Equilíbrio. A menos de 20 dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), essa é a palavra de ordem para os candidatos. Na reta final, não tente acelerar o ritmo de estudos e faça a revisão apenas de matérias às quais se está acostumado, sem se aventurar em conteúdos novos. Os ingredientes são a base da receita de especialistas e estudantes para o sucesso de quem sonha com uma vaga no ensino superior. Na batalha dos dias 8 e 9 do mês que vem, na qual estarão envolvidos 8,7 milhões de candidatos em todo o país – cerca de 980 mil em Minas Gerais –, calma e paciência são também poderosas estratégias. Alguns alunos recorrem até mesmo à terapia para entrar no compasso.
Professor de química do Coleguium, Daniel Moreira de Faria orienta os alunos a se planejar. Segundo ele, é importante trabalhar a sequência da prova, priorizando as áreas com as quais se tem mais facilidade, para ganhar tempo e, só depois, encarar as disciplinas mais difíceis. No primeiro dia de provas, no sábado, serão testados os conhecimentos das áreas de ciências humanas e da natureza. No domingo, é a vez de linguagens e códigos, redação e matemática. O Enem será aplicado em 1.699 municípios. Do total de inscritos, 85% têm entre 15 e 29 anos de idade.
Quem deixou para estudar na última hora terá trabalho árduo, na opinião do professor, já que se trata de aprendizado de uma vida inteira. A pouco mais de duas semanas, o importante é não se dedicar a tarefas com as quais não se está acostumado para evitar o cansaço. Se for esse o caso e a opção envolver atividade física, escolher aquela que exige baixíssima demanda energética – apenas para relaxar. “A atividade física tem capacidade de melhorar bastante o humor e a oxigenação dos tecidos, que leva à tranquilidade. Ela deve ser feita todos os dias ou o máximo de dias por semana, pois, além de estimular a concentração, ativa o cérebro, função necessária para responder às perguntas no menor tempo possível, já que é preciso passar rápido para outras questões”, afirma o professor.
REVISÃO O aluno Rafael Júlio dos Santos, de 17 anos, diz que nos momentos finais está priorizando o descanso e a revisão de pontos de algumas matérias nos quais ainda tem dúvidas. Ele está de olho numa vaga em engenharia metalúrgica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ou no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). “Desespero só atrapalha.” Em casa, ele tem apoio dos pais para deixar tranquilos os dias que antecedem o exame nacional. Sem pressão dos familiares, o garoto acha que é mais fácil ficar relaxado. Nas horas de folga, gosta de assistir a filmes, sair com os amigos, ir ao parque e andar de bicicleta na Lagoa da Pampulha.
Este ano foi de muito trabalho, principalmente em redação, tida por Rafael como o divisor de águas de quem almeja vaga numa instituição federal. No seu terceiro Enem, esse era o ponto de maior dificuldade. Ele conta que deu atenção especial aos aspectos da norma culta da língua, ao desenvolvimento de argumentos, à leitura de jornais e à busca de atualidades. O tempo, o adolescente aprendeu a controlar durante os simulados e, por isso, gastar uma hora para a elaboração de texto e três minutos para cada questão é problema superado. “Separei este ano especificamente para a redação.”
Para descarregar a tensão
O primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) batia à porta e a preparação envolvia um dos cursos mais concorridos dos vestibulares. A ansiedade não dava trégua, a ponto de causar dores terríveis na coluna. Para controlar o desespero, a estudante do 6º período de medicina Stéphanie Bastos de Carvalho, de 21 anos, encontrou na psicologia positiva e na hipnoterapia o equilíbrio de que precisava. Quem atendeu a jovem foi a psicóloga Daniela Queiroz, que chama a atenção para a importância de, às vésperas do exame, o candidato não focar apenas os estudos e fazer uma pausa. “Não é a quantidade que importa, mas a qualidade. A vida é rica também de outros aspectos. E o Enem é uma prova que não mede só o conteúdo, é mais prático e cobra o dia a dia”, afirma.
A profissional explica que a psicologia positiva não foca apenas o problema a ser resolvido, mas, principalmente, as habilidades e potencialidades do paciente. A ideia é priorizar os bons elementos, com os quais se consegue minimizar e até alterar o problema. A proposta é dar uma pausa e encaixar em algum momento do dia atividades que fazem bem, como ouvir música, conversar com amigo, descansar. “Divido o dia dos candidatos com responsabilidades do estudo e essas ‘ilhas de prazer’. No mês do Enem, tiramos o tempo para cada matéria, buscando o equilíbrio entre estudo e atividades sociais e de lazer para o aluno não chegar exausto na reta final.”
Daniela cita pesquisa de psicólogos norte-americanos segundo a qual pessoas de sucesso que são também felizes e saudáveis pontuam suas vidas com períodos de recuperação. “Dar uma pausa é fundamental para que você tenha excelência na sua meta final”, ressalta. Já a hipnoterapia ericksoniana é ferramenta de trabalho para tratar a ansiedade. Embora acordado, mas num estado alterado de consciência, o candidato relaxa ao visualizar imagens positivas, respirar melhor e aprender a repensar aspectos da própria vida. “É uma maneira leve de pontuar elementos que são importantes para pacientes, sem ser invasiva.”
ANSIEDADE Stéphanie Carvalho procurou em 2011 o tratamento, que faz até hoje, por indicação de uma amiga. Ela chegou ao consultório ansiosa, agitada e aflita por uma solução. Relatou sempre ter tirado notas altas na escola, mas naquele momento estava se sentindo tão cansada que nas últimas provas havia tido “brancos” na memória e baixo rendimento escolar. Um dos trabalhos terapêuticos foi fazer uma colagem de figuras que representassem como ela gostaria de se ver até o fim do ano. Metas foram divididas em pequenos passos. A garota não só aprendeu a controlar a ansiedade, como retomou atividades rotineiras, como sair com os amigos, praticar atividade física e alimentar-se melhor.
“Eu olhava para a prova e, se não conseguia responder uma pergunta, sentia uma angústia grande, que me atrapalhava a resolver outras questões”, conta Stéphanie. Aprender a se controlar e a respirar foram fundamentais para superar o drama, segundo ela. No Enem, ela foi disposta a fazer o que sabia e a passar adiante, voltando depois em questões não resolvidas. Ainda hoje, essas são as técnicas usadas nas provas do curso de medicina. A estudante dá a dica a quem está na mesma situação: “Na semana antes do exame, esqueça matérias. Faça atividades relaxantes para distrair a mente, como se nem fosse fazer uma prova. No dia, não imagine que é um vestibular, mas apenas um teste de conhecimentos. Tem que ser positivo. Não se pode duvidar nem por um segundo de que, se estudou, dá conta”.
O QUE FAZER NAS ÚLTIMAS SEMANAS
– Diminua o ritmo de estudos
– Procure dormir bem; falta de sono dá fadiga mental
– Organize o material necessário para o exame
– Pense que estudou o ano todo e, por isso, está preparado
– Procure atividades que lhe deem prazer: ouvir música, ir ao cinema, conversar com amigos que já fizeram a prova
– Não se deixe influenciar por colegas neste momento, já que a ansiedade se torna coletiva. Mantenha-se focado no seu ritmo
– Visite o local da prova e calcule o tempo no trânsito
– Use técnicas de respiração
FONTE: Daniela Queiroz