Os dois dias de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre no fim de semana, serão decisivos para a maioria dos 7,1 milhões de participantes que buscam uma vaga na universidade. Mas para parte dos inscritos - que cresce a cada ano -, a maratona do exame será apenas treino: de 2009 (quando se tornou vestibular) até 2013, a proporção de candidatos treineiros saltou 87%.
Segundo especialistas, o interesse dos treineiros tem crescido por causa da consolidação do exame como vestibular, com maior adesão das universidades federais. O aumento da influência do Enem sobre o ensino médio também é apontado.
O Enem de 2009 teve 5,66% do total de inscritos com 16 anos ou menos, o que representou 254 mil estudantes. Neste ano, são 759 mil inscritos nessa faixa etária, o que elevou o porcentual a 10,59% em relação ao total. Entretanto, há Estados, como o Ceará, por exemplo, onde os treineiros representam mais de 30% dos inscritos.
Os dados por idade mostram que estudantes mais novos, com até 15 anos (idade dos alunos do 1.º ano do ensino médio), estão participando mais. Em 2009, eram 0,84% do total e neste ano já alcançaram 2,88% - mais de 198 mil alunos.
O estudante do 2.º ano Guilherme Rodrigues, de 16 anos, fará o Enem pela segunda vez - a primeira foi no ano passado, quando estava no 1.º ano. “Comecei a fazer cedo para não ter surpresas na hora decisiva. Ano passado achei a prova fácil, o problema foi o conteúdo que não tínhamos visto, como química orgânica. Mesmo assim, fui bem”, diz o aluno do Colégio Ari de Sá, em Fortaleza.
A colega Paula Motoyama, de 16 anos, do 2.º ano e pela segunda vez inscrita para a prova, tem objetivos mais ousados. “Estou fazendo este ano como experiência, mas tenho esperança de tirar uma nota boa o suficiente para entrar em Medicina. Se isso acontecer, vou entrar com recurso. Ano passado, tirei 650 e preciso de uns 750 neste ano. Impossível não é, e tentar não custa nada”, diz ela, que busca uma vaga na Federal do Ceará.
Incentivo. Fazer vestibular como treino é uma prática incentivada há muitos anos nas escolas particulares. Na Fuvest, por exemplo, 61% dos aprovados em 2012 já haviam feito a prova pelo menos uma vez.
A professora Maria de Fátima Silvestre, coordenadora de Língua Portuguesa do Colégio Jardim São Paulo, na zona norte da capital paulista, explica que conhecer a prova é essencial. “Incentivamos o treineiro a participar para conhecer todos os passos do processo. É um trabalho psicológico para que ano que vem o Enem não seja algo tão desconhecido para eles. E quando eles fazem a prova e percebem que vão bem já no 2.º ano, como muitas vezes acontece, é claro que vão criar condições melhores no 3.º ano. Dá aquela vontade de ser melhor ainda.”
Ganhar experiência será o objetivo da estudante Mariana Souza, de 16 anos, aluna do 2.º ano do Colégio Doze de Outubro. “Quero ter uma noção se estou preparada ou não, ver como é a pressão.”
Para os candidatos que farão a prova como teste, a especialista em educação Andrea Ramal recomenda atenção ao desempenho. “Muitos treineiros ficam tranquilos com maus resultados porque ainda não concluíram a escola. Mas é importante verificar os erros em matérias que eles já estudaram”, afirma.
O porcentual de mais velhos inscritos na prova também cresceu. Na faixa dos 31 aos 35 anos, por exemplo, a variação foi de 35,50%, passando de 4,62% para 6,26% do total. O Enem pode ser usado também como certificado de conclusão do ensino médio.