No segundo e último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não houve mais adiamentos, mas correria para chegar às 13h no local das provas. Os atrasos foram irrelevantes. O foco principal foi a redação, cujo tema – “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” – foi considerado difícil por alguns candidatos, mas previsível para professores. Entretanto, tentativas de fraude no principal exame do país mobilizaram a Polícia Federal em Minas e em outros sete estados.
De acordo com o delegado, a primeira operação teve origem numa investigação em Montes Claros com quatro prisões, quatro conduções coercitivas em que foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão durante as provas. Foram dadas buscas mais minuciosas em candidatos com fortes indícios de portar equipamentos eletrônicos. Além das 15 buscas, houve seis prisões em flagrante por uso de escutas eletrônicas. Os aparelhos são tão pequenos, segundo Perazzoni, que eram incapazes de serem vistos ou percebidos por detectores de metais. As escutas foram retiradas do ouvido dos candidatos com uma pinça contendo ímã na ponta.
Em Montes Claros, a operação ainda consistiu no cumprimento simultâneo de 28 mandados judiciais. “Os envolvidos nessas negociações criminosas já teriam, só em 2016, fraudado ao menos dois processos seletivos: o vestibular em Mineiros (GO) e o vestibular para o curso de medicina, em Vitória da Conquista (BA)”, informou a PF. O próximo passo do grupo criminoso, segundo a corporação, consistiria em fraudar o Enem, permitindo que candidatos pudessem ter acesso aos cursos superiores, mediante pagamento de “compra da vaga”, especialmente para o curso de medicina. Os suspeitos poderão responder pelos crimes contra a fé pública, o patrimônio, a paz pública, dentre outros delitos. Se condenados, as penas máximas aplicadas aos crimes ultrapassam 20 anos.
Reportagem do Fantástico, da TV Globo, mostrou que a quadrilha cobrava até R$ 180 mil por uma vaga. O esquema teria sido descoberto porque um dos envolvidos confessou o crime a um padre. O religioso o aconselhou a procurar à PF, que passou a acompanhar os passos do grupo. Segundo a PF, o chefe do esquema é Rodrigo Ferreira Viana, ex-estudante de medicina em Ipatinga. Ele contratava “pilotos”– professores e estudantes capazes de resolver as questões rapidamente. De uma sofisticada central telefônica montada em um hotel, a quadrilha era capaz de transmitir os gabaritos para todo o território nacional. Foram identificadas transmissões para cidades de Minas Gerais, Bahia e Ceará. Os “clientes” recebiam as informações por meio de um cartão eletrônico, escondido sob a roupa, que as enviava para um microponto no ouvido. Para a PF, pode ter havido falta ou falha de detectores de metal ou uso inadequado deles. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, não há risco para o Enem e a ação reforça a qualidade e a isenção do exame.
PROVAS Incidentes à parte, a prova Enem de ontem teve entre os temas Paul McCartney, Chico Buarque, e Aedes aegypti. Uma das questões citadas foi baseada na crônica Você pode não acreditar, do escritor Affonso Romano de Sant’Anna, publicada no Estado de Minas, em 5 de maio de 2013.
No câmpus Coração Eucarístico da PUC Minas em BH, Isabela Bitarães, de 27 anos, que tenta vaga para medicina, acreditava que a tragédia de Mariana seria o tema da redação. O tema intolerância religiosa pegou a estudante de surpresa. “Achei o tema difícil e inesperado. Tivemos três textos e um gráfico, mas todos demandavam a mesma ideia. Procurei outras informações para sustentar a redação”, afirmou.
Henrique Lomasso, de 22, aprovou. “Achei tranquilo, até por estarmos passando por um tempo de grande intolerância religiosa, o que torna a discussão importante. E também por participar de um grupo religioso, a umbanda, que infelizmente vive sofrendo preconceito de pessoas mais conservadoras”, disse o estudante.
SOLIDARIEDADE Poliana Wink, professora do Chromos Pré-Vestibular, acredita que a intolerância religiosa estava entre um dos assuntos já cotados pelos cursinhos. “Trabalhamos em sala de aula por causa das discussões dos últimos anos, como no caso do Estado Islâmico. Como o tema da redação está sempre relacionado ao Brasil, o candidato poderia discutir vários pontos sobre esse problema: a construção de consciência religiosa nas escolas, formas de a mídia abordar o assunto de maneira não preconceituosa, além da realização de cultos ecumênicos para mostrar que pode haver convivência harmônica entre os grupos”, disse a professora.
A chegada dos candiados ao câmpus Coração Eucarístico da PUC Minas foi com solidariedade. Um grupo de jovens distribuiu “abraços grátis” para relaxar os candidatos antes da maratona de provas. “Já fazemos essa ação há sete anos, mas sempre na UFMG. Como as provas foram adiadas lá, resolvemos vir para cá”, disse Luísa Roberta, de 26 anos’.
BALANÇO
Em coletiva à imprensa, a presidente do Inep, Maria Inês Fini, destacou que 5,8 milhões de estudantes realizaram a prova neste final de semana e que o índice de abstenção foi de 30%. Em 2015, a abstenção foi 27,6%. Ao todo, 768 candidatos foram eliminados, 641 por desobedecer regras gerais, como chegar atrasado; 120 barrados pelo detector de metal e sete por se negarem a fazer o registro biométrico. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, apesar das dificuldades enfrentadas este ano, 97% dos estudantes conseguiram realizar a prova. “Venceu a sensatez, venceu a capacidade de trabalho, e venceram os estudantes, que dependem do Enem para acessar as universidades”, disse. O gabarito das provas está previsto para sair até quarta-feira no site do no site do Inep (https://portal.inep.gov br/enem). O resultado final do Enem será em 19 de janeiro. O resultado
De acordo com o delegado, a primeira operação teve origem numa investigação em Montes Claros com quatro prisões, quatro conduções coercitivas em que foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão durante as provas. Foram dadas buscas mais minuciosas em candidatos com fortes indícios de portar equipamentos eletrônicos. Além das 15 buscas, houve seis prisões em flagrante por uso de escutas eletrônicas. Os aparelhos são tão pequenos, segundo Perazzoni, que eram incapazes de serem vistos ou percebidos por detectores de metais. As escutas foram retiradas do ouvido dos candidatos com uma pinça contendo ímã na ponta.
Em Montes Claros, a operação ainda consistiu no cumprimento simultâneo de 28 mandados judiciais. “Os envolvidos nessas negociações criminosas já teriam, só em 2016, fraudado ao menos dois processos seletivos: o vestibular em Mineiros (GO) e o vestibular para o curso de medicina, em Vitória da Conquista (BA)”, informou a PF. O próximo passo do grupo criminoso, segundo a corporação, consistiria em fraudar o Enem, permitindo que candidatos pudessem ter acesso aos cursos superiores, mediante pagamento de “compra da vaga”, especialmente para o curso de medicina. Os suspeitos poderão responder pelos crimes contra a fé pública, o patrimônio, a paz pública, dentre outros delitos. Se condenados, as penas máximas aplicadas aos crimes ultrapassam 20 anos.
Reportagem do Fantástico, da TV Globo, mostrou que a quadrilha cobrava até R$ 180 mil por uma vaga. O esquema teria sido descoberto porque um dos envolvidos confessou o crime a um padre. O religioso o aconselhou a procurar à PF, que passou a acompanhar os passos do grupo. Segundo a PF, o chefe do esquema é Rodrigo Ferreira Viana, ex-estudante de medicina em Ipatinga. Ele contratava “pilotos”– professores e estudantes capazes de resolver as questões rapidamente. De uma sofisticada central telefônica montada em um hotel, a quadrilha era capaz de transmitir os gabaritos para todo o território nacional. Foram identificadas transmissões para cidades de Minas Gerais, Bahia e Ceará. Os “clientes” recebiam as informações por meio de um cartão eletrônico, escondido sob a roupa, que as enviava para um microponto no ouvido. Para a PF, pode ter havido falta ou falha de detectores de metal ou uso inadequado deles. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, não há risco para o Enem e a ação reforça a qualidade e a isenção do exame.
PROVAS Incidentes à parte, a prova Enem de ontem teve entre os temas Paul McCartney, Chico Buarque, e Aedes aegypti. Uma das questões citadas foi baseada na crônica Você pode não acreditar, do escritor Affonso Romano de Sant’Anna, publicada no Estado de Minas, em 5 de maio de 2013.
No câmpus Coração Eucarístico da PUC Minas em BH, Isabela Bitarães, de 27 anos, que tenta vaga para medicina, acreditava que a tragédia de Mariana seria o tema da redação. O tema intolerância religiosa pegou a estudante de surpresa. “Achei o tema difícil e inesperado. Tivemos três textos e um gráfico, mas todos demandavam a mesma ideia. Procurei outras informações para sustentar a redação”, afirmou.
Henrique Lomasso, de 22, aprovou. “Achei tranquilo, até por estarmos passando por um tempo de grande intolerância religiosa, o que torna a discussão importante. E também por participar de um grupo religioso, a umbanda, que infelizmente vive sofrendo preconceito de pessoas mais conservadoras”, disse o estudante.
SOLIDARIEDADE Poliana Wink, professora do Chromos Pré-Vestibular, acredita que a intolerância religiosa estava entre um dos assuntos já cotados pelos cursinhos. “Trabalhamos em sala de aula por causa das discussões dos últimos anos, como no caso do Estado Islâmico. Como o tema da redação está sempre relacionado ao Brasil, o candidato poderia discutir vários pontos sobre esse problema: a construção de consciência religiosa nas escolas, formas de a mídia abordar o assunto de maneira não preconceituosa, além da realização de cultos ecumênicos para mostrar que pode haver convivência harmônica entre os grupos”, disse a professora.
A chegada dos candiados ao câmpus Coração Eucarístico da PUC Minas foi com solidariedade. Um grupo de jovens distribuiu “abraços grátis” para relaxar os candidatos antes da maratona de provas. “Já fazemos essa ação há sete anos, mas sempre na UFMG. Como as provas foram adiadas lá, resolvemos vir para cá”, disse Luísa Roberta, de 26 anos’.
BALANÇO
Em coletiva à imprensa, a presidente do Inep, Maria Inês Fini, destacou que 5,8 milhões de estudantes realizaram a prova neste final de semana e que o índice de abstenção foi de 30%. Em 2015, a abstenção foi 27,6%. Ao todo, 768 candidatos foram eliminados, 641 por desobedecer regras gerais, como chegar atrasado; 120 barrados pelo detector de metal e sete por se negarem a fazer o registro biométrico. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, apesar das dificuldades enfrentadas este ano, 97% dos estudantes conseguiram realizar a prova. “Venceu a sensatez, venceu a capacidade de trabalho, e venceram os estudantes, que dependem do Enem para acessar as universidades”, disse. O gabarito das provas está previsto para sair até quarta-feira no site do no site do Inep (https://portal.inep.gov br/enem). O resultado final do Enem será em 19 de janeiro. O resultado