O predomínio de alunos de escolas particulares nos cursos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durou até o ano passado, já que pela primeira vez desde que o levantamento do perfil dos matriculados é divulgado os estudantes oriundos do ensino público foram os mais numerosos. Em 2016, foram 3.207 (54,51%) matrículas de alunos de escolas públicas, contra 2.461 (41,83%) dos de instituições privadas e 198 (3,37%) que frequentaram as duas modalidades de ensino.
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Invasão e prejuízo em bandejão da UFMGBandejão da UFMG é invadido e atendimento é suspenso até segunda-feiraApós confronto em manifestação, reitoria da UFMG diz que 'PM é despreparada'Vídeo mostra PMs disparando balas de borracha em confronto com manifestantes na UFMGMoradores da Grande BH ocupam menos vagas na UFMG do que população do interiorEssa abertura permitida pelos programas afirmativos criou oportunidades para estudantes que de outras formas não teriam condições de estudar na UFMG. É o caso da comunicóloga Jaiane Souza, de 22 anos, que mora em Sabará (Grande BH) e agora cursa o 1º período de letras. Ela ingressou na UFMG por meio das cotas raciais, depois de se formar em uma faculdade particular.
Ela conta que entrou na modalidade 1 do Sisu – para pessoas negras, que estudaram em escolas públicas e com renda familiar bruta por pessoa menor que 1,5 salário mínimo. “Acho muito importante a existência do sistema de aprovação por reserva de vagas a cotistas, porque, se não fosse assim, eu não teria chances de entrar na UFMG pela ampla concorrência que existia com o vestibular. A escola pública geralmente não oferece base suficiente e isso me prejudicaria”, disse a jovem.
A locomoção é a maior dificuldade da jovem, que vive na região metropolitana, e é comum a colegas que conseguiram ingressar pelas cotas e que muitas vezes vêm de periferias afastadas do Centro de BH ou de outras cidades. “Como estudo à noite, saio da aula às 22h30 e chego em casa pouco depois da meia-noite. E isso é péssimo, porque gasto muito tempo que poderia usar pra fazer um trabalho ou estudar”, disse.
Moradia
Já Lucas Alves, de 21, saiu de Curvelo (Região Central), a cerca de 200 quilômetros da capital mineira, para se dedicar ao 4º período de odontologia da UFMG. O jovem optou por viver em uma das moradias da federal, por praticidade, economia e proximidade com a universidade. “Sempre quis passar na UFMG”, disse. Ele explica que na sua cidade não há faculdades federais, apenas particulares. “Fiz Cefet, que é uma escola pública muito boa. Foi ela que me ajudou a me preparar bem para as provas”, afirma.
Com a maior quantidade de alunos do ensino público, o perfil econômico também sofreu mudanças e 53% dos matriculados estão na categoria de renda familiar abaixo de cinco salários mínimos.