As universidades brasileiras ficaram, mais uma vez, fora da lista das 200 melhores instituições de ensino do mundo, de acordo com o ranking internacional Times Higher Education (THE), divulgado nesta quarta-feira, em Londres.
Em 2011 e 2012, a Universidade de São Paulo (USP) ocupava os 178º e 158º lugares, respectivamente. Este ano, a instituição caiu para a faixa de 201ª e 225ª posições. Já a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, que no ano passado ficou entre o 301º e 350º lugares, repetiu a posição.
Pelo quarto ano consecutivo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, ficou em primeiro lugar. Na segunda posição ficou a Universidade de Harvard, também nos Estados Unidos, e na terceira, a de Oxford, no Reino Unido. O ranking completo está disponível no site do instituto.
Emergentes
Para o editor da publicação, Phil Baty, um país com o tamanho e a importância econômica do Brasil deveria possuir uma instituição entre as 200 melhores do mundo. "Países emergentes e membros dos Brics possuem universidades no top 200, como Rússia, que tem uma universidade nesse patamar, China, que tem três, e África do Sul, que tem um. Mas só o Brasil e a Índia não possuem nenhum no top 200", afirma. "Universidades são muito importantes para assegurar um crescimento saudável da economia. Elas inovam, criam novas tecnologias, criam novos conhecimentos."
Em época de crise orçamentárias nas duas universidades brasileiras, Baty fala sobre a necessidade de as instituições do País atraírem mais dinheiro. "Está claro no ranking que é preciso ter generosos financiamentos para manter as posições mais altas, pagar altos salários, tornar as carreiras atrativas para não perder pessoas talentosas e ter dinheiro para investir em infraestrutura", explica. "É importante que as universidades consigam ter diversas fontes de financiamento, que vão além do governo, para continuarem tendo generosas entradas de dinheiro. Sem isso, vão perder posições."
Internacionalização
Para especialistas em educação, o país precisa aumentar a colaboração internacional e adotar o inglês como a língua oficial das pesquisas científicas para melhorar no cenário internacional.
Leandro Tessler, professor da Unicamp e ex-coordenador de relações internacionais da instituição, afirma que é preciso investir na produção científica em inglês. "As universidades brasileiras precisam superar seu ranço antiamericano e contra a língua inglesa. Internacionalização no mundo contemporâneo não é possível sem o uso pesado do inglês. Não vamos atrair mais estudantes estrangeiros se não forem oferecidos cursos ou pelo menos disciplinas importantes em inglês", explica.
Já para Rogério Meneghini, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo e diretor científico do programa SciELO de revistas científicas brasileiras, as universidades do País têm de aumentar a colaboração internacional e o número de publicações, critérios importantes usados nos rankings internacionais. "O índice de colaboração internacional do Brasil é de 25%, enquanto entre os países da Europa é de 50%. O impacto de qualidade depende de colaboração internacional."
Ele explica que as universidades do País precisam criar mais aulas de ensino de segundo idioma para os alunos brasileiros. Além disso, as instituições devem ter aulas - tanto de graduação quanto de pós - em inglês para atrair mais alunos internacionais, afirma Meneghini. Para ele, o programa Ciência Sem Fronteiras, criado pelo governo federal, não é o suficiente para solucionar o problema. "Esse programa, como foi modelado, não ajuda a ciência. Ajuda os estudantes a estudar o idioma inglês. O ideal seria trazer professores de fora para dar aula aqui. Tem que abrir as portas para o inglês."
Universidades
O vice-reitor da USP, Vahan Agopyan:, afirmou, em nota, que a "variação das posições ocupadas pela USP nos mais variados rankings internacionais é natural". Segundo Agopyan, a universidade não molda suas atividades às classificações, "mas sim às necessidades sociais". "Nossa pesquisa é reconhecida internacionalmente, o que pode ser expresso, por exemplo, na colocação alcançada na mais recente edição do ranking da Scimago - divulgado em setembro -, em que a USP está entre as dez instituições mundiais que mais produzem trabalhos científicos de qualidade e relevância."
Já o coordenador geral da Unicamp, Álvaro Crosta, viu como positiva a posição da Universidade Estadual de Campinas. "Trata-se de um dos três rankings universitários de maior prestígio internacional e que destaca, como principais indicadores da nossa qualidade acadêmica, o número de doutores que formamos, a quantidade expressiva de recursos de pesquisa que captamos junto a fontes externas, incluindo o setor industrial, e o número de artigos indexados que publicamos em relação à quantidade de docentes e pesquisadores", afirmou, em nota enviada à imprensa. "Graças a esses indicadores, obtidos pelo esforço e competência da nossa comunidade acadêmica, o THE nos coloca entre as universidades de maior prestígio no mundo, e entre as primeiras da América Latina e do Brasil."
Com Agência Estado