O Ministério da Educação (MEC) divulgou ontem a lista dos cursos universitários do país proibidos de abrir vestibulares e matricular alunos por causa do desempenho da nota no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) em 2008 e 2011. Dos 112 cursos com tendência positiva, ou seja, que saíram da nota 1 para a nota 2 no Conceito Preliminar de Curso (CPC), 16 estão em Minas. E dos 88 que tiveram queda de 2 para 1, cinco são de universidades mineiras. Em escala até 5, segundo o MEC, os conceitos 1 e 2 são considerados insatisfatórios e os cursos ficam sujeitos a medidas de regulação. A decisão é que, em 2013, novos alunos não sejam matriculados, mesmo os que já foram aprovados no vestibular deste ano.

Segundo o ministério, os que aparecem na lista positiva têm até o próximo vestibular para sanar as deficiências e voltar a selecionar alunos. Na negativa, as universidades estão suspensas até 2014, quando poderão receber estudantes se fizerem as mudanças necessárias. Quem passou no processo seletivo e aguarda o período de fazer matrícula nas universidades sai prejudicado. Esse é o caso da estudante Sílvia Haueisen, de 17 anos.

Ela começaria a estudar em 2013 engenharia civil na PUC Minas, câmpus Coração Eucarístico, e faria a matrícula em janeiro, mas o curso está na lista e ela apreensiva. Sílvia conta com a vaga caso não obtenha um bom resultado no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“A PUC é uma garantia. Agora, a pressão aumenta para passar na UFMG. Vou ter de estudar mais”, afirmou. A futura universitária foi aprovada também em engenharia ambiental no Cefet. “Não é bem o que quero, só que vou precisar pensar com carinho para não correr o risco de ficar à toa no ano que vem caso não passe na UFMG”, disse. A PUC Minas informou, em nota, que ainda não foi notificada pelo Ministério da Educação sobre a medida. E esclarece que a decisão impacta somente o curso de engenharia civil do Coração Eucarístico, sendo que nas demais unidades os alunos já foram matriculados. A nota diz que após a notificação a PUC fará os encaminhamentos necessários no que diz respeito aos candidatos aprovados no vestibular para primeiro semestre de 2013.

Amor e ódio

Para Wille Muriel, diretor da Carta Consulta, empresa que capacita instituições de ensino superior, 70% da nota do CPC é influenciada pelo aluno, já que 55% do índice vem do Enade e 15% trata de questões de infraestrutura, que também são respondidas pelos estudantes. “Temos de lembrar que a relação entre aluno e faculdade é de amor e ódio. Se o professor o atrapalhou ou lhe deu nota que considera injusta, você acaba pesando a mão contra a instituição. O MEC aplica um indicador que é muito frágil”, avalia o especialista. No entanto, Muriel chama a atenção para o fato de uma mesma instituição receber seguidas notas negativas. “Por mais frágil que seja o indicador, se a faculdade está tomando notas baixas repetidas vezes é um sinal de que algo está errado”, alertou.

O curso de geografia (licenciatura) da Universidade Federal de Viçosa aparece na lista com tendência de aumento da nota. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, a nota baixa se deve ao boicote dos alunos ao Enade em 2008. Um comissão do ministério esteve em maio de 2010 na instituição e concluiu que o curso tem um bom perfil, obtendo conceito 4. “A UFV está aguardando as orientações do MEC e se empenha em resolver todas as pendências detectadas pelo ministério, objetivando reverter a situação e ter o processo seletivo autorizado”, informa a nota. O conceito preliminar de curso avalia o rendimento dos alunos, a infraestrutura e o corpo docente. O desempenho dos estudantes representa 55% do total, infraestrutura 15% e corpo docente 30%.

Silêncio

A reportagem tentou contato com a Fundação de Ensino Superior de Passos, Faculdade Politécnica de Uberlândia, Universidade do Vale do Rio Doce, Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros, Instituto Superior de Educação de Ituiutaba, Universidade Presidente Antônio Carlos, Universidade Salgado de Oliveira e Universidade de Itaúna, mas não encontrou em nenhuma delas alguém para para comentar o assunto.

Na Universidade de Uberaba (Uniube), a pró-reitora de Ensino Superior, Inara Barbosa, afirmou que vai aguardar a notificação do ministério para saber a dimensão do problema e desenvolver um plano de ação. Ela admitiu que o curso de engenharia da computação tem problemas no corpo docente por conta à saída de vários professores, que passaram em concursos públicos. A Faculdade Kennedy informou que pediu uma inspeção do ministério, mas não foi feita.

TENDÊNCIA POSITIVA

1. Engenharia – Escola de Engenharia Kennedy

2. Engenharia civil – Faculdade de Engenharia de Passos

3. Letras (licenciatura) – Faculdade de Filosofia de Passos (Fafipa)

4. Ciências Sociais (licenciatura) – Universidade Federal de Uberlândia

5. Química (licenciatura) – Instituto Superior de Educação de Ituiutaba

6. Letras (licenciatura) – Universidade do Vale do Rio Doce (Univale)

7. Geografia (licenciatura) – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
 
8. Engenharia de controle e automação – Faculdade Politécnica de Uberlândia

9. Engenharia de controle e automação – Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros

10. Engenharia química – Faculdade de Ciência e Tecnologia de Montes Claros

11. Engenharia eletrônica – Universidade de Itaúna

12. Engenharia de computação – Faculdade Presidente Antônio Carlos de Conselheiro Lafaiete

13. Sistemas de informação – Universidade Presidente Carlos (Unipac)

14. Pedagogia (licenciatura) – Faculdade Presidente Antônio Carlos, de Ribeirão das Neves

15. Matemática (licenciatura) – Universidade Salgado de Oliveira (Universo)

16. Engenharia de computação – Universidade de Uberaba (Uniube)

TENDÊNCIA NEGATIVA

1. Engenharia civil – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerias (PUC Minas)

2. Engenharia de computação – Universidade de Uberaba (Uniube)

3. Computação (bacharelado) – Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac)

4. Engenharia civil – Centro de Ensino Superior de Uberaba (Cesube)

5. Pedagogia (licenciatura) –Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac).