Se não pode lutar contra o inimigo, junte-se a ele. Ou, no caso de uma sala de aula que ganhou redes sociais, celulares e um mundo tecnológico como concorrentes, torne-os ferramenta de ensino. Driblando as diferenças, educadores têm incorporado cada vez mais novas técnicas para garantir o aprendizado dos alunos, trazendo para dentro dos muros da escola o que fascina os estudantes do lado de fora. Eles são unânimes: não tendo como impedir, o melhor é agregar conteúdo. Provas on-line, aulas com tablets em rede ou telefones e serviços de armazenamento e compartilhamento de arquivos entraram de vez na rota dos conteúdos clássicos.
As instituições tentam inovar e acompanhar as novidades. Este ano, a aposta do Colégio ICJ, no Bairro Nova Suíça, Região Oeste de BH, em um aprendizado atrativo e duradouro é o programa Digital, para alunos do 9º ano do ensino fundamental e 1º do nível médio. Nas aulas, feitas em dupla, os tablets dos estudantes são conectados diretamente com o do professor. Esse “hackeamento” permite usar ferramentas interativas, como recursos multimídia, vídeos, jogos e aplicativos, com o objetivo de trabalhar com desafios matemáticos, o raciocínio e a resolução de problemas. A escola está entre as 10 do Brasil escolhidas por uma empresa para participar do programa. “A tendência é as escolas usarem esses recursos mais ou menos intensamente. Precisamos entender que aprendizagem é uma forma de estar no mundo e temos que pôr esses recursos na sala de aula. O desafio é como fazer isso”, afirma a diretora Cristina Fabel.
Também o 9º ano e as duas primeiras séries do ensino médio ganharam, há quatro anos, a robótica na grade curricular. Programação e construção efetiva de robôs são exemplos de como a tecnologia pode ser usada de maneira inteligente. Na última olimpíada, os alunos construíram um exemplar que encontra sobreviventes em caso de terremoto. Os alunos da última etapa da educação básica têm ainda o dropbox como instrumento de estudo. Pelo projeto Meu plano de estudo, uma caixa em ambiente virtual será alimentada com matérias dadas em sala de aula, conteúdos extras, sugestão de filmes em acordo com o tema estudado e de leituras para embasamento, artigos de opinião, simulados, questões de vestibular e do Enem, enfim, o que houver de mais atual.
Também será criado um banco de questões feitas pelos professores. Além dos alunos, a família receberá os links de acesso, para ter controle das atividades. Mas, nada disso, no entanto, exime a meninada do fundamental: escrever. Por isso, o aluno que insistir em escrever na linguagem da internet, com suas abreviações, perderá pontos. “A base da escola e da vida é leitura e escrita. A escola tem que ser formadora, mas cobradora também. Não dá para eles fazerem só o que gostam”, ressalta Cristina.
facilitador Professora de literatura do ensino médio da rede Coleguium, Maria Fernandina Batista participa de cinco grupos de alunos no WhatsApp, o aplicativo de conversas mais popular da telefonia. Ela também acredita que, por não poder fugir da tecnologia, é preciso se inserir nesse meio e aproveitar as oportunidades oferecidas por ele. Usa a ferramenta como facilitador no reforço do conteúdo ou na indicação de uma obra literária. Pelo chat, ela envia links dos livros ou filmes que menciona em aula. “Como professora, ou me aproximo da realidade ou ficarei à margem da vida dos alunos. Por isso, devemos usar as ferramentas de forma que nos favoreçam como educadores”, diz.
Mas tudo deve ser dosado. Segundo a professora, por ser um ambiente descontraído, a partir do momento em que há apenas cobranças, o grupo deixa de ser prazeroso para o aluno e ele acaba saindo. “Por isso costumo postar também algumas brincadeiras, mas sem deixar de respeitar o contrato social que há entre aluno e professor. Afinal, há uma hierarquia nessa relação que não pode ser extrapolada para evitar desconfortos.”