O novo corte orçamentário anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) deixa a maior universidade pública do estado, a Federal de Minas Gerais (UFMG), na corda bamba. A Reitoria ainda não se pronuncia oficialmente sobre o assunto, mas, nas salas de aula de muitos cursos, o medo de falta de materiais ronda a comunidade universitária. Substituições e campanhas contra o desperdício de insumos essenciais ao aprendizado já foram anunciadas para garantir o andamento das atividades nos próximos meses, mas trabalhos de pesquisa já sentem prejuízos. Sem saber ainda qual será o orçamento disponível para o ano que vem e os valores a serem repassados para institutos, escolas e faculdades, professores e alunos dizem que, se não houver aporte financeiro urgente, o funcionamento de laboratórios e a qualidade de muitas aulas poderão ficar seriamente comprometidos.
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No Instituto de Ciências Biológicas (ICB), uma das principais instituições de pesquisa na área no Brasil e na América Latina, a situação é ainda mais crítica. Somente ele é responsável por quase metade das patentes registradas pela UFMG nos últimos anos.
Por ser tão grande e representativo, os recursos de custeio são insuficientes para a manutenção de toda a infraestrutura do instituto. Por isso, a UFMG sempre conseguiu suprir o déficit com recursos adicionais, segundo o vice-diretor do ICB, Carlos Augusto Rosa. Porém, este ano a situação já se mostra diferente. Como depende bastante dos repasses orçamentários feitos pela universidade, o ICB tem sentido com mais intensidade o efeito dos cortes.
CHOQUE professor relata que alguns itens de infraestrutura estão comprometidos, como o sistema de obtenção de água ultrapura. O professor explica que ele é essencial para a maioria das pesquisas da unidade, e está com a manutenção prejudicada. “Se não houver recursos, esse sistema deixará de funcionar. Outro que pode ser prejudicado é o serviço elétrico de linha azul, alternativo à energia gerada pela Cemig.
Se não houver melhora do quadro financeiro, também não está descartada a redução de insumos. Carlos Augusto Rosa teme ainda pela pesquisa. “A maioria das bolsas é fornecida por programas de fomento da UFMG. O ICB tem um grande número de bolsistas de iniciação científica, cujo trabalho e formação poderão ser comprometidos pela redução orçamentária. Sem dinheiro para comprar insumos e equipamentos, boa parte dos grupos de pesquisa poderá ter o desenvolvimento de projetos comprometido”, relata.
Há rumores de que as contas de água e luz do ICB não são pagas desde o fim do ano passado. O vice-diretor informou que os pagamentos são feitos diretamente pela UFMG e que, por isso, não poderia confirmar a informação. A universidade foi procurada para esclarecer os problemas relatados pela reportagem, mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que só se pronunciará sobre o corte orçamentário depois de reunião a ser marcada com o Conselho Universitário.
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