Quando teve seu primeiro contato com o inglês, a professora Clara Emília Silva Pinto, de 31 anos, não gostava do idioma. Hoje, é declaradamente apaixonada pelo ensino da língua. E não só dá aulas em escolas especializadas, como está terminando o curso de letras com especialização nessa língua na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O que ocorreu entre a primeira impressão, que ela classifica como “traumática”, e a paixão pela língua? A chegada de uma professora, que transformou a matéria que ela menos gostava na profissão da sua vida.
Quando passou para o ensino médio, na Escola de Formação Gerencial do Sebrae, Pi (Maria Aparecida), professora de inglês, apareceu na vida de Clara. “Foi nas aulas dela que passei a gostar de inglês. Ela me fez achar que aquilo era bem legal.” O amor foi tão forte, que, aos 16 anos, Clara já dava aulas de inglês para as amigas. Nessa época, Pi levou para a escola o teste TOEIC, que mede a proficiência no idioma. “A professora me incentivou a fazer a prova”, lembra. Depois disso, Clara fez os cursos técnicos de administração e design gráfico e começou a dar aulas. “Aí, percebi que o meu negócio era dar aulas de inglês. Larguei tudo e investi na profissão.”
Como ocorreu com Clara, milhões de pessoas escolhem suas profissões por influência de um bom professor, mas nem sempre essa habilidade de produzir efeito nos alunos por meio do exemplo se dá via interferência direta. Muitas vezes, o determinante são a empatia com o mestre e admiração pelo seu jeito de ensinar. Quando terminou o curso de medicina na UFMG, Agnaldo Lopes da Silva, presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tinha como opção a cirurgia. Fez dois anos de residência em cirurgia geral e mais um ano em cirurgia do trauma. “Nunca havia pensado em fazer ginecologia, mas conheci um professor, o ginecologista Haroldo Camargos, e, por causa dele, dei uma guinada em minha vida”, lembra.
“Haroldo me mostrou que eu poderia atuar na ginecologia usando os ensinamentos da cirurgia geral. Por causa dele, mudei a minha especialidade e fui fazer outra residência médica”, diz Agnaldo. “Dr. Haroldo não me influenciou só na escolha da ginecologia, mas me levou a abraçar a vida acadêmica”, observa. Hoje, ele tenta inspirar seus alunos. “O professor acaba sendo referência ética e profissional e tem grande responsabilidade pelos alunos.”
Para Juliana Tauil, professora de história e supervisora de filosofia, sociologia, ética e habilidades de vida do Coleguium, a escolha da profissão partiu de um professor, Frederico, que lecionava história. “Toda vez que ele dava aula, eu ficava admirada. Estava na 7ª série e queria ser como ele dando aulas de história. Ele conseguia explicar como as coisas funcionavam.” Daí em diante, essa passou a ser a disciplina que ela mais estudava.
Ewerson Moraes, consultor financeiro e professor de custos, orçamento e análise de balanços, conta que a escolha de sua profissão foi influenciada por nada menos do que quatro professores. Depois de cursar o técnico de ciências contábeis, ele tentou vestibular para medicina 10 vezes, além de odontologia, psicologia, economia, administração e, finalmente, ciência contábeis. “Só aí passei. O que parecia uma escolha aleatória revelou-se meu destino profissional. Isso não estava programado.” Já no curso superior, Ewerson contou com a ajuda de uma professora, que despertou nele a consciência de que chão de fábrica e custos não eram matérias discrepantes e que era possível usar recursos da ciência contábil naquela área. “Hoje, sou consultor na área de gestão muito em função das conversas que tínhamos”, afirma. (ZF)