Jornal Estado de Minas

Universidades federais já perderam um mês de aula e têm semestre ameaçado

Em repúblicas como a de Dâmaris Araújo, universitários buscam atividades para preencher o tempo e temem pelo futuro - Foto: Raquel Maia Arvelos/Divulgacao
Um mês depois da data prevista para retomada das aulas no segundo semestre, estudantes de boa parte das universidades federais em Minas Gerais não fazem a menor ideia de quando retornarão às salas de aula. Das 11 instituições do estado, o semestre letivo não começou em quatro: Juiz de Fora (UFJF), Ouro Preto (Ufop), Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Lavras (Ufla). Na Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), as aulas até recomeçaram, mas ocorrem de forma precária. De maneira geral, nas instituições em que os cursos foram reiniciados, os alunos enfrentam dificuldades, com bibliotecas e laboratórios fechados.


À greve dos técnicos administrativos em educação, que já soma quase 100 dias, juntaram-se professores de muitas das instituições. Sem negociação com o governo federal, a paralisação prossegue e não há previsão de retorno e a comunidade acadêmica já trabalha com a possibilidade de o calendário se estender por 2016. Ontem, professores da UFTM e da Ufop decidiram pela continuidade do movimento. Alunos e funcionários das federais sofrem ainda com os cortes de R$ 1,9 bilhão anunciados pelo Ministério da Educação (MEC) para este ano. O problema financeiro afeta a graduação e os cursos de pós-graduação, que tiveram que remanejar as atividades previstas diante de cortes de até 75% das verbas para custeio.
Diante da falta de recursos, instituições reduziram serviços de limpeza, manutenção e segurança nos câmpus.

A redução de 10% no custeio e 47% em verbas de capital deixa em situação difícil até mesmo as instituições em que as aulas foram retomadas, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com informações repassadas por essas instituições, os cortes, somados, ultrapassam R$ 170 milhões em Minas. Para a Ufla, a medida vai representar uma redução de cerca de R$ 30 milhões. Na pós-graduação, o custeio foi reduzido em 65%, o que representa perda de R$ 1,37 milhão. A UFMG anunciou perdas de R$ 50,7 milhões e um déficit de R$ 22,8 milhões, que dificultará o andamento do semestre.

O professor Marcelo de Carvalho Alves, do Departamento de Engenharia da Ufla, espera que haja um acordo com o governo federal, para que a situação nas universidades seja normalizada. Segundo ele, a universidade sequer realizou os procedimentos necessários para que as matrículas ocorram. “Os professores estão bem mobilizados e muito insatisfeitos”, diz.
Ele lembra que, devido à paralisação, a reposição de aulas pode se estender para o período de férias em dezembro.



Em Juiz de Fora, os professores aderiram à greve em 3 de agosto, data prevista para o começo do semestre. A Reitoria tenta negociar com os técnicos administrativos para que uma parcela da categoria possa viabilizar os procedimentos para que sejam realizadas as matrículas de calouros. Os novos alunos fizeram o registro da matrícula online, mas é preciso entregar os documentos para a conferência de informações. Na UFTM, as aulas recomeçaram, mas apenas 30% da graduação está funcionando. Em alguns cursos, somente dois professores lecionam. Muitos alunos também aderiram à greve.

OCIOSIDADE E TEMOR
Em Mariana e Ouro Preto, os estudantes buscam atividades para passar o tempo nas repúblicas. A greve e, principalmente, a crise financeira pela qual passa a Ufop preocupa os estudantes. É o caso de Dâmaris Starling Ferreira Araújo, de 25 anos.
Na tarde de ontem, como não era possível estudar, restou a ela e aos amigos tocar violão para passar o tempo na república, que fica em Mariana. “A gente entende que a greve é necessária, por causa dos cortes, mas atrasa tudo”, queixa-se. Atualmente, ela recebe uma bolsa de assistência estudantil que cobre integralmente suas despesas para se manter na cidade, já que é natural de Contagem, na Grande BH. No entanto, ela teme que o benefício não seja renovado no valor integral. “Vou ser reavaliada agora e corro o risco de perder. Eles dizem que estão mantendo as bolsas, mas estão cortando de forma velada”, queixa-se. Segundo ela, os critérios para conseguir a ajuda financeira ficaram mais rígidos. Mesmo com a greve, ela continua participando do Projeto de Iniciação à Docência (Pibid). “Tenho que ficar aqui para trabalhar no projeto”, diz.

O comando nacional de greve dos professores universitários deve se reunir hoje com representantes do MEC, em Brasília. Eles pedem um reajuste de 27,3% e a correção de distorções na carreira dos docentes.
Segundo Gustavo Costa de Souza e Marcelo de Carvalho Alves, do comando de greve da Ufla, os grevistas esperam que governo fixe um índice para reestruturação da carreira. A proposta oficial, de dividir o reajuste de 21,3% em quatro parcelas até 2019, foi recusada pelos grevistas, que devem apresentar uma contraproposta, prevendo o reajuste em dois anos.

Em nota, o MEC disse que a greve dos servidores, iniciada em maio, preocupa principalmente devido aos alunos que estão sem aulas e ao prejuízo ao cronograma das instituições. A pasta informou ainda que, com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, trabalha para reestabelecer a atividade acadêmica.

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