A proximidade com o câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) não se traduz num maior volume de matrículas dos estudantes dos 33 municípios que cercam a capital mineira. De acordo com o relatório “Análise do perfil do aluno matriculado na UFMG: Vestibular 2012 ao Sisu 2016”, a quantidade de alunos originários de cidades da Grande BH sempre foi inferior à daqueles que nasceram no interior mineiro e até em outros estados.
As razões para isso são a falta de qualidade no ensino dessas cidades e a dificuldade de transporte entre BH e as cidades que circundam a capital mineira. Neste ano, por exemplo, apenas 400 (6,8%) alunos nasceram numa das cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O total é menor do que os matriculados que vieram do interior do estado de Minas Gerais e que somaram 1.402, e inferior até ao número dos que vieram de outras unidades da Federação e que chegaram a 719 (12,22%). A capital mineira ainda responde por mais da metade dos estudantes da UFMG, com 3.336 matriculados, índice de 56,71%.
O estudante de teatro Thiago Rosado, de 25 anos, sentiu grande dificuldade quando se mudou de Inhapim, no Vale do Rio Doce, para Betim, e depois para Contagem, na RMBH, para estudar, trabalhar e morar com a mãe. “Primeiro me mudei pra Betim e depois de algum tempo para Contagem. Escolhi a UFMG por ser a única universidade que oferta o meu curso”, conta.
Com o aprendizado de escola pública toda vida, o estudante passou por instituições em Inhapim e São Domingos das Dores, também no Vale do Rio Doce, e Betim. “O ensino era ótimo. Recentemente, vi uma notícia de que a escola onde estudei em São Domingos das Dores foi classificada entre as 10 melhores do Brasil. Os professores eram excelentes e a infraestrutura também. Em Betim, senti o ensino um pouco aquém se comparado com as escolas anteriores. Talvez eu também tenha dificuldades por estar em uma turma nova”, disse.
“Pelo que eu vivi, posso dizer que grande parte da população oriunda do interior vê na universidade a única forma de ascensão financeira. No interior, a mão de obra predominante está na agricultura, e os trabalhos em geral exigem muito esforço físico, com salários relativamente baixos. Quando eu estudava no interior, a conversa entre mim e meus amigos era de sair de lá e tentar uma vida melhor em alguma cidade maior, como BH, Juiz de Fora, Ipatinga”, concluiu Thiago.
DEDICAÇÃO
Luana Moreira Fonseca, de 22, também deixou a vida interiorana para cursar nutrição. Ela saiu de Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, há 3 anos. A estudante conta que, apesar de haver outras faculdades mais próximas, como a Universidade Federal de Alfenas e a Universidade Federal de Lavras, seu foco foi a UFMG por causa da qualidade do ensino. “Passei em outros vestibulares, mas preferi optar por BH. É uma faculdade muito renomada”, disse.
Ela avalia que o ensino na escola onde concluiu o ensino médio é muito ruim e que só conquistou a vaga se dedicando muito. “A escola de Divinópolis é muito ruim. O que me ajudou foi conseguir uma vaga em um cursinho, que foi uma parceria da prefeitura da cidade com um colégio particular. Também estudei muito sozinha”, afirma a jovem. Ela conta que é muito comum entre seus amigos deixar a cidade natal e se mudar para a capital.
As desvantagens dos vizinhos
O professor adjunto de geografia e diretor de pesquisa do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), doutorando em análise ambiental na UFMG, Paulo Eduardo Borges, vê duas formas principais de avaliar a maior penetração dos alunos do interior e de outros estados na instituição em relação aos estudantes da Grande BH.
O primeiro aspecto é a facilidade de acesso trazida por ações como o Reuni, programa do governo federal de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades, e os investimentos da instituição em moradias estudantis, que facilitaram a permanência dos alunos do interior e de outros estados em BH.
“Essas condições aumentaram a possibilidade de alunos de fora do estado e do interior ingressarem na UFMG. Entram com um sistema nacional – as notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, o que facilita a possibilidade de virem de fora. E isso vai além de uma crítica aos pontos positivos e negativos desses programas, é apenas a avaliação de que foram fundamentais para receber os alunos de fora da Grande BH”, afirma.
VAGAS As boas moradias universitárias também auxiliam na vinda de mais interessados de fora da Grande BH e hoje garantem 632 vagas em dois edifícios na Região da Pampulha – um terceiro está sendo construído –, próximos ao câmpus da universidade. “São apartamentos espaçosos e muito perto da instituição. A melhora do acesso à renda nos últimos anos facilitou o investimento de quem vem para BH, ao passo que para as pessoas da Grande BH morar na capital pode não ser uma vantagem”, avalia.
O segundo ponto seria a condição estrutural dos alunos. “A migração pendular diária desgastante, longa e num sistema de transportes ruim faz com que muitos potenciais candidatos da Grande BH nem sequer tentem uma vaga na UFMG. Uma pessoa de Confins, Baldim ou Pedro Leopoldo, por exemplo, pode preferir cursar o Instituto Federal de Sete Lagoas, onde pode chegar em 20 minutos de viagem”, compara o professor de geografia do IFMG.
“Até para o acesso a bolsas e auxílios, os alunos da Grande BH perdem, porque uma pessoa pobre, advinda do ensino público e apta ao sistema de cotas perderia na avaliação da Fundação Mendes Pimentel quando comparada a um candidato em mesmas condições que mora mais longe, porque a distância em quilômetros de BH conta como fator de qualificação”. Outro ponto importante, na análise do especialista, é a qualidade do ensino. “Os alunos do interior e de outros estados estão chegando mais bem preparados do que os estudantes da Grande BH”, afirma.
As razões para isso são a falta de qualidade no ensino dessas cidades e a dificuldade de transporte entre BH e as cidades que circundam a capital mineira. Neste ano, por exemplo, apenas 400 (6,8%) alunos nasceram numa das cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O total é menor do que os matriculados que vieram do interior do estado de Minas Gerais e que somaram 1.402, e inferior até ao número dos que vieram de outras unidades da Federação e que chegaram a 719 (12,22%). A capital mineira ainda responde por mais da metade dos estudantes da UFMG, com 3.336 matriculados, índice de 56,71%.
O estudante de teatro Thiago Rosado, de 25 anos, sentiu grande dificuldade quando se mudou de Inhapim, no Vale do Rio Doce, para Betim, e depois para Contagem, na RMBH, para estudar, trabalhar e morar com a mãe. “Primeiro me mudei pra Betim e depois de algum tempo para Contagem. Escolhi a UFMG por ser a única universidade que oferta o meu curso”, conta.
Com o aprendizado de escola pública toda vida, o estudante passou por instituições em Inhapim e São Domingos das Dores, também no Vale do Rio Doce, e Betim. “O ensino era ótimo. Recentemente, vi uma notícia de que a escola onde estudei em São Domingos das Dores foi classificada entre as 10 melhores do Brasil. Os professores eram excelentes e a infraestrutura também. Em Betim, senti o ensino um pouco aquém se comparado com as escolas anteriores. Talvez eu também tenha dificuldades por estar em uma turma nova”, disse.
“Pelo que eu vivi, posso dizer que grande parte da população oriunda do interior vê na universidade a única forma de ascensão financeira. No interior, a mão de obra predominante está na agricultura, e os trabalhos em geral exigem muito esforço físico, com salários relativamente baixos. Quando eu estudava no interior, a conversa entre mim e meus amigos era de sair de lá e tentar uma vida melhor em alguma cidade maior, como BH, Juiz de Fora, Ipatinga”, concluiu Thiago.
DEDICAÇÃO
Luana Moreira Fonseca, de 22, também deixou a vida interiorana para cursar nutrição. Ela saiu de Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, há 3 anos. A estudante conta que, apesar de haver outras faculdades mais próximas, como a Universidade Federal de Alfenas e a Universidade Federal de Lavras, seu foco foi a UFMG por causa da qualidade do ensino. “Passei em outros vestibulares, mas preferi optar por BH. É uma faculdade muito renomada”, disse.
Ela avalia que o ensino na escola onde concluiu o ensino médio é muito ruim e que só conquistou a vaga se dedicando muito. “A escola de Divinópolis é muito ruim. O que me ajudou foi conseguir uma vaga em um cursinho, que foi uma parceria da prefeitura da cidade com um colégio particular. Também estudei muito sozinha”, afirma a jovem. Ela conta que é muito comum entre seus amigos deixar a cidade natal e se mudar para a capital.
As desvantagens dos vizinhos
O professor adjunto de geografia e diretor de pesquisa do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), doutorando em análise ambiental na UFMG, Paulo Eduardo Borges, vê duas formas principais de avaliar a maior penetração dos alunos do interior e de outros estados na instituição em relação aos estudantes da Grande BH.
O primeiro aspecto é a facilidade de acesso trazida por ações como o Reuni, programa do governo federal de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades, e os investimentos da instituição em moradias estudantis, que facilitaram a permanência dos alunos do interior e de outros estados em BH.
“Essas condições aumentaram a possibilidade de alunos de fora do estado e do interior ingressarem na UFMG. Entram com um sistema nacional – as notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, o que facilita a possibilidade de virem de fora. E isso vai além de uma crítica aos pontos positivos e negativos desses programas, é apenas a avaliação de que foram fundamentais para receber os alunos de fora da Grande BH”, afirma.
VAGAS As boas moradias universitárias também auxiliam na vinda de mais interessados de fora da Grande BH e hoje garantem 632 vagas em dois edifícios na Região da Pampulha – um terceiro está sendo construído –, próximos ao câmpus da universidade. “São apartamentos espaçosos e muito perto da instituição. A melhora do acesso à renda nos últimos anos facilitou o investimento de quem vem para BH, ao passo que para as pessoas da Grande BH morar na capital pode não ser uma vantagem”, avalia.
O segundo ponto seria a condição estrutural dos alunos. “A migração pendular diária desgastante, longa e num sistema de transportes ruim faz com que muitos potenciais candidatos da Grande BH nem sequer tentem uma vaga na UFMG. Uma pessoa de Confins, Baldim ou Pedro Leopoldo, por exemplo, pode preferir cursar o Instituto Federal de Sete Lagoas, onde pode chegar em 20 minutos de viagem”, compara o professor de geografia do IFMG.
“Até para o acesso a bolsas e auxílios, os alunos da Grande BH perdem, porque uma pessoa pobre, advinda do ensino público e apta ao sistema de cotas perderia na avaliação da Fundação Mendes Pimentel quando comparada a um candidato em mesmas condições que mora mais longe, porque a distância em quilômetros de BH conta como fator de qualificação”. Outro ponto importante, na análise do especialista, é a qualidade do ensino. “Os alunos do interior e de outros estados estão chegando mais bem preparados do que os estudantes da Grande BH”, afirma.