(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Inovar ou criar uma 'nova ação' é outra tarefa diária do professor

Artifícios como massinhas de modelar e aulas de teatro são bem-vindos em um mundo em que a ALEGRIA é imperativa


postado em 11/10/2015 06:00 / atualizado em 11/10/2015 10:40

Marina Machado (ao fundo), do laboratório de práticas teatrais da UFMG, foi premiada por projeto de dramaturgia com foco na criatividade(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press )
Marina Machado (ao fundo), do laboratório de práticas teatrais da UFMG, foi premiada por projeto de dramaturgia com foco na criatividade (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press )

Inovar nem sempre significa aplicar novas ferramentas tecnológicas em sala de aula. Alguns especialistas em educação defendem decupar a palavra inovação em “nova ação”. Em vez de tentar gravar videoaulas para atender pedidos dos alunos ou tirar dúvidas on-line pela internet, o professor poderá lançar mão de artifícios criativos para ensinar, como é o caso das massinhas de modelar e de aulas de teatro bem originais. Com a proposta “Aqui a gente faz assim! Animação vai à sala de aula”, a professora Ana Paula Bossler se uniu a Pedro Caldeira e a Daniela Franco Carvalho para jogar holofotes no cenário nacional sobre a relativamente nova Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), fundada há 10 anos em Uberaba, na região de mesmo nome. O trabalho feito em equipe foi dedicado a todos os professores que pensam a sala de aula sem abrir mão da ALEGRIA (escrito assim, com todas as letras maiúsculas).

A equipe atingiu o primeiro lugar da 5ª edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, que agracia os melhores e mais inovadores projetos para o ensino de licenciatura do Brasil, como divulgado na semana passada pela Fundação Carlos Chagas. O segundo lugar nacional coube a Marina Marcondes Machado, do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além disso, mais duas professoras receberam menção honrosa, sendo uma da Universidade de São Paulo (USP) e outra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A equipe de Ana Paula Bossler venceu concurso com aposta na utilização da animação em sala(foto: Luís Adolfo/UFTM/Divulgação)
A equipe de Ana Paula Bossler venceu concurso com aposta na utilização da animação em sala (foto: Luís Adolfo/UFTM/Divulgação)

De acordo com o livreto, as animações podem ser um eficaz antídoto contra a falta de interesse dos alunos. Usar massinhas de modelar para fazer animações de fenômenos ou processos científicos é pôr a faca e o queijo nas mãos dos alunos, transformando-os em autores de sua aprendizagem. “Isso acontece até mesmo com os professores. Ao reproduzir o passo a passo da germinação do feijão, algo que todos nós achamos que sabemos de cor, eles começam a perceber que faltam informações. Poucos sabem que o pontinho existente no centro da semente equivale ao umbigo do feijão, lugar onde ele estava pregado na vagem originalmente”, explica a bióloga Ana Paula Bossler, que ensina futuros professores a fazer animações usando a técnica do stop motion, com temas como o ciclo das borboletas.

Segundo a professora, é possível fazer até quatro animações em quatro horas, em média, trabalhando com um grupo de 20 alunos. Além de trabalhar desde 2004 com oficinas de animação em massinhas de modelar, Ana Paula Bossler aplicou na prática sua experiência anterior como professora de cegos no Instituto São Rafael, em Belo Horizonte. “Enquanto, literalmente, colocam a mão na massa, os alunos dão materialidade ao que já sabem e ao que não sabem do conteúdo da matéria, mas sem ter um peso ruim porque a atividade é prazerosa. No entanto, o aluno está mais aprendendo do que brincando. Em outras palavras, ele aprende a ver com as mãos, como os cegos”, completa.

“Dramaturgias múltiplas e as culturas da infância e juventude: criação nos modos de aprender e ensinar na Licenciatura em Teatro” é o nome do projeto vencedor da professora Marina Marcondes Machado, de 54 anos, do laboratório de práticas teatrais dramatúrgicas da UFMG. “Em vez de ler dramaturgia em escolas tradicionais, abri um workshop de criatividade, em que o aluno inventa pequenas cenas a partir de histórias em quadrinhos ou cenas do cotidiano, como, por exemplo, uma criança passeando no Move”, detalha a professora, que criou um protótipo de 13 miniaulas decompostas ao longo de três semestres.

Com trajetória acadêmica diferenciada, que inclui graduação em teatro, aulas do tema para crianças e jovens durante 16 anos, além de uma passagem pela Casa dos Ventos, Machado propõe a desconstrução do modelo arcaico dos teatrinhos ainda adotados na maioria das escolas. Ao sair para o mercado de trabalho tradicional, porém, esses professores formados com mentes inovadoras enfrentam resistência em muitos colégios das redes pública e particular de ensino. “Sinto que existe um estereótipo de infância e de teatro infantil que está parado no tempo há 100 anos. O diretor quer a peça de fim de ano e o pai quer tirar fotos das apresentações do filho. Poucos prestam atenção se a situação é vexatória para a criança ou se o figurino pinica”, critica a professora premiada, sugerindo que as aulas de artes nas escolas possam recriar os quintais de antigamente. “Ensino meus alunos, que vão ser futuros professores de teatro, a trabalhar com as culturas da infância, como a brincadeira de elástico e o pega-pega”, completa. Mais informações no blog www.agachamento.com.

 

Congresso estimula novas metodologias

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promoverá o I Congresso de Inovação e Metodologias de Ensino, de quarta a sexta-feira. Os interessados podem se inscrever até terça-feira no site da Fundep. Serão ofertadas 16 oficinas que propõem novas formas de abordar o conteúdo na sala de aula. Os objetivos são proporcionar a socialização de práticas pedagógicas inovadoras no ensino de graduação, promover a formação inicial e permanente do professor do ensino superior e proporcionar discussões sobre os diferentes papéis dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e também fomentar o protagonismo dos estudantes.

Na oficina Encontre sua Dança, serão exploradas as potencialidades do corpo, do movimento, da expressividade e da criatividade na produção do conhecimento. Em outra oficina, serão apresentadas as atividades do Projeto Redigir, da Faculdade de Letras da UFMG. As ações do projeto são voltadas para a formação de professores de língua portuguesa. Na oficina Mapa Conceitual será apresentado conjunto de ferramentas pedagógicas inovadoras. Desenvolvido por Josef Novak e colaboradores, o mapa pode ser usado como instrumento de diagnóstico, construção e avaliação do conhecimento.

Oficina Estratégias de Ensinagem é destinada a quem tem interesse na docência do ensino superior. Será um espaço de troca de experiências, de discussão do perfil do professor do século XXI, bem como de apresentação de diversas estratégias de

“ensinagem”, que despertem o desejo de aprendizado no estudante. Na oficina Ensino de Artes Visuais, a proposta é experimentar material didático que estimula  a percepção do olhar através da construção de diversos tipos óculos que modificam a visão.

Na oficina Formação de Redes e Construção do Conhecimento, os professores terão a oportunidade de pensar a prática docente, e, principalmente, o uso das tecnologias digitais na educação para além da perspectiva meramente pedagógica. Ainda é possível participar de oficinas de técnicas de cuidados e projeção da voz, de utilização de origami na educação e de organização pessoal. Mais informações podem ser obtidas www.ufmg.br/giz/congresso.

 

 

Palavra de especialista
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 10/6/13)
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 10/6/13)

Alexandre Gobbo, instrutor de treinamento comportamental e professor de ciências com especialização em marketing educacional
 
O segredo é se conhecer

A maioria dos educadores busca seguir determinados padrões dentro de sala. Eu acredito que, se o professor encontrar técnicas pedagógicas adequadas a seu perfil, as aulas vão correr de maneira mais tranquila e motivadora. Um exemplo claro é o Pachecão, que sempre gostou de música e, por isso, conseguiu emplacar dar aulas inusitadas ao ensinar fórmulas de física por intermédio de jingles. Nem todo professor tem essa competência. Um professor que seja carismático e tenha facilidade de contar piadas pode usar a brincadeira para tornar a aula muito mais agradável. Se ele não tem esse talento, porém, vai se sentir mal, como se fosse um palhaço dentro de sala. Para aquele que não têm o domínio das técnicas de grupo, o melhor caminho seria trabalhar com as individualidades dos alunos. Neste sentido, acredito que o segredo está no autoconhecimento das potencialidades e em aprender a explorar isso como fator diferencial na sua aula.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)