Começa em 5 de novembro a avaliação mais importante do país e, na reta final, professores e alunos mostram que vale tudo. Em salas de aula virtuais de cursos on-line voltados para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), estudantes de todo o Brasil trocam experiências, tiram dúvidas, ensinam uns aos outros e, assim, aprendem e fixam conteúdos. Professores, por sua vez, apostam as últimas fichas na preparação dos estudantes, extrapolando a maneira convencional de ensinar: tem gente fazendo tatuagem e até saltando de paraquedas para explicar conteúdos. Aulões na internet, cheios de estratégias para ajudar quem vai entrar na disputa por uma vaga em universidade federal, prometem agitar ainda mais esses últimos momentos que antecedem as provas.
O Ministério da Educação (MEC) mudou, este ano, o cronograma de aplicação do exame. Até o ano passado, ele era feito num único fim de semana. A partir de agora, vai ocorrer durante dois domingos. A edição deste ano teve 7.603.290 inscritos, superando a expectativa do Ministério da Educação (MEC), de 7,5 milhões de inscrições. Do total, 660.797 são de Minas Gerais, o segundo estado com o maior número de participantes, atrás apenas de São Paulo (1.045.445). E um batalhão de candidatos tem adotado a internet como chave de estudo. Está tudo lá, na tela do computador. Até o professor. O aluno pode se programar para estudar nos horários mais convenientes ou seguir ao vivo, como numa verdadeira sala de aula.
No Descomplica, o conceito é o de que aprender pode ser divertido, simples e fácil. A ordem é seduzir os estudantes. Nos dois dias que antecedem as provas, dois aulões vão sacudir a rede mundial de computadores, das 9h às 21h. Ano passado, 1,2 milhão de pessoas assistiram e, este ano, a expectativa é chegar na casa dos 2 milhões. Serão aulas dramatizadas, com brincadeiras para quebrar o clima de ansiedade e nervosismo da véspera e, ao mesmo tempo, ensinar. Elas serão transmitidas ao vivo, mas haverá inserções de materiais gravados em estúdio. Em geografia, por exemplo, o professor Cláudio Hansen fez um tutorial sobre maquiagem ao mesmo tempo em que fala de Guerra Fria. Para uma a prova mais importante do Enem, a de redação, Eduardo Valladares gravou com um colega o desafio do Smooth Chalenge: uma pessoa aponta o lado positivo de algo e outra, o negativo, diante de um liquidificador e vários ingredientes para preparar uma bebida peculiar. Quem perde deve tomar uma “gororoba”. “Ensino o modelo certinho de redação, com planejamento de texto e como construí-la. O outro colega fará um texto sem nada disso. Em frente a dois liquidificadores e 22 produtos, faremos analogia a tudo”, conta.
Tatuagem
Para a aula de física, o professor saltou de paraquedas para explicar queda livre e, em biologia, o professor fará, ao vivo, uma tatuagem de mitocôndria enquanto explica o processo de respiração celular. “Nosso objetivo é que o aluno aprenda de jeito diferente e divertido”, afirma Valladares. A programação dos aulões mescla conteúdos; debates de no máximo 40 minutos que abordarão temas como alimentação saudável e saúde mental (ansiedade, depressão e suicídio); discussão de temas de redação; e comerciais sobre o que não se pode deixar de fazer na hora da produção de texto, entre outras estratégias. Um dos convidados, por exemplo, é um treinador de meditação e saúde mental, que dará dicas de véspera do que se pode fazer para se sentir mais relaxado. “É um tempo longo, mas às 21h o aluno não estará cansado. Queremos deixá-lo descontraído, leve e preparado para fazer a prova no dia seguinte.”
Outra inovação é referente a algo que vem dos primórdios: estudar em grupos. Só que, na era digital, via rede social. Os Facegrupos de cada disciplina, acompanhados e orientados pelo Descomplica, estão no ar desde o fim de setembro. A expectativa era atingir a marca de 100 mil participantes, número que foi ultrapassado. “Nessas comunidades, que são abertas a qualquer estudante e não apenas a quem é assinante da plataforma, os alunos trocam experiências, tiram dúvidas e exercícios e monitores ajudam postando vídeos sobre temas de redação e resoluções de questões”, afirma.
Para a reta final, Eduardo Valladares indica algumas tarefas. A primeira é pegar provas anteriores e decodificar como são feitas. “Em português, por exemplo, que textos caem? Já houve charges, textos informativos e até receita de comida. Então, é entender como eles são elaborados”, diz. O segundo é simular as provas: “O ideal é se trancar no quarto e fazer o teste do jeito que ele é aplicado. Pegue a prova anterior, simulado de um cursinho ou colégio, para entender o que a banca quer e treinar ritmo e velocidade. Minha experiência de professor mostra que muitos alunos sabem a matéria, mas não foram treinados para a competição que é o Enem”. Por fim, fazer muita redação, de duas a três por semana.