A excelência da escola particular mostra sua força em cursos tradicionais e, historicamente, muito concorridos do vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse é o caso da medicina, direito, comunicação social (publicidade), arquitetura e urbanismo e ciências biológicas, todos diurnos. Em todos eles, passar com as cotas é mais fácil do que sem elas e, em apenas uma modalidade do benefício, a nota de corte superou a da livre concorrência. Em medicina, por exemplo, houve candidato aprovado com 178 pontos, enquanto na disputa sem o benefício a nota mínima para conquistar a vaga foi de 191 pontos.
Soares chama a atenção para um detalhe: “Esse resultado é uma alegria num momento inicial e uma preocupação depois. É ruim não imaginarmos que não temos problemas de desempenho. Preocupa-me passar para a sociedade a sensação de que não é preciso fazer nada, enquanto precisamos fazer muito. Os problemas da escola pública não desapareceram em um passe de mágica”, ressalta.
Ele teme pelas consequências no próprio aprendizado. “Deverá haver um esforço grande para esses alunos que entrarão com uma formação mais modesta não desistirem e serem empurrados para fora. Não é uma questão socioeconômica apenas. É cognitiva. Quando houver 50% de cotistas no curso de computação, por exemplo, que tem uma matéria chamada análise de estrutura de dados, você faz ou não faz. Acabaram ali dentro os empurrões.”
ALEGRIA Alheia a análises, a estudante Rayanne Marques Costa, de 18 anos, quer apenas curtir a aprovação na maior instituição pública de Minas. Dedicação extrema foi a fórmula que ela usou para conquistar uma vaga em ciências biológicas diurno, no qual a nota das cotas superou a da ampla concorrência em apenas uma modalidade. Aluna de escola pública e parda, ela teve o benefício das cotas, mas, com os 160,4 pontos conquistados, teria passado com folga mesmo na livre concorrência, cuja nota de corte foi 151,8.
Feliz com a aprovação, o único receio da garota é em relação a uma possível rejeição dos colegas que não tiveram o benefício. “Acho que pode ter um pouco de preconceito, mas, independente da cota, teria passado no vestibular”, comenta Rayanne, que conclui o ensino médio no Colégio Tiradentes e fez um ano de cursinho para complementar o aprendizado. “Foi a primeira vez que tentei a UFMG e, antes disso, não me sentia preparada”, conta.
MEC APERTA REGRAS PARA MEDICINA
A criação de cursos de medicina no Brasil só será autorizada, a partir deste ano, em cidades predefinidas pelo Ministério da Educação e depois de uma seleção de proposta via editais. Faculdades particulares de medicina terão que ser criadas, prioritariamente, em regiões onde há estrutura médica – como hospitais e atendimentos de emergência – mas não existem cursos de medicina suficientes. Antes, novos cursos e a ampliação de vagas eram autorizados pelo MEC levando em conta critérios de qualidade. Há 70 pedidos, totalizando mais de 6 mil novas vagas. De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a maioria deverá ser indeferida, por não se enquadrar nos critérios estabelecidos pelo MEC.
Cadeira reservada
Entenda a política de cotas da UFMG
- Os candidatos disputam vagas em cinco modalidades, pela as quais optam previamente. Passam aqueles que tiverem as melhores notas em cada uma delas, de acordo com o número de vagas reservado.
- Quem opta por uma das quatro modalidades das cotas – que somaram 13,67% das vagas no Vestibular 2013 – e não consegue passar pode disputar na livre concorrência. Nesse caso, só são beneficiados se a nota mínima para ser aprovado pela reserva de vagas for maior que a nota mínima para a livre concorrência.
MODALIDADE 1
Alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escola pública e se declararem negros, pardos ou indígenas, que também tenham renda familiar mensal de até 1,5 salário mínimo per capita.
MODALIDADE 2
Alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escola pública e que tenham renda familiar mensal de até 1,5 salário mínimo.
MODALIDADE 3
Alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escola pública e se declararem negros, pardos ou indígenas e que tenham renda familiar mensal superior a 1,5 salário mínimo per capita.
MODALIDADE 4
Alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escola pública e que tenham renda familiar mensal superior a 1,5 salário mínimo per capita.
LIVRE CONCORRÊNCIA
Todos os candidatos, inclusive aqueles que optaram pela reserva de vagas, mas não tenham se classificado pela cota.
Desempenho
Os cursos nos quais os cotistas foram melhores e as notas mínimas para aprovação
Ciência da computação
Modalidade 1 – 152,1163
Modalidade 2 – 179,4900
Modalidade 3 – 165,0186
Modalidade 4 – 194,0023
Livre concorrência – 145,3577
Enfermagem
Modalidade 1 – 142,8475
Modalidade 2 – 117,3002
Modalidade 3 – 148,6359
Modalidade 2 – 146,1689
Livre concorrência – 114,9053
Física diurno
Modalidade 1 – 117,3860
Modalidade 2 – 162,0934
Modalidade 3 – 133,5178
Modalidade 4 – 120,0082
Livre concorrência – 103,9825
Cursos nos quais os cotistas foram piores
Direito diurno
Modalidade 1 – 165,1475
Modalidade 2 – 154,0575
Modalidade 3 – 174,8135
Modalidade 4 – 183,3215
Livre concorrência – 175,6136
Arquitetura e urbanismo diurno
Modalidade 1 – 127,9528
Modalidade 2 – 150,6109
Modalidade 3 – 137,9201
Modalidade 4 – 167,3750
Livre concorrência – 150,6599
Engenharia aeroespacial
Modalidade 1 – 159,5248
Modalidade 2 – 181,6756
Modalidade 3 – 178,5217
Modalidade 4 – 209,5533
Livre concorrência – 182,8792