Jornal Estado de Minas

Frequência escolar despenca entre os ensinos fundamental e superior em MG

- Foto: Arte/EMNos nove primeiros anos da vida escolar, acesso praticamente universal às salas de aula. Mas passado o ensino fundamental, onde a frequência das crianças mineiras é a segunda maior do Brasil, abrangendo 98,6% da faixa etária de 6 a 14 anos, os estudantes de Minas Gerais começam a debandar.

Entre os que abandonam definitivamente ou por algum tempo os estudos, o retrato da frequência mineira às salas de aula despenca para a 8ª colocação nacional no ensino médio (15 a 17 anos) e para a 12ª no superior (18 a 24 anos), com índices de frequência de 61% e 19,8%, respectivamente.

Esse é o preocupante retrato da formação dos jovens no estado mostrado na Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2015 e de outros levantamentos. A pesquisa aponta também que Minas Gerais é um estado que padece com a informalidade, falta de saneamento, urbanização e excesso de violência.

Gargalo do ensino nacional e detentor dos mais altos índices de evasão e reprovação do país, o ensino médio tem sido alvo de discussões e polêmicas para sua remodelação, que culminaram com o Plano Federal de Educação, uma proposta que gerou protestos e ocupações de escolas e universidades em todo o país. Entre as medidas impopulares dessa proposta estão o fim da obrigatoriedade de matérias como educação física, artes, religião e filosofia e também uma ampliação gradual da carga horária de 800 horas anuais para 1.400.

A proposta aguarda apreciação do Congresso Nacional. Para a pedagoga com mestrado em educação Jane Patrícia Haddad, a forma como ocorre a transição do ensino fundamental para o médio propicia esse abandono.
“A mudança representa também a saída da educação municipal para a estadual, que é um grande gargalo, pois as escolas municipais investem mais em estrutura e em formação do professor. Os jovens também acabam por enfrentar a necessidade de ter um emprego, ainda que um subemprego, e isso muitas vezes os tira da escola”, afirma a especialista.

A pedagoga concorda que mudanças no ensino médio precisam ser feitas, mas não apoia o projeto do governo federal. “O atual ensino não atende à juventude. Temos percebido que quando os jovens atingem os 18 anos tendem a eliminar o ensino médio, por ser uma educação que não está fazendo sentido. Teria de passar por reformulação estrutural e não apenas curricular. Temos de escutar esses jovens e trabalhar num conceito de mobilização cultural”, disse.


A pesquisa do IBGE é relativa à frequência líquida dos alunos, que busca saber se a pessoa entrevistada frequenta a escola no nível que deveria pela idade.
Já a frequência bruta avalia apenas se a pessoa está ou não na escola. Nesse quesito, também, Minas está abaixo do Brasil (26,8%) com 25,2%”, aponta a analista do IBGE, Luciene Longo. Essa taxa é maior entre a população de 6 a 10 anos, onde a cobertura mineira (99,2%) é melhor que a nacional (98,9%). Já a taxa de frequência líquida – dentro da idade esperada para o ensino – dessa população, cuja faixa etária condiz com os anos iniciais do ensino fundamental, era de 91,4% no Brasil e 95,3% em MG.

Urbanização abaixo da média brasileira
Um estado que ainda carece de investimentos em urbanização e de grande informalidade. Esse é o retrato de Minas Gerais, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE, baseada em dados de 2015. A taxa de urbanização do estado é de 84%, sendo inferior à do Sudeste brasileiro, de 93,1%, e abaixo da média nacional, de 84,7%. “Diferentemente de lugares menores e de intensa concentração urbana, como o Rio de Janeiro e São Paulo, Minas Gerais é mais extenso e tem grandes áreas rurais”, destaca a analista do IBGE Luciene Longo.


A informalidade no mercado de trabalho atinge 41,1% dos mineiros de 16 anos ou mais ocupados, um índice superior a todos os demais estados do Sudeste, sendo que no Espírito Santo esse total é de 38,2%, no Rio de Janeiro chega a 32,9% e em São Paulo não passa de 27,6%. A informalidade mineira, no entanto, ainda fica um pouco abaixo da média brasileira, que é de 41,9%.

Em relação aos três serviços básicos de saneamento, que são o abastecimento de água por rede geral, o esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial e a coleta de lixo, a cobertura de municípios mineiros chega a 77,6% dos domicílios, um número que supera a média nacional, de 63%. Contudo, a situação é extrema nas áreas rurais mineiras, onde apenas 10% dispõem de água encanada, esgoto e coleta de lixo ao mesmo tempo. Minas Gerais tem ainda o pior índice do Sudeste quanto a crianças de 0 a 14 anos sem nenhum dos três serviços básicos de saneamento, com 8,7% desse total, contra a média de 3,1% da região.

A pesquisa também trouxe um retrato mais atual do mineiro e de sua família – uma vez que 91,8% da população do estado nasceu em Minas – em relação aos brasileiros. A taxa de fecundidade total das mulheres em Minas Gerais se mostrou menor do que no Brasil, com as mineiras gerando em média 1,59 filho, ao passo que no Brasil a média é de 1,72 filho. A gravidez na adolescência (15 a 19 anos) também ficou menor no estado (47 filhos por mil mulheres) em comparação com a média brasileira (59,4).

Em relação à mortalidade infantil, Minas Gerais apresenta uma taxa inferior à média nacional, com 11,4 óbitos por mil nascidos vivos contra 13,8. A esperança de vida ao nascer do mineiro chega a 77 anos, também superior à média do brasileiro, de 75,4 anos.
A violência é destaque negativo. No Brasil, entre as pessoas de 18 anos ou mais, 3,1% relataram que sofreram alguma violência ou agressão cometida por bandido, ladrão ou assaltante, índice superado em Minas, chegando a 3,7%. No caso de agressores conhecidos, como parentes, vizinhos ou amigos, o Brasil apresenta 2,4% de ocorrência e Minas 3,6%, o maior percentual do Sudeste brasileiro..