São Paulo, 24 - Os principais cursos de Medicina de São Paulo - Unicamp, USP, Unesp e Unifesp - estão fora da lista de instituições que terão alunos inscritos para realizar o pré-teste do Revalida, aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) para revalidar diplomas de médicos formados no exterior. Também ficaram de fora cursos tradicionais como o da Santa Casa e o da PUC-SP.
A reportagem teve acesso à lista de instituições. São Paulo tem 38 cursos, mas só 3 participarão do exame, todos de instituições particulares: os das Universidades de Ribeirão Preto, Marília e Oeste Paulista. As duas primeiras têm nota 3 (regular) no Conceito Preliminar de Curso (CPC), índice de qualidade do MEC, publicado em 2010. A do Oeste Paulista teve nota 2, nível insatisfatório.
O objetivo do MEC ao aplicar o Revalida para brasileiros é “calibrar” a prova e entender se ela está adequada às diretrizes dos cursos de Medicina do País. Entidades médicas e especialistas criticam o pré-teste, sob o argumento de que o diagnóstico serviria para baixar a dificuldade do Revalida. Criado em 2011, o exame registrou índices de reprovação entre 90% e 91%.
Milton Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, diz que as três escolas paulistas escolhidas não têm representatividade. “A amostra não me parece adequada. São instituições medianas”, diz. O Estado tem 18% do total de vagas de Medicina no País, mas, entre os que farão o Revalida, só 10% são paulistas.
O coordenador do exame aplicado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) aos formandos, Bráulio Luna Filho, também critica a amostra. “Escolheram escolas que não estão entre as dez melhores, que têm problemas de desempenho do ponto de vista da avaliação feita pelo Cremesp. Não tem nenhuma pública e nenhuma particular de qualidade”, avalia Luna. O Cremesp realiza o exame há oito anos e, em 2012, 54,8% dos alunos foram reprovados.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao MEC, é o órgão responsável pelo Revalida. O presidente do Inep, Luiz Claudio Costa, diz que os resultados não serão divulgados e não há objetivo de comparação. Ele diz que a escolha de instituições foi feita por região, não por Estado. “A amostra é bem representativa. Foi levada em conta a proporção de concluintes por curso e níveis de qualidade.”
As 17 instituições privadas e as 15 públicas foram escolhidas em lista inicial de 144 cursos - que haviam registrado participação de ao menos dois alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Houve universidades que, convidadas, recusaram participar, como a Unicamp. “Não participamos de nada das discussões, da metodologia para elaboração das questões. Estamos abertos à prova, desde que a universidade esteja envolvida na formatação”, diz Maurício Etchebehere, coordenador do internato da Unicamp.
Costa nega que tenha havido boicote. USP, Unesp e Unifesp negam que tenham sido consultadas. O diretor da escola de Medicina da Unifesp, Antonio Carlos Lopes, diz que seria provável que a unidade recusasse. “A impressão é que a congregação se oporia a isso, já que está totalmente contra ao projeto (Mais Médicos).” A USP disse que não concorda com o pré-teste. Na lista de 32 instituições brasileiras que terão alunos no Revalida, apenas 9 estão entre as consideradas boas pelos critérios do MEC.
Incentivo
Uma das preocupações de professores de Medicina é que, por ser voluntário, os alunos não se empenhem no Revalida. O Inep estuda oferecer, como incentivo aos participantes, gratuidade na inscrição para a prova de residência - especialização feita após a formatura. A sugestão teria vindo das próprias instituições. Segundo Costa, a participação já demonstraria comprometimento. “Como só ele poderá ver o resultado, a autoavaliação é um incentivo.” (Colaborou Mirella D’elia)