O Ministério da Educação (MEC) prepara mais uma forma de entrada para as universidades federais de todo o Brasil, abrindo expectativa para milhares de estudantes. A pasta anunciou a criação de um Sistema de Seleção Unificada (Sisu) exclusivo para as vagas ociosas dessas instituições. Previsto para o primeiro semestre do ano que vem, o processo deve abrir 114 mil vagas em cursos superiores em todo o país, se todas as federais aderirem. No entanto, parte delas já realiza processos internos para o preenchimento dessas vagas: as transferências e obtenções de novo título. Levantamento feito pelo Estado de Minas aponta pelo menos 2,5 mil cadeiras nas instituições mineiras. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) são 562 vagas; na Federal de Uberlândia (UFU), 1.203; na Federal de Lavras (Ufla), 600; e na Federal de Alfenas (Unifal), 172. Esse número pode ser maior, uma vez que há outras sete instituições federais no estado que não se manifestaram sobre o assunto.
As posições e os métodos de seleção podem mudar depois da conversa. Isso porque o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, adiantou que o novo Sisu será acompanhado de mudança no repasse de recursos para as universidades. “Queremos todas essas vagas preenchidas com um critério transparente, republicano e meritocrático de acesso. Para isso, vamos mudar o mecanismo de repasse de verba para as instituições federais. O MEC não repassará recurso por vaga, mas sim por matrícula efetivamente realizada”, afirmou. Por meio da assessoria de comunicação, a UFMG confirmou que as vagas ociosas representam perdas para os cofres públicos. “A universidade tem estrutura para manter um determinado número de alunos. Se atende menos, deixa de usar todos os recursos disponíveis.”
O reitor da Ufla, José Roberto Soares Scolforo, disse que o MEC considera o orçamento por estudante a partir do peso de cada área do conhecimento. Segundo ele, as perdas financeiras na institui;óes que coordena são menores, porque a maior parte das vagas está em áreas sociais e humanas, cujo peso é menor para o ministério. “Todavia, há um custo social nesse processo, já que a Ufla valoriza a formação de profissionais de licenciatura, ou seja, a formação de professores qualificados para atender à demanda crescente do país”, disse.
O reitor informou ainda que são implementadas ações de assistência estudantil para minimizar a evasão, problema comum entre as instituições superiores de ensino. “A instituição investe até três vezes os recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) em ações voltadas para alimentação, moradia, atendimento médico, odontológico, apoio psicológico e atividades culturais e esportivas”, disse. Para impedir que os estudantes abandonem os cursos, a universidade também investe em 1,5 mil bolsas.
Espaço vago até na medicina
Embora os cursos de licenciatura apareçam entre aqueles com maior índice de ociosidade, as carteiras vazias nas federais ocorrem até mesmo em graduações disputadas, como medicina. Desde que o curso de medicina foi implantado na UFV, em 2010, a média é de 25% de vagas ociosas a cada turma, que tem entrada anual. São ofertadas 50 cadeiras no início do ano. A UFJF enfrenta o mesmo problema com a turma de 2015 de medicina. Entraram 90 estudantes, mas 20 mudaram de instituição. “Nenhuma dessas vagas foi preenchida.Tivemos greve de três meses e meio. Voltamos no dia 26 de outubro e até então não foi divulgado nenhum edital para preenchimento”, diz a estudante do segundo período de medicina da UFJF Tainá Diana Rodrigues, de 23 anos.
A jovem considera que o mau remanejamento das vagas ociosas impede que muitos estudantes ingressem na universidade pública e também reduz a capacidade de formação dessas instituições. “É injusto, uma pessoa que tenta ingressar no curso de medicina há cinco anos poderia estar lá. Temos uma estrutura moderna, um prédio inaugurado em 2013, que poderia receber 90 alunos em uma sala, mas está recebendo apenas 70”, critica. Na avaliação da estudante, o problema de ociosidade de vagas ficou maior depois da implantação do Sisu. No caso do curso de medicina, muitos estudantes tentam uma vaga na UFMG, mas, como as duas entradas não são divulgadas no início do ano, se não estiverem na lista da primeira entrada tentam uma vaga no interior. No entanto, se o estudante se classifica para a segunda entrada, abandona o curso iniciado fora da capital.