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Estado de Minas

Arrocho do governo federal leva a cortes de vagas e de programa de intercâmbio

Candidatos a intercâmbio no Ciência sem Fronteiras ficam sem novas bolsas e ensino técnico perde 6 milhões de vagas


postado em 05/09/2015 06:00 / atualizado em 05/09/2015 07:38

Irving e Cássio: projeto de aperfeiçoamento no exterior adiado pela crise(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Irving e Cássio: projeto de aperfeiçoamento no exterior adiado pela crise (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
A paixão por circuitos eletrônicos deu movimento a um robô sobre rodas que consegue trilhar pistas sem a interferência de um controlador. O feito, que valeu participação na Competição de Robôs Autônomos (Cora) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é apenas parte das ambições dos estudantes do quinto período de engenharia elétrica Irving Marins, de 21 anos, e Cássio de Freitas, de 20. Mas os planos, que envolviam ter contato com técnicas e equipamentos de ponta no exterior, estão ameaçados. Uma das portas para essa experiência, o programa do governo federal Ciência sem Fronteiras, de intercâmbio com universidades estrangeiras, pode não abrir novas vagas para bolsistas em 2016, devido ao severo corte de recursos na educação.

“Planejei participar do próximo edital. Seria importante ter contato com a tecnologia desenvolvida em outros países. Há muita diferença de ensino e, além de a experiência acrescentar à formação, o estudante ainda volta com conhecimento para o Brasil”, destaca Irving. E não é apenas o ensino superior que sofre com os cortes de R$ 9,42 bilhões do orçamento federal. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) deve ofertar apenas metade das 12 milhões de vagas prometidas pela presidente Dilma Rousseff (PT) na campanha do ano passado.

Segundo os órgãos promotores do Ciência sem Fronteiras – o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) –, o custeio das bolsas concedidas está garantido, mas não há previsão de abertura de vagas em edital. “O foco do CNPq, em 2016, será o cumprimento dos compromissos já firmados”, informou o conselho, por meio de nota. Minas Gerais é o segundo estado com mais bolsistas no exterior, chegando a 15.088, atrás apenas de São Paulo, que concentra 18.116, das 87.364 já distribuídas.

A UFMG é a segunda instituição em número de bolsas, com 4.098 alunos enviados a instituições de ensino em outros países – a Universidade de São Paulo (USP), com 5.650 inscritos, é a maior detentora de benefícios. Na Federal mineira, a maior parte das bolsas (83%) é concedida a alunos de graduação, mas o programa também atende a pós-graduação, com destaque para doutorado “sanduíche”, quando parte do curso é feita em uma instituição do exterior.

Oportunidade O Ciência sem Fronteiras é uma das poucas possibilidades para que o estudante do segundo período de engenharia química Davi Cirino Guimarães, de 21, consiga experiência em instituição estrangeira. “Sou cotista da universidade. Portanto, só teria condições de estudar no exterior por meio desse programa. Tinha planejado isso, mas vou ter de adiar, se não abrirem vagas. Como ainda estou no começo do curso, estou confiante em que nas próximas edições possa me candidatar”, disse. “O pior vai ser para quem deixou para tentar o intercâmbio no fim do curso. Pode se formar e não ter a experiência”, completou.

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“Cheguei a ser chamado, em uma edição anterior, mas não tinha o certificado de inglês. Se as vagas forem congeladas, só poderei fazer o intercâmbio quando começar o mestrado”, afirma Antônio Coutinho, de 26, aluno do sexto período de engenharia metalúrgica. Para o professor de engenharia eletrônica e coordenador do programa de educação tutorial da UFMG, Pedro Donoso, a oportunidade de estudar fora traz benefícios para formação dos estudantes e também para a universidade no Brasil. “Pergunto sempre aos alunos que voltam sobre experiências de ensino diferentes que tiveram e que possam ajudar a melhorar nosso curso. Eles voltam melhores em língua estrangeira, com visão mais ampla de mundo e, em muitos casos, têm contato com equipamentos de ponta difíceis de se encontrar no Brasil”, afirma.

Mas há quem considere que, em tempo de dificuldade financeira, a oferta de oportunidades no exterior deve ser mesmo sacrificada em prol de outros investimentos. É o caso das mestrandas em engenharia mecânica Sharon Tavares, de 29, e Bruna Rezende, de 25. “A situação do país está muito difícil e é natural que haja cortes. Acho mais importante investir na educação de quem está aqui, que não é tão boa, do que enviar gente para fora. Talvez não justifique ter esses gastos para experiências que não são tão amplas, como na graduação, por exemplo”, opina Sharon.

Ensino técnico A “realidade econômica do país”, como definiu o MEC, atingiu em cheio também o Pronatec. De acordo com o Plano Plurianual (PPA) formulado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, a expectativa é de que o programa feche 2019 com pouco mais de 6 milhões de vagas, praticamente metade das 12 milhões que Dilma Rousseff prometeu durante a campanha presidencial.

O MEC informou estar “fazendo a revisão das metas de seus programas”. “Mesmo em um ano de ajuste fiscal, o governo federal vai ofertar um total de 1,3 milhão de novas vagas pelo Pronatec. As metas apresentadas pelo Ministério do Planejamento levam em conta a expectativa de arrecadação. Isso significa que, ao longo dos próximos anos, com a melhoria do cenário econômico, elas podem ser revistas”, informou a pasta da educação.


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