Ler. Ler muito. Fazer redações à exaustão, sem preguiça, usando vocabulário amplo, os conectivos certos e frases que façam sentido. Prestar atenção aos assuntos da atualidade, usar e abusar das diversas áreas do conhecimento, acertando nas palavras para fazer conexão entre cada uma delas. Não se esquecer de uma proposta de intervenção plausível na conclusão. Esse é o dever de casa do ano inteiro. Na hora H da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a receita é juntar essa gama de aprendizado, pôr a mão para funcionar e deixar as ideias fluírem. Quem mais entende do assunto – alunos que tiraram nota mil na última edição do exame ou estiveram bem próximos disso – mostram os segredos para redigir um texto de excelência na avaliação mais importante do país.
Não tem jeito. É ela o fiel da balança do Enem, sendo sua nota o primeiro critério de desempate na disputa por uma vaga na universidade. Os resultados da última prova, divulgados esta semana, mostram uma edição com título de pior desempenho dos participantes. A produção de texto não ficou atrás desse destaque negativo e seguiu a tendência das provas objetivas, tanto que apenas 77 pessoas, entre 6,1 milhões que fizeram a prova (0,001% do total), tiraram a nota máxima: 1.000. É o menor número desde 2013, quando a redação ficou mais rigorosa e aumentou sua carga de importância na avaliação. Nesse seleto grupo, uma mineira de Governador Valadares, na Região Leste do estado, tem na ponta da língua os caminhos para uma redação sem erros.
“É muita leitura e prestar muita atenção na atualidade, algo muito cobrado no Enem. No cursinho, aprendemos ainda a pôr, no mínimo, uma área do conhecimento em cada parágrafo, e eu tive a sensibilidade de colocar mais de uma, conectando um tema ao outro”, afirma a aluna do pré-vestibular Fibonacci Samanta Ferreira, de 22 anos, candidata a uma vaga em medicina. Para tirar a nota máxima, a jovem não poupou esforços. Fazia as redações semanais exigidas pelo professor, além da produção de texto cobrada nos simulados, aplicados também semanalmente. Outra dica de Samanta é prestar atenção ao comando do tema.
A estudante diz que mal acreditou quando leu o tema da redação, no dia da prova: ela o havia trabalhado na primeira redação que fez no ano. “Às vésperas do Enem, selecionei algumas redações para ler e essa eu ia deixar de lado, porque, como tinha sido a primeira, achava quase impossível cair. Mas peguei e revi. Quando vi o tema me lembrei da atualidade que usei. Também havia tirado mil nela.”
Os temas das redações do Enem foram “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, nos dias 5 e 6 de novembro, quando a maior parte dos candidatos fez a prova; e “Caminhos para combater o racismo no Brasil”, nos dias 3 e 4 de dezembro. O segundo exame foi aplicado a alguns alunos por causa das ocupações de escolas e universidades por grupos contrários ao estabelecimento de teto de gastos públicos proposto pelo governo federal.
Na entrevista coletiva para a divulgação dos resultados, a secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, disse que o desempenho na redação está também ligado ao desempenho em linguagens. Na edição de 2016, ela registrou a menor nota mínima (287,5) e a menor nota máxima (846,4). Maria Helena considera que há um desempenho mais insuficiente em linguagens do que nas outras áreas, o que reforça o que as avaliações nacionais já indicam. “A enorme dificuldade de leitura e escrita dos nossos alunos”, disse.
Não perca o prazo
Inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu)
Quando: De terça até as 23h59 de sexta-feira
Onde: Somente pela internet (sisu.mec.gov.br)
Como funciona:
» Serão ofertadas 238.397 vagas em 131 instituições, entre universidades federais, institutos federais de educação, ciência e tecnologia e instituições estaduais.
» Cada candidato pode fazer até duas opções de curso.
» A inscrição está restrita aos estudantes que tenham participado do Enem de 2016 e que não tenham tirado zero na redação.
» Na UFMG, as vagas para a graduação são ofertadas em seleção única do Sisu. Assim, até mesmo os estudantes que vão ingressar no segundo período letivo deste ano devem se inscrever nesta primeira edição do Sisu.