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Estado de Minas

Lei das cotas aumenta ansiedade dos candidatos ao Enem

Milhares de estudantes entram na reta final para a prova do próximo fim de semana sem saber ao menos a relação candidato/vaga nas universidades, conforme a lei das cotas


postado em 27/10/2012 06:00 / atualizado em 27/10/2012 07:20

"Se as cotas agirem em conjunto com a melhoria da educação, seria razoável existirem por um tempo", Rafael Bahia Leite Montes, de 17 anos, aluno do Colégio Arnaldo (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
O cronômetro parece avançar mais rápido do que o normal, afinal falta exatamente uma semana para a prova que definirá o destino de cerca de 6,5 milhões no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o país. De olho numa vaga na universidade, é hora de ajustar os ponteiros para enfrentar a maratona de sábado e domingo que vem. Na reta final, não adianta aprender novos conteúdos. O melhor mesmo é revisar e descansar. Além da ansiedade com a avaliação, milhares de candidatos em Minas Gerais – são 723.644 inscritos no estado – vão pôr os conhecimentos à prova num cenário de indefinições. Eles se submeterão ao teste em meio a editais incompletos, desconhecimento sobre a quantidade de vagas reservadas e sem saber nem mesmo a real concorrência. Apesar das incertezas, a ordem é não se abalar e se concentrar para fazer bonito.

Na maior federal de Minas Gerais, a UFMG, o prazo para envio das orientações aos alunos que quiserem optar pelas cotas ainda não foi definido. Logo, quem se inscreveu para o vestibular da instituição fará o Enem, válido para a primeira etapa da seleção, sem ao menos saber a relação candidatos/vaga. Mas a instituição garante que, internamente, os procedimentos estão sendo tomados e há prazo suficiente, pois a segunda etapa será aplicada apenas em janeiro.

Na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), as inscrições estão abertas até quarta-feira. Mas no edital vigente não há menção à reserva das 12,5% das vagas. Estão previstos para o início da semana a retificação do edital e a publicação das orientações aos candidatos. Cogita-se também a prorrogação das inscrições. Na federal de Ouro Preto (Ufop),  os candidatos farão o Enem sem saber também a quantidade de vagas reservadas. A decisão ficou para dia 14. Atualmente, 30% das cadeiras são destinadas a cotas, mas a Ufop não contempla os mesmos critérios exigidos pela legislação. Na Federal de São João del-Rei (UFSJ), nos Campos das Vertentes, as inscrições, que estavam suspensas, foram reabertas esta semana e vão até o dia 12.  

"Se você acertar a questão difícil, deve acertar a fácil. Se acerta a difícil e erra a fácil, podem anular, achando que você chutou.", Gabriela Delamare Nascimento Ruas, de anos 17, aluna do Colégio Arnaldo (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
Candidata a uma vaga em direito, Gabriela Delamare Nascimento Ruas, de 17 anos, aluna do Colégio Arnaldo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, não se assusta com as cotas e diz que não mudou a rotina depois da sanção da lei. “Acho quer vai mudar muito pouco, pois a quantidade de alunos de escolas públicas que entravam na UFMG já estava em torno de 50%. A boa preparação é a questão que ainda garante a entrada na universidade, até porque o estudante da rede pública terá de passar pela mesma prova que eu. E ele também tem capacidade de ser um bom aluno, por que não?”, ressalta.

O colega dela Rafael Bahia Leite Montes, de 17, candidato ao curso de comunicação social, habilitação em jornalismo, também não se preocupa com as cotas. “Como a lei não foi totalmente aplicada, não mudará muito, por isso mantive o nível de estudos. Só quando houver a implantação total ficará mais difícil para o aluno da escola particular. Então, ele deverá aumentar o nível de estudo o máximo possível. Até a competição entre as escolas vai crescer”, diz.

Rotina estressante

 

"As cotas deveriam ser temporárias e deveria haver mais investimento na escola pública, pois o nível das federais pode até cair.", Maria Carolina de Oliveira Resende, de 17 anos, aluna da E. E. Professor Leopoldo de Miranda (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)
Do outro lado, Maria Carolina de Oliveira Resende, também de 17, aluna da Escola Estadual Professor Leopoldo de Miranda, no Bairro Santo Antônio, também na Região Centro-Sul, concorria a uma vaga em arquitetura com bônus e vai optar pela cota assim que a UFMG liberar a retificação. A menina concilia o 3º ano com o cursinho à tarde e se desdobra para assimilar uma matéria e outra. “Comecei a ver muito conteúdo que não tinha aprendido na escola ou que tinha de maneira diferente”, conta. Ela define esses últimos momentos com poucas palavras: “É uma rotina estressante”.

"O estresse vai lá em cima e a paciência lá embaixo. Faltando uma semana para o Enem, é correria.", Luiza Ribeiro Velasquez Santos, de 17 anos, aluna da E. E. Professor Leopoldo de Miranda (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)
Outra aluna da Professor Leopoldo, Luiza Ribeiro Velasquez Santos, da mesma idade, depende do Enem para tentar educação física em quatro federais. Ela sente que o entusiasmo dos estudantes da rede pública com lei: “Os alunos não tinham confiança para disputar com os das particulares. Agora, muita gente se animou a fazer o vestibular”.

Vice-diretora da Escola Estadual Irmão Afonso, em Uberaba, Cheila Márcia Moreira, confirma que as cotas tiveram repercussão positiva. Professores do colégio do Triângulo Mineiro e voluntários do Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifet) e da UFTM dão aulas preparatórias para o Enem aos sábados. “Temos alunos que passaram na universidade federal em anos anteriores e montamos mural com o nome de todos para mostrar que são capazes de ser e fazer. Às vezes, o que falta é incentivo”, diz. Ela também acha positivo, mas com ressalvas: “Como educadora, creio que não seria esse o caminho. Teria que se investir realmente mais na escola pública para não ser necessário cota. Mas, por outro lado, antes o aluno de escola pública nem sonhava com isso. Hoje tem uma perspectiva maior”.


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