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Estado de Minas

Índice de vagas ociosas para bolsas no exterior passa dos 40% na UFMG


postado em 22/10/2012 07:31 / atualizado em 22/10/2012 07:43

Segundo Eduardo Vargas, um terço dos alunos da UFMG não deve conseguir passar no teste de idioma para bolsas de estudos no exterior(foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Segundo Eduardo Vargas, um terço dos alunos da UFMG não deve conseguir passar no teste de idioma para bolsas de estudos no exterior (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

Um mundo globalizado, até o ensino quer cruzar fronteiras e explorar outros territórios. Mas, nos câmpus das universidades federais brasileiras, o desejo de expandir o aprendizado esbarra numa barreira fundamental: o idioma. A dificuldade de enviar alunos para cursar parte da graduação em instituições estrangeiras se espalha pelo país. Na maior federal de Minas Gerais, a UFMG, esse e outros fatores fazem com que boa pare das bolsas oferecidas não seja preenchida. Nos programas disponíveis, o índice de vagas não preenchidas por falta de qualificação dos candidatos passa dos 40%.

Somente pelo Ciência sem fronteiras, programa do governo federal, a UFMG enviou 295 alunos para diferentes países da América do Norte, Europa e Ásia. Mais 412 inscrições foram homologadas no edital mais recente, mas o diretor de Relações Internacionais, Eduardo Vargas, acredita que apenas um terço dos candidatos (137 alunos) conseguirão preencher todos os requisitos. “Estudamos a possibilidade de o programa Inglês sem fronteiras, que o governo federal quer implantar, vir para a universidade e fazê-lo realmente sem fronteiras, estendendo o benefício a todos os alunos e não somente àqueles das áreas prioritárias do governo”, afirma.

No carro-chefe da UFMG, o Minas Mundi, programa internacional que visa promover o intercâmbio científico e cultural entre a universidade e instituições estrangeiras parceiras, a proporção de aprovados também não chega a 70%. Na seleção de 2011, dos 522 inscritos, 341 viajaram (65%). Este ano, dos 622 candidatos, 365 (59%) terão no passaporte o visto para embarcar no início do ano que vem. Eduardo Vargas explica que, no caso do Minas Mundi, a diminuição do interesse foi causada pelo Ciência sem fronteiras, que acabou atraindo muitos candidatos, e pela oferta de vagas, que pode ser maior que a demanda. “Pode ocorrer de termos uma universidade no interior da França, por exemplo, oferecendo 40 vagas, mas não temos 40 estudantes que falam francês ou querem ficar lá”, diz.

O curso oferecido e o perfil dos alunos também devem estar em sintonia. O publicitário Gabriel Aragão, de 26 anos, que se formou em comunicação no meio do ano, tentou bolsa para os Estados Unidos, Dinamarca e Portugal, mas foi recusado nos três processos, mesmo tendo alcançado a proficiência no inglês, exigida pelas universidades dos dois primeiros países. Ele acredita que a reprovação tenha ocorrido na entrevista.

“Quando o problema é a habilidade no idioma temos retorno. Na entrevista não. Então, não sei quais pontos das minhas respostas não agradaram”, conta. Mas ele não desistiu: vai começar uma pós-graduação no início do ano que vem em Belo Horizonte e se inscrever no Ciência sem fronteiras para uma vaga numa universidade da Inglaterra e outra da Argentina, no fim de 2013, na área de publicidade. “Já morei fora, na Austrália e na Argentina, mas não tive uma experiência acadêmica, que deve ser muito interessante.”

INVESTIMENTO

O valor das bolsas oferecidas pode ser outro empecilho para a diferença entre o número de inscritos e o de aprovados. “Temos muita gente de classe média que consegue sobreviver aqui, mas não dá conta lá fora e, por isso, esses meninos precisam de ajuda de custo”, afirma Eduardo Vargas. A UFMG vai aumentar o investimento. que ano passado era de R$ 981 mil, para R$ 1,5 milhão. O benefício é concedido de acordo com critérios socioeconômicos.

Somente a UFMG responde por 12% de toda a mobilidade internacional das instituições federais de ensino superior. O diretor acredita que o processo, ainda tímido no país, será bem diferente daqui a 10 anos. “Ele não estava na nossa agenda, havia outras prioridades e, para muitos, a internacionalização era luxo. Isso está mudando e ficando mais acessível. É uma questão de geração. A atual vê que é possível, mas ainda está surpresa. E não é só uma questão de mobilidade. É preciso fazer publicação também. A língua é um desafio que está suscitando mudanças, como abrir possibilidades de disciplinas em mais idiomas”, diz.

Quem passou pela experiência aprova o investimento. Aluno do 8º período de comunicação da UFMG, Augusto Molinari, de 24, foi para a Universidade Por Vergata, em Roma, na Itália, em agosto do ano passado e voltou em fevereiro. Pelo Minas Mundi, ele conseguiu uma bolsa, mas teve que completar as despesas do próprio bolso. “Valeu a pena pela experiência. Você vai para outro país, tem que se virar sozinho, lidar com situações que nunca passaria morando com os pais e conviver com gente completamente diferente e pouco receptiva”, diz. “Em termos acadêmicos, foi muito legal para valorizar o ensino da UFMG”, acrescenta.

Para ser selecionado, Augusto passou por rigoroso processo, que incluiu prova escrita e entrevista em italiano e elaboração de carta de intenção. Ele, que é descendente de italianos, mas não falava o idioma desde criança, precisou correr atrás para retomar a fluência. Entre os outros candidatos, foi clara a percepção de que a língua estrangeira é realmente um problema: “Algumas pessoas falavam a língua, mas pior do que outros estudantes. Outras entraram num curso de última hora e não conseguiram, porque o nível de aprendizado não era suficiente para segurar a onda lá. Da minha sala, três candidatos, dois para a França e um para a Espanha, não foram aprovados por esse motivo”.


MEC busca solução

Para diminuir o problema de preenchimento de vagas para os cursos ofertados em universidades estrangeiras, o Ministério da Educação (MEC) aposta no Inglês sem fronteiras. O programa ainda está sendo desenhado considerando três pontos. O primeiro é a baixa demanda de estudantes inscritos para países de língua inglesa ou que exijam o certificado de proficiência. O segundo é a falta de pontos de aplicação no Brasil dos testes que medem a habilidade no idioma. O outro fator é a ausência de dados sobre o real nível de proficiência em língua inglesa dos estudantes das universidades públicas, que impossibilita o diagnóstico e o planejamento de ações específicas.

As discussões foram parar na mesa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A organização e o planejamento do projeto envolvem 10 universidades federais, entre elas a de Minas Gerais (UFMG), de Uberlândia (UFU) e do Triângulo Mineiro (UFTM).

A ideia é que os estudantes sejam preparados linguisticamente para participar dos intercâmbios. Entre as medidas que serão adotadas estão previstos o credenciamento das instituições de ensino superior federais para aplicar as provas de proficiência exigidas para os intercâmbios; a aplicação em nível nacional de testes de nivelamento em língua inglesa para diagnosticar a situação dos estudantes que tenham o perfil para se inscrever no Ciência sem fronteiras; e a implantação de aulas pela internet no ambiente das universidades. A médio e longo prazos, a expectativa é investir também na capacitação dos alunos para apresentação de trabalhos científicos em outro idioma.

Outra flexibilização é o tempo de matrícula na universidade. No início, era exigido que o aluno tivesse cursado de 40% a 80% da faculdade no Brasil. Agora, a faixa varia de 20% a 90%.


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