidades. Integrante do comando de greve de Alfenas , o professor Wellington Ferreira Lima aposta nas negociações com o Congresso Nacional e diz que a universidade está pronta para retomar as aulas na terça-feira. “Como mudou a arena de discussão, não vale a pena entrar em choque com quem estamos tendo uma boa relação. Tivemos um grande impasse com o Executivo, mas os parlamentares nos atenderam. Sair em bloco é mostrar que temos capacidade de mobilização”, ressalta.
Os ministérios da Educação e do Planejamento, por sua vez, reiteram que as negociações estão encerradas e oferecem reajuste de no mínimo 25% e no máximo 40% escalonados em três anos (2013, 2014 e 2015). O Sindicato Nacional dos Docentes aceitou o piso de R$ 2.018,77 e o teto de R$ 17 mil propostos pela União, mas exige a reestruração da carreira.
Matrícula na UFMG
Em meio ao impasse, começa depois de amanhã o prazo para os calouros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirmarem o registro acadêmico e fazerem a matrícula do segundo semestre. Os alunos têm até quarta-feira que vem para garantir a vaga na instituição. Apesar da greve dos professores, os novos universitários estão sendo convocados, porque a maior parte dos cursos concluiu o primeiro semestre. A UFMG foi a última a aderir à paralisação, em junho.
As instruções e a escala de atendimento por curso estão disponíveis no site www.ufmg/drca. Os cerca de 2,8 mil calouros devem apresentar documentação ao Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA) da UFMG, na Unidade Administrativa III, no câmpus Pampulha (Avenida Antônio Carlos, 6.627). Informações: (31) 3409-4588.