São Paulo - Os alunos que entraram na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) de 2005 a 2008 por meio do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais) - oriundos de escolas públicas ou autodeclarados negros ou índios - tiveram desempenho igual ou superior ao daqueles que não ingressaram na universidade pelo sistema.
A conclusão faz parte de um estudo da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) que será divulgado nesta quinta-feira, 9. “É uma maneira qualificada de fazer inclusão. Não estamos abrindo mão de fazer uma seleção qualificada dos alunos, esse era nosso pré-requisito. É a primeira vez que temos uma avaliação do desempenho total dos alunos por área”, afirmou o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge.
Em Medicina - curso que tem a maior relação candidato/vaga na Unicamp -, por exemplo, das quatro turmas avaliadas, 347 alunos entraram pelo vestibular tradicional (sem bônus) e 93 ingressaram por meio do Paais. Quem utilizou o Paais teve nota média de 644 no vestibular e quem não usou, de 667 - uma diferença considerada significativa, segundo o estudo. Ao final do curso, o coeficiente de rendimento dos alunos do Paais foi 7,8 e dos demais, 7,7.
Em Engenharia, estudantes do Paais tiveram 553 no vestibular e acabaram com rendimento 6,3, enquanto os demais alcançaram 573 no processo seletivo e nota final 6,4. “Os resultados mostram claramente o sucesso do Paais em fazer a inclusão com manutenção da qualidade dos estudantes e dos profissionais formados. Ficou estatisticamente demonstrado que os alunos se saíram muito bem nos cursos e concluíram nas mesmas condições dos não beneficiados, talvez até com ganho de qualidade”, afirmou Tadeu Jorge.
“Temos 93 profissionais que conseguiram cursar Medicina na Unicamp graças ao Paais. Entraram diferentes, saíram iguais, com tendência de melhora”, disse o reitor. Em relação aos demais, os alunos do Paais apresentaram ganho de desempenho, quando as notas dos dois grupos são comparadas.
O estudo dividiu o total de alunos que entrou na universidade em sete áreas: Artes, Biológicas, Exatas, Engenharia, Humanas, Medicina e Tecnológicas. Em todos os anos, constatou-se que a nota no vestibular dos estudantes oriundos da rede pública foi mais baixa que a dos demais candidatos. Após quatro anos de vida acadêmica, essa diferença deixou de existir.
De acordo com Tadeu Jorge, a universidade já iniciou as discussões para aumentar a bonificação concedida no Paais no próximo vestibular. “Estamos agora com segurança para avançar, aumentando os bônus. As simulações mostram que podemos dobrar esse bônus e aplicá-lo também na primeira fase, eliminando uma barreira importante em alguns cursos.” Os estudos citados pelo reitor indicam que os bônus do Paais podem subir para 60 pontos para alunos de escolas públicas e 30 para autodeclarados. “Até para tentar explorar a questão das autodeclarações.”
Mesmo perfil
Para Ícaro Turci, de 21 anos, que entrou com bônus do Paais em Engenharia em 2011, o programa é válido como política afirmativa, mas não muda a “cara da universidade”. “A Unicamp deve aderir à política de cotas para dar acesso efetivo aos negros e às classes mais baixas, pois hoje esses programas ainda mantêm uma seleção excludente na universidade. Hoje, há só 10% de negros e isso não representa a sociedade”, afirmou o estudante, que é um dos coordenadores do Diretório Central Estudantil.
O reitor afirmou que a Unicamp não está distante das metas estabelecidas pelos governo estadual e federal de inclusão social nas universidades, mas prega autonomia da universidade. “Inclusão é importante para a universidade e podemos cada vez mais conseguir isso com programas como o Paais e o Profis (Programa de Formação Interdisciplinar Superior).”